São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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TELEVISÃO
A volta da Mulher-Traço

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Pelo jeito, aquela mulher quer se reconciliar com o Ibope, dando um fim a todo esse tempo em que era conhecida e reconhecida como a Mulher-Traço. Apareceu, repentina, na madrugada do SBT, depois de todo aquele fuzuê dos domingos, entrevistando a Hebe Camargo.
O programa tem nome de trombada. Chama-se "De Frente com Gabi". Por que, então, a Hebe? Além de estrela da casa, a Hebe aniversariava no que passou a ser chamado de Dia Internacional da Mulher, comunicando a seus fãs que, do alto daqueles diamantes, 69 anos os contemplavam.
Assim como a aniversariante preferiu aparecer com a cara de mulher simples que enfrenta iluminação de foto 3 x 4, Gabi (essa intimidade parece um pouco constrangedora) mostrou que abandonou aquele tom que tanto caracterizou muitos anos de inquisições. Não é mais aquela dentista à procura de um nervo exposto. Adotou o tom de quem só tem amigos.
"Hebe é a mulher mais sincera, copiada, etc". Só esqueceu de dizer que também era dona do espaço mais cobiçado por todas as louras da televisão. "Acabei de renovar com o Silvio por mais três anos", disse Hebe alguns minutos depois. Gente da casa sabe dessas coisas. "Você já disse que só tem o curso primário..." "Com diploma." "E conseguiu tanta coisa." Hebe adora salto alto.
Está pronta para tudo. "Tenho tanta inveja de você, que fala inglês, e do Jô, que fala francês, espanhol, alemão. Você também fala francês, não?" "Un petit peu", sorri Gabi, com um sotaque adequado a seu novo endereço. Quando disseram que era combativa, Hebe falou do Sérgio Naya. Quando comentaram sua alegria, disse que amava a vida. Hebe, a de sempre. Gabi, agora Gabi.
Na noite seguinte, Hebe reassumiu seu verdadeiro visual para dominar a semana que iria ser sua. Salto alto, um topete de destroçar de inveja o nunca mais presidente Itamar e, no pescoço, uma estrela nunca cadente com uma cauda de cometa contente, tudo com muito brilho. As estrelas, numa exceção, estavam solidárias.
O auditório não se interessou pelo Júnior nem pelo Carlos Alberto Torres. Pelo menos na sonorização, adorou o telefonema excitado da Xuxa e explodiu com o Paulo Ricardo e outros rapazes cantantes ou não. Quase todos vestidos de Nelson Motta, esquecendo que o dele é diferente. É Prada-Pascolato. Também com contrato renovado. Para sempre.



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