UOL


São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Série ressuscita transições de Marcos Valle e Wanderléa

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com mais 25 raridades recuperadas das décadas de 50, 60, 70 e 80, a série "Odeon Cem Anos", da EMI, chega à surpreendente marca de 70 discos relançados desde o final de 2002, com capas originais e supervisão do titã Charles Gavin.
O painel se forma em plena variedade, com orquestrão instrumental, samba antigo, samba-canção, bossa nova, samba-jazz, iê-iê-iê, pilantragem, black music, rock rural instrumental, clube da esquina, até hip hop. Leia à direita roteiro completo das reedições e, a seguir, comentários sobre alguns dos destaques da coleção.
 

Celly Campello - Somente após a morte recente da mãe do rock brasileiro a EMI volta ao momento fundador, relançando o primeiro LP da adolescente Celly, "Estúpido Cupido", com o hit-título e os mimos "Lacinhos Cor-de-Rosa" e "Túnel do Amor".

Lúcio e Doris - Luminares do samba-canção e da pré-bossa, Lúcio Alves e Doris Monteiro voltam num tardio disco ao vivo gravado no "Projeto Pixinguinha" (78). O cantor de voz extramacia reaparece também no primordial "Lúcio Alves, Sua Voz Íntima, Sua Bossa Nova Interpretando Sambas em 3D" (59), uma de suas tentativas vãs de se adaptar à bossa.

Pilantragem - A série ressuscita "Uma Rosa com Bossa" (66) em que a cantora Rosa Maria estreava apadrinhada por Wilson Simonal, líder da invenção de samba-jazz-bossa-iê-iê-iê-suingue que veio a se chamar "pilantragem". Outro momento é o delicado e interiorano "Antonio Adolfo & A Brazuca" (69), liderado pelo pianista e arranjador que era um dos ideólogos da pilantragem.

Elza e Eliana - A discografia de Elza Soares vai voltando aos pouquíssimos, desta vez com o quase folclórico "Elza, Carnaval & Samba" (69), que vestia de fantasia orquestrada grandiloquentes sambas históricos como "Se É Pecado Sambar", "Heróis da Liberdade" e "Eu Agora Sou Feliz". Eliana Pittman ressurge do esquecimento num curioso álbum de 72, que chacoalha baião histórico e a música nordestina nova de Ednardo.

Marcos Valle - O crucial "Mustang Cor de Sangue ou Corcel Cor de Mel" (69) refletia transição de Marcos Valle da bossa à tropicália. Não resultaria em nenhum dos dois extremos, mas numa nova e original fusão que privilegiava o soul louro de "Azimuth", "Tigre da Esso Que Sucesso", "Os Dentes Brancos do Mundo".

Black music - A coleção é variada no aspecto "black". Revalida a adaptação dos Golden Boys em "Fumacê" (70) à falência da jovem guarda, pela via do samba-rock emergente de Jorge Ben, Marcos Valle, Paulo Diniz. Do mais importante músico por trás de Tim Maia, ressurge o obscuro e denso "Apresentamos Nosso Cassiano" (73). E a cultura black paulistana renasce, já em 89, em "La Famiglia", álbum pioneiro de hip hop e novo funk assinado pela trupe Skowa e A Máfia.

Samba antigo nos 70 - Brilham na coleção "Som Pixinguinha" (71), tributo ao fundador da música popular do século 20 com participação do próprio, e "Minha Portela Querida" (72) -após criar a Velha Guarda da Portela, o jovem Paulinho da Viola inventava o Coro dos Compositores da Portela, que incluía Casquinha, Candeia, Monarco e ele mesmo.

Edu Lobo - Em passagem-relâmpago pela Odeon, um Edu Lobo já caído da moda concebeu um de seus mais exuberantes trabalhos, elaborando fusões sofisticadíssimas de referências nordestinas/ interioranas ("Viola Fora de Moda") e música religiosa ("Kyrie").

Wanderléa MPB - "Vamos Que Eu Já Vou" (77) encaixava a ex-musa da jovem guarda num ambiente musical inusitado: o laboratório experimental de Egberto Gismonti. Instrumentista, arranjador e autor, ele não chegou a fazer de Wanderléa grande cantora, mas criaram belíssima parceria.


Odeon Cem Anos     
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 20, em média, cada CD



Texto Anterior: Crítica: Dor sobrevive no discurso
Próximo Texto: Holandês desembarca com Elvis na bagagem
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.