São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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ANO DO BRASIL NA FRANÇA

Integrantes do grupo ensaiam samba com adolescentes de colégios e se apresentam hoje à noite

Alunos de Paris encontram Velha Guarda da Portela

KÊNYA ZANATTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O samba mudou a rotina escolar de um grupo de 50 alunos da periferia de Paris, que teve nesta semana aulas de canto e de percussão com os integrantes da Velha Guarda da Portela.
O encontro entre os sambistas cariocas e os adolescentes franceses faz parte do festival de jazz Banlieues Bleues, na região Seine-Saint-Denis, que fica ao norte da capital.
O evento comemorou o Ano do Brasil na França com shows de artistas como Yamandú Costa, Naná Vasconcellos, Vinícius Cantuária e Renata Rosa.
A Velha Guarda da Portela fará hoje à noite o show de encerramento, que terá ainda apresentação do músico Tom Zé. Os alunos serão convidados a subir ao palco para acompanhar os veteranos em três canções.
"O samba é uma música de partilha, de festa, por isso queríamos que os jovens vivessem esse momento com os músicos", diz Christel Deslis, coordenadora do projeto, explicando que esta é a primeira vez que os alunos dos ateliês musicais promovidos pelo festival participam de um dos espetáculos.
Ela acredita que o samba tem muito a dizer a esses jovens da periferia de Paris: "Muitos deles são de origem árabe ou africana e têm uma história de imigração na família, o que os aproxima desses músicos descendentes de escravos, que enfrentaram grandes dificuldades na vida".

Ensaios
Antes de encontrar os sambistas, os adolescentes ensaiaram canções do repertório da Velha Guarda sob a direção de uma cantora profissional por três meses.
A Folha acompanhou uma tarde de ensaios no colégio Robert Doisneau, em Clichy-Sous-Bois. No primeiro encontro, Monarco e sua trupe, composta por Serginho Procópio, Guaracy, Timbira, Marquinhos e Casimiro, contaram um pouco da história do samba. Sabrina, 15, resumiu a lição: "Antes era rejeitado. Hoje em dia todo mundo gosta".
Reunidos em uma roda no pátio do colégio, é hora de colocar em prática o que aprenderam. Diante da falta de balanço dos jovens, os integrantes da Velha Guarda não hesitaram em mostrar que samba não é questão de idade.
Vestindo o tradicional figurino branco e azul, que dava uma nota alegre ao dia frio e cinzento, levantaram-se das cadeiras e começam a girar, tocando e brincando com cada um. No começo foram apenas risadinhas e requebros tímidos, mas aos poucos o círculo bem-comportado se desmanchou numa algazarra de gente dançando e cantando "Foi um Rio que Passou em Minha Vida".
"Fiquei emocionado quando os ouvi cantando o nosso samba na ponta da língua. Eles têm um pouco mais de dificuldade com o ritmo, mas vão acabar aprendendo", comentou Monarco, enquanto distribuía encorajamentos e recomendações com a ajuda de um intérprete.
A performance dos veteranos da Portela entusiasmou os jovens: "Tem um grupo que toca e outro que responde, eles parecem felizes quando cantam e dançam entre eles. E a gente fica feliz quando ouve", explicou Ilham, 12, tentando descrever o que tinha visto. Sua colega Daloba, 14, concorda: "Eu já tinha ouvido falar do samba, mas é melhor do que eu pensava. Os textos parecem poemas. Tudo isso é genial, a gente não tem muita oportunidade de ver músicos como esses".
O violonista Guaracy saiu do ensaio propondo aos organizadores gravar um CD da Velha Guarda com seus convidados franceses: "Estou encantado. Essas crianças nos fazem lembrar a nossa infância".


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