São Paulo, quarta, 16 de abril de 1997.

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CD/CRÍTICA
Gardiner democratiza concerto ``Imperador''

LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha

Uma nova gravação historicamente informada do concerto "Imperador" de Beethoven -com Robert Levin ao pianoforte e a Orchestre Révolutionnaire et Romantique dirigida por John Elliot Gardiner- acaba de chegar ao Brasil.
Com instrumentos originais de época, respeita detalhes como uma afinação um pouco mais baixa do que a dos instrumentos modernos e evita timbres brilhantes.
Diz-se que Ludwig van Beethoven deu o título de "Imperador" ao concerto porque considerava o pianoforte como o verdadeiro monarca dos instrumentos.
Ao ouvirmos um piano moderno, com sua ressonância majestosa e timbre imponente, restam poucas dúvidas sobre seu poder.
Mas, quando se ouve um pianoforte do início do século 19, como o tocado por Levin neste CD, pode-se supor que Beethoven, com suas convicções libertárias e anti-absolutistas, estivesse querendo ser irônico: o instrumento tem porte reduzido, talvez um terço do comprimento de um "grand concerto" moderno, é mais rouco, tem uma delicadeza que lembra o cravo e uma potência sonora reduzida.
Esta gravação, entretanto, evidencia que também os súditos do pianoforte na orquestra eram mais fracos: os violinos de época da Orchestre Révolutionnaire et Romantique, assim como suas violas, cellos e baixos, usam, exclusivamente, cordas de tripa, como se fazia no tempo de Beethoven. Seu som é bem menos brilhante, mas ao mesmo tempo mais redondo.
O mesmo acontece com os instrumentos de sopro, em que a sonoridade metálica está praticamente ausente. Ainda assim, o pianoforte dificilmente consegue sobrepujá-los. O que primeiro chama a atenção nesta leitura histórica é uma maior paridade entre solista e orquestra. O instrumento do solista presta-se menos a malabarismos virtuosísticos.
Há também uma pronunciada diferença no timbre e, ao mesmo tempo, uma maior distinção entre os diferentes grupos de instrumentos da orquestra. Se nas sinfônicas modernas os limites entre metais, sopros, cordas e percussão ficaram atenuados pelo verniz que as técnicas conferem ao som desses instrumentos, aqui as diferenças ficam mais nítidas.
Recria-se, assim, um Beethoven firmemente arraigado na tradição musical de seus predecessores -especialmente Haydn e Mozart.
O concerto "Imperador" torna-se mais sério -e também mais democrático.

Disco: Concerto nš 5 para piano e orquestra "Imperador", de Ludwig van Beethoven Com: John Elliot Gardiner, Orchestre Révolutionnaire et Romantique; Robert Levin ao pianoforte Lançamento: Deutsche Grammophon (série Archiv) Quanto: R$ 28, em média (importado)

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