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OUTRA FREQUÊNCIA
O dilema da rádio que tem punk com programa de esperanto
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Rádio Muda, uma das mais
importantes emissoras que
operam no país sem autorização
do governo, vive um dilema.
Instalada no campus da Unicamp (Campinas) há 12 anos, a
FM sofre pressão da reitoria para
entrar com um pedido de concessão no Ministério das Comunicações. A idéia é evitar que a universidade seja mais uma vez palco de
ação da Polícia Federal, que vez
por outra tenta fechar a rádio.
Com a permissão governamental, locutores e operadores (entre
eles, alunos da Unicamp) poderiam trabalhar sem se preocupar
em ter de fugir com os transmissores a qualquer momento.
Então, por que não entrar logo
com a papelada no ministério?
Quem já escutou a rádio (105,7
MHz, em Campinas, ou www.radiomuda.hpg.ig.com.br) pode
ter uma vaga idéia de que a questão não é tão simples assim.
A FM trabalha com uma filosofia de "gestão livre", sem diretores
ou qualquer hierarquia. Na programação, avessa a qualquer "linha editorial", vale tudo, até um
punk que apresenta programa de
esperanto.
Nesse clima quase anárquico,
claro, há um grupo contrário à
obrigatoriedade da autorização
do governo. E, para eles, manter-se fora da lei seria uma forma de
questioná-la. Sem grandes embates ideológicos, outros membros
querem só continuar no ar e se livrar das batidas policiais.
Em meio ao debate filosófico da
Muda, a Interferência FM, sua
parceira, localizada no campus da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, foi fechada pela PF nesta
semana. Fundada em 1985, a rádio carioca é programada por
universitários e também não tem
autorização legal.
A polícia estaria checando a
possibilidade de o sinal da FM interferir no aeroporto Santos Dumont, o que seria perigoso à aviação. Um risco normalmente
"controlado" quando a rádio ganha concessão do governo.
A Muda virou título e tema de livro. O escritor e cineasta Renato
Tapajós lança um romance teen
em que alguns personagens são
inspirados nos integrantes da FM
da Unicamp (o punk que fala esperanto está lá).
Engajado, "Rádio Muda" (Ática, 198 págs., R$ 13,90) conta a história de um adolescente de classe
média que se apaixona por uma
garota da periferia.
O namoro entre eles acontece
ao mesmo tempo em que se envolvem com a emissora. Filho de
professor da Unicamp e de psicóloga de uma ONG, o garoto cria
um programa para resolver os
problemas da comunidade da
amada. Infanto-juvenil do bem.
laura@folhasp.com.br
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