|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Retrospectiva do escultor segue para o Jewish Museum de NY, em junho, e para Miami em dezembro
George Segal exibe "magia do cotidiano"
do USA Today
George Segal é um homem pensativo que demora muito a responder uma pergunta. Ele leva a mão à
boca, inclina a cabeça e olha ao
longe pelo que parece ser uma
eternidade. Pode-se quase ouvir
sua cuidadosa resposta se formando em seu cérebro.
É mais rápido simplesmente
olhar o trabalho de Segal a fim de
descobrir o que ele está pensando,
e por mais de 40 anos foi exatamente isso que fizeram os norte-americanos. Suas esculturas de gesso branco sobre pessoas cuidando
do que ele chama de "a magia do
cotidiano" tornaram-se trabalhos
básicos da arte moderna: o homem solitário sentado ao balcão
de almoço; um viajante solitário
no metrô indo para casa; os cinco
homens numa fila de pão na era da
Grande Depressão.
²Em Washington, uma retrospectiva com 62 peças cobrindo
quatro décadas do trabalho de Segal ocupa o Hirshhorn Museum
and Sculpture Garden da Smithsonian Institution.
²Primeira retrospectiva de Segal nos Estados Unidos em 20
anos, a mostra depois segue para o
Jewish Museum de Nova York (14
de junho) e para o Museu de Arte
de Miami (17 de dezembro).
²Vestindo jeans e tênis, Segal
vagueia por sua exposição como se
fosse apenas um dos trabalhadores da equipe de instalação.
²Alguns dizem que sua força
como artista vem sendo o fato de
que ele nunca perdeu a ligação
com o homem comum. Ele é uma
companhia agradável, rindo com
facilidade e repetidamente; tocando o braço de um desconhecido
durante uma conversa.
²"Sempre acreditei na validade
da vida cotidiana", diz. "Estive
sempre convencido de que a matéria e o espírito não podem ser separados, e o mesmo vale para o visível e o invisível. Alguns descartam a vida
cotidiana como banal e de baixa
espiritualidade, mas eu nunca
acreditei nisso."
²Segal, famoso por envolver
seus modelos em camadas finas de
algodão embebidas em gesso para
criar moldes ocos de escultura,
descobriu muito cedo que, ao envolver o corpo físico, capturava o
espírito de uma pessoa, igualmente.
²"O que ainda me espanta é
que os atributos internos de um
modelo se
destaquem", diz. "Não fosse assim, teria abandonado esse método há muito tempo."
²"Registrar o físico expressa
aquilo que não é visível."
²Segal, aos 72, está bem consciente de que avançou muito, de
criador de galinhas em Nova Jersey a artista batalhador e, depois,
escultor celebrado, astro de uma
individual no Smithsonian.
²Sua arte já foi imortalizada
com a instalação de três peças no
Memorial
de Franklin Delano Roosevelt, na
Tidal Basin, não longe do Hirshhorn.
²Ele diz ter ficado agradavelmente surpreso com o fato de que
suas esculturas públicas, entre as
quais a famosa "Fila de Pão na Depressão", tenham sido tão bem recebidas.
²"A única coisa que posso supor é a fome de muitas pessoas pelas atitudes ali expressas", diz. "Eu
estava tentando conectar as imagens com as palavras de Roosevelt.... ele falava
com tanta eloquência sobre a
compaixão pelas pessoas comuns."
²Desde que o memorial foi
inaugurado, em maio passado,
milhares de pessoas comuns tiraram fotos ao lado das esculturas de
Segal, especialmente dos cinco homens na fila de pão da Grande Depressão.
²Ele está satisfeito com isso:
"Construí as peças como espaços
nos quais se pode entrar e caminhar. Elas foram pensadas para
serem vistas
de múltiplas direções".
²Segal diz que milhares de imagens atraem sua atenção a cada
dia, mas apenas raramente ele vê
alguma coisa que queira transformar em escultura. Ele ainda não
sabe como ou quando isso acontece.
²Em 1978, ele foi a um shopping center e viu uma mulher perto de um carrinho de cachorro-quente. O que chamou sua
atenção foi a cobertura do carrinho. Um desenho de Mondrian.
²"Lembro distintamente daquele dia. Lembrei dos meus dias
de estudante de arte, analisando
Mondrian e sua grande contribuição para o mundo da arte, e quando vi um padrão criado por ela na
cobertura do carrinho de cachorro-quente, não resisti."
²A escultura, chamada "Carrinho de Cachorro-Quente", está na
exposição.
²Quando começou a esculpir,
Segal era seu próprio modelo. Depois, começou a usar a esposa.
Hoje em dia, há muitos voluntários, mas ele continua a usar apenas amigos íntimos e familiares.
²Sua esposa, com quem ele casou há mais de 50 anos, já serviu
de modelo mais de 25 vezes.
²"Mas agora ela resiste", diz ele
rindo. "Ela não acha que é bonita o
bastante hoje em dia."
²Ela e os amigos de Segal sabem por experiência própria que
ser modelo não é nada glamouroso.
²No dia em que um de seus
amigos foi envolvido no algodão
embebido em gesso como um dos
homens da fila de pão, era agosto,
e fazia calor em Nova Jersey. Ele
teve de ficar em pé por horas usando seu sobretudo e chapéu, mas
Segal sabia o que estava fazendo. O
desconforto e infelicidade do modelo com a situação são perfeitamente visíveis na escultura concluída.
²"É um velho amigo em que
muito confio", diz Segal. "Ele simpatizava com o que eu estava tentando dizer
com aquela peça. Todos os que
trabalharam como modelos ali o
fizeram com grande alegria."
²Será que os milhares de pessoas que verão a retrospectiva de
Segal também se encantarão com
seu trabalho? Uma vez mais, ele
pára por um longo tempo antes de
responder.
Ele diz não estar certo, acrescentando que reluta em dissecar a visão pessoal de qualquer um quanto ao seu trabalho, em entrar na
cabeça dos outros.
"A única coisa que posso esperar
é lhes oferecer o meu dom."
Tradução
Paulo Migliacci
Mostra: George Segal
Onde: Hirshhorn Museum and Sculpture
Garden da Smithsonian Institution,
Washington
Quando: diariamente, das 10h às
17h30min (até amanhã)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|