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CD/CRÍTICA
Gardiner democratiza concerto ``Imperador''
LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha
Uma nova gravação historicamente informada do concerto
"Imperador" de Beethoven
-com Robert Levin ao pianoforte
e a Orchestre Révolutionnaire et
Romantique dirigida por John
Elliot Gardiner- acaba de chegar
ao Brasil.
Com instrumentos originais de
época, respeita detalhes como
uma afinação um pouco mais baixa do que a dos instrumentos modernos e evita timbres brilhantes.
Diz-se que Ludwig van Beethoven deu o título de "Imperador"
ao concerto porque considerava o
pianoforte como o verdadeiro monarca dos instrumentos.
Ao ouvirmos um piano moderno, com sua ressonância majestosa e timbre imponente, restam
poucas dúvidas sobre seu poder.
Mas, quando se ouve um pianoforte do início do século 19, como
o tocado por Levin neste CD, pode-se supor que Beethoven, com
suas convicções libertárias e anti-absolutistas, estivesse querendo
ser irônico: o instrumento tem
porte reduzido, talvez um terço do
comprimento de um "grand concerto" moderno, é mais rouco,
tem uma delicadeza que lembra o
cravo e uma potência sonora reduzida.
Esta gravação, entretanto, evidencia que também os súditos do
pianoforte na orquestra eram mais
fracos: os violinos de época da Orchestre Révolutionnaire et Romantique, assim como suas violas,
cellos e baixos, usam, exclusivamente, cordas de tripa, como se fazia no tempo de Beethoven. Seu
som é bem menos brilhante, mas
ao mesmo tempo mais redondo.
O mesmo acontece com os instrumentos de sopro, em que a sonoridade metálica está praticamente ausente. Ainda assim, o pianoforte dificilmente consegue sobrepujá-los. O que primeiro chama a atenção nesta leitura histórica é uma maior paridade entre solista e orquestra. O instrumento do
solista presta-se menos a malabarismos virtuosísticos.
Há também uma pronunciada
diferença no timbre e, ao mesmo
tempo, uma maior distinção entre
os diferentes grupos de instrumentos da orquestra. Se nas sinfônicas modernas os limites entre
metais, sopros, cordas e percussão
ficaram atenuados pelo verniz que
as técnicas conferem ao som desses instrumentos, aqui as diferenças ficam mais nítidas.
Recria-se, assim, um Beethoven
firmemente arraigado na tradição
musical de seus predecessores
-especialmente Haydn e Mozart.
O concerto "Imperador" torna-se mais sério -e também mais
democrático.
Disco: Concerto nš 5 para piano e
orquestra "Imperador", de Ludwig van
Beethoven
Com: John Elliot Gardiner, Orchestre
Révolutionnaire et Romantique; Robert
Levin ao pianoforte
Lançamento: Deutsche Grammophon
(série Archiv)
Quanto: R$ 28, em média (importado)
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