São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quero ser grande

"As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky, inaugura onda de filmes brasileiros para adolescentes e crianças; gênero sempre esteve ausente do cinema nacional

Divulgação
Cena de "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A frase poderia estar impressa num manual de autoajuda : para amadurecer, é preciso voltar-se para a infância e para adolescência. Mas a sentença é apenas o diagnóstico que o mercado que o cinema brasileiro, deitado no divã, fez de si.
Historicamente, só 2% da produção nacional foi feita com os olhos voltados para quem tem menos de 18 anos. De acordo com a tese de mestrado de João Batista dos Santos, metade dessa magra fatia coube a Trapalhões e Xuxa.
"Esse é o grande público do cinema no mundo. É claro que sempre quisemos fazer filmes para essa faixa, mas não apareciam projetos", diz Fabiano Gullane, produtor de "As Melhores Coisas do Mundo", primeiro título da onda teen que o Brasil experimenta e que deve elevar a porcentagem histórica a, pelo menos, 8% neste ano.
Baseado na série de livros "Mano", de Gilberto Dimenstein, o filme nasceu teen e teen se concretizou. Dirigido por Laís Bodanzky, que havia tocado o universo juvenil em "O Bicho de Sete Cabeças", o filme assumiu, desde o início, que seu alvo principal eram os adolescentes - sem que com isso desagradasse os adultos. "Queríamos provocar neles o susto de entrar no cinema e, de repente, se ver na tela", diz a diretora.
Artisticamente, a missão foi cumprida. Comercialmente, só as bilheterias do final de semana dirão. A Warner fez uma campanha pesada na internet e colou traillers em "Harry Potter". Há, ainda, parcerias com Globo, Telecine e Oi. "O adolescente é um público consumidor ativo, que interessa às empresas", diz Gullane.
Mas é também, segundo José Carlos Ribeiro de Oliveira, da Warner, um público fugidio. "Eles são desconfiados. Se percebem que estão sendo direcionados, não querem ver. Pensamos fazer um projeto com escolas, mas descobrimos que, se colocássemos psicopedagogia no meio, poderia atrapalhar."
A diretora Anna Luiza Azevedo, de "Antes que o Mundo Acabe", percebeu o quão difícil é acessar o jovem ao lançar "Houve Uma Vez Dois Verões", dirigido por Jorge Furtado e produzido por ela. "São filmes que pedem exposição na mídia, algo difícil para o filme nacional", diz. "Temos que aprender a falar com esse público."
A internet, no caso dos adolescente, surgiu como um eficaz canal de comunicação. O mesmo não se pode falar do público infantil. "Não sabemos fazer filmes para criança e atraí-las para o cinema porque, simplesmente, nunca fizemos isso", diz Luiza Lins, organizadora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
Patrícia Durães, responsável pelo projeto escola do circuito rede Unibanco, de São Paulo, arrisca uma explicação para essa dificuldade de comunicação: "Os diretores brasileiros parecem ter medo de, ao fazer filmes para crianças, parecerem, eles mesmos, infantis".


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Análise: Filme infantil dá menos prestígio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.