São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIENAL DO LIVRO

LITERATURA

Nick McDonell, 21, chamado de "voz de sua geração", retrata adolescentes de Manhattan; autor vem ao Brasil

Niilismo move juventude em "Doze"

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

"Doze" tinha tudo para dar errado. Virar algo como "Hell", da patricinha francesa Lolita Pille. Foi escrito por Nick McDonell, um garoto rico de Nova York, na época -meados de 2001- com 17 anos; seu pai, Terry McDonell, é ex-"Rolling Stone" e atual editor da "Sports Illustrated"; a mãe, Joanie McDonell, é escritora; o padrinho, Morgan Entrekin, é editor da Atlantic Books, que publicou o livro nos EUA em 2002.
Foi muito fácil para McDonell, hoje com 21, ter "Doze" publicado. Mas eles -McDonell e "Doze"- surpreendem. A escrita é fulminante, sem excessos, com diálogos cortantes. Rápida como os dias entre o Natal e o Ano Novo vividos por seus personagens.
São adolescentes niilistas que, resumindo, não fazem nada e não querem fazer nada. Não têm motivação. Vão levando a vida, tomando algumas drogas -a tal da doze-, colecionando algumas armas, fazendo algum sexo.
Foi comparado a "Abaixo de Zero", que Bret Easton Ellis escreveu aos 18 anos. Não é exagero.
McDonell estará na segunda-feira na Bienal do Livro, lançando "Doze" e participando de debate. Ele falou à Folha por telefone.
 

Folha - Dizem nos EUA que você é a voz de sua geração. É isso?
Nick McDonell -
Fico lisonjeado, mas eu não falo por ninguém. Não escrevi sobre uma geração, escrevi sobre uma parcela muito particular da sociedade americana, os garotos ricos de Manhattan. E certamente os garotos ricos de Manhattan não representam geração nenhuma.

Folha - O livro é crítico quanto ao modo como esses jovens vivem. O que há de errado com a juventude?
McDonell -
Eu é que não sei, tenho apenas 20 anos. Mas acho que não é mais errada do que a juventude de 20 anos atrás.

Folha - Você disse que nunca teve contato, nem seus amigos, com o mundo descrito no livro...
McDonell -
Alguns amigos sim. Eu nunca tomei drogas, bebi álcool ou fumei cigarros até os 19 anos. Alguns amigos tomavam drogas, bebiam, mas tentavam levar uma vida interessante, não eram completamente niilistas.

Folha - O livro tem o nome de uma droga, mas ela não parece ser mais importante para a história do que o niilismo dos personagens ou a relação deles com as armas...
McDonell -
Doze é uma droga imaginária, que eu inventei. É uma droga perfeita. O ponto é: não existe droga perfeita.

Folha - Sua escrita é bastante econômica, parece que você não quer desperdiçar palavras...
McDonell -
Passei a adolescência escrevendo para jornais da escola, tinha que escrever depressa...

Folha - Algumas críticas negativas ressaltavam menos o livro em si do que o fato de você ser quem você é: um garoto rico de Nova York com familiares e amigos influentes. Isso te aborrece?
McDonell -
Sentia-me estranho, culpado. Sei que meu livro foi publicado tão rápido porque tive a sorte de conhecer essas pessoas. Mas é assim que as coisas são. Procuro justificar a vida que tenho. Muitos artistas não têm a mesma sorte, mas o que posso fazer? Dar um tiro na cabeça?

Folha - Na música, aconteceu coisa parecida com os Strokes...
McDonell -
É, sei disso. Alguns deles estudaram numa escola que está no livro, a Dwight. Ela tem até um apelido: "Dumb White Idiots Getting High Together" [algo como "garotos brancos bobos e idiotas ficando loucos juntos"]. Eles agüentaram muita merda por terem vindo de onde vieram.

Folha - Você escreveu o livro quando tinha 17 anos. O que o motivou a escrever naquela idade?
McDonell -
Minha família é de escritores e eu lia bastante, todo o tempo. Naquelas férias acordava e só pensava em escrever.


Texto Anterior: Aurora Prisma
Próximo Texto: Drogas: BBC investiga a mente dos "psiconautas"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.