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BIENAL DO LIVRO
LITERATURA
Nick McDonell, 21, chamado de "voz de sua geração", retrata adolescentes de Manhattan; autor vem ao Brasil
Niilismo move juventude em "Doze"
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
"Doze" tinha tudo para dar errado. Virar algo como "Hell", da
patricinha francesa Lolita Pille.
Foi escrito por Nick McDonell,
um garoto rico de Nova York, na
época -meados de 2001- com
17 anos; seu pai, Terry McDonell,
é ex-"Rolling Stone" e atual editor
da "Sports Illustrated"; a mãe,
Joanie McDonell, é escritora; o
padrinho, Morgan Entrekin, é
editor da Atlantic Books, que publicou o livro nos EUA em 2002.
Foi muito fácil para McDonell,
hoje com 21, ter "Doze" publicado. Mas eles -McDonell e "Doze"- surpreendem. A escrita é
fulminante, sem excessos, com
diálogos cortantes. Rápida como
os dias entre o Natal e o Ano Novo
vividos por seus personagens.
São adolescentes niilistas que,
resumindo, não fazem nada e não
querem fazer nada. Não têm motivação. Vão levando a vida, tomando algumas drogas -a tal da
doze-, colecionando algumas
armas, fazendo algum sexo.
Foi comparado a "Abaixo de
Zero", que Bret Easton Ellis escreveu aos 18 anos. Não é exagero.
McDonell estará na segunda-feira na Bienal do Livro, lançando
"Doze" e participando de debate.
Ele falou à Folha por telefone.
Folha - Dizem nos EUA que você é
a voz de sua geração. É isso?
Nick McDonell - Fico lisonjeado,
mas eu não falo por ninguém.
Não escrevi sobre uma geração,
escrevi sobre uma parcela muito
particular da sociedade americana, os garotos ricos de Manhattan. E certamente os garotos ricos
de Manhattan não representam
geração nenhuma.
Folha - O livro é crítico quanto ao
modo como esses jovens vivem. O
que há de errado com a juventude?
McDonell - Eu é que não sei, tenho apenas 20 anos. Mas acho
que não é mais errada do que a juventude de 20 anos atrás.
Folha - Você disse que nunca teve
contato, nem seus amigos, com o
mundo descrito no livro...
McDonell - Alguns amigos sim.
Eu nunca tomei drogas, bebi álcool ou fumei cigarros até os 19
anos. Alguns amigos tomavam
drogas, bebiam, mas tentavam levar uma vida interessante, não
eram completamente niilistas.
Folha - O livro tem o nome de uma
droga, mas ela não parece ser mais
importante para a história do que o
niilismo dos personagens ou a relação deles com as armas...
McDonell - Doze é uma droga
imaginária, que eu inventei. É
uma droga perfeita. O ponto é:
não existe droga perfeita.
Folha - Sua escrita é bastante
econômica, parece que você não
quer desperdiçar palavras...
McDonell - Passei a adolescência
escrevendo para jornais da escola,
tinha que escrever depressa...
Folha - Algumas críticas negativas ressaltavam menos o livro em si
do que o fato de você ser quem você é: um garoto rico de Nova York
com familiares e amigos influentes. Isso te aborrece?
McDonell - Sentia-me estranho,
culpado. Sei que meu livro foi publicado tão rápido porque tive a
sorte de conhecer essas pessoas.
Mas é assim que as coisas são.
Procuro justificar a vida que tenho. Muitos artistas não têm a
mesma sorte, mas o que posso fazer? Dar um tiro na cabeça?
Folha - Na música, aconteceu coisa parecida com os Strokes...
McDonell - É, sei disso. Alguns
deles estudaram numa escola que
está no livro, a Dwight. Ela tem até
um apelido: "Dumb White Idiots
Getting High Together" [algo como "garotos brancos bobos e
idiotas ficando loucos juntos"].
Eles agüentaram muita merda
por terem vindo de onde vieram.
Folha - Você escreveu o livro
quando tinha 17 anos. O que o motivou a escrever naquela idade?
McDonell - Minha família é de
escritores e eu lia bastante, todo o
tempo. Naquelas férias acordava e
só pensava em escrever.
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