|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quero ser grande
"As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky, inaugura onda de filmes brasileiros para adolescentes e crianças; gênero sempre esteve ausente do cinema nacional
Divulgação
|
|
Cena de "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
A frase poderia estar impressa num manual de autoajuda :
para amadurecer, é preciso voltar-se para a infância e para
adolescência. Mas a sentença é
apenas o diagnóstico que o
mercado que o cinema brasileiro, deitado no divã, fez de si.
Historicamente, só 2% da
produção nacional foi feita com
os olhos voltados para quem
tem menos de 18 anos. De acordo com a tese de mestrado de
João Batista dos Santos, metade dessa magra fatia coube a
Trapalhões e Xuxa.
"Esse é o grande público do
cinema no mundo. É claro que
sempre quisemos fazer filmes
para essa faixa, mas não apareciam projetos", diz Fabiano
Gullane, produtor de "As Melhores Coisas do Mundo", primeiro título da onda teen que o
Brasil experimenta e que deve
elevar a porcentagem histórica
a, pelo menos, 8% neste ano.
Baseado na série de livros
"Mano", de Gilberto Dimenstein, o filme nasceu teen e teen
se concretizou. Dirigido por
Laís Bodanzky, que havia tocado o universo juvenil em "O Bicho de Sete Cabeças", o filme
assumiu, desde o início, que seu
alvo principal eram os adolescentes - sem que com isso desagradasse os adultos. "Queríamos provocar neles o susto de
entrar no cinema e, de repente,
se ver na tela", diz a diretora.
Artisticamente, a missão foi
cumprida. Comercialmente, só
as bilheterias do final de semana dirão. A Warner fez uma
campanha pesada na internet e
colou traillers em "Harry Potter". Há, ainda, parcerias com
Globo, Telecine e Oi. "O adolescente é um público consumidor
ativo, que interessa às empresas", diz Gullane.
Mas é também, segundo José
Carlos Ribeiro de Oliveira, da
Warner, um público fugidio.
"Eles são desconfiados. Se percebem que estão sendo direcionados, não querem ver. Pensamos fazer um projeto com escolas, mas descobrimos que, se
colocássemos psicopedagogia
no meio, poderia atrapalhar."
A diretora Anna Luiza Azevedo, de "Antes que o Mundo
Acabe", percebeu o quão difícil
é acessar o jovem ao lançar
"Houve Uma Vez Dois Verões",
dirigido por Jorge Furtado e
produzido por ela. "São filmes
que pedem exposição na mídia,
algo difícil para o filme nacional", diz. "Temos que aprender
a falar com esse público."
A internet, no caso dos adolescente, surgiu como um eficaz canal de comunicação. O
mesmo não se pode falar do público infantil. "Não sabemos fazer filmes para criança e atraí-las para o cinema porque, simplesmente, nunca fizemos isso", diz Luiza Lins, organizadora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
Patrícia Durães, responsável
pelo projeto escola do circuito
rede Unibanco, de São Paulo,
arrisca uma explicação para essa dificuldade de comunicação:
"Os diretores brasileiros parecem ter medo de, ao fazer filmes para crianças, parecerem,
eles mesmos, infantis".
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Análise: Filme infantil dá menos prestígio Índice
|