São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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Livro revela trajeto histórico de navio luso

Embarcação transportou nazistas do Brasil à Europa e trouxe refugiados judeus para América durante 2ª Guerra

"O Navio do Destino", da belga Rosine De Dijn, traz depoimentos de pessoas que viajaram no barco português

GUILHERME BRENDLER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O insano século 20 deixou inúmeras histórias para trás que ainda precisam ser resgatas e contadas. A jornalista belga Rosine De Dijn, 70, encontrou uma delas.
Em 2006, uma amiga de Rosine contou um detalhe sobre sua vida que daria origem a "O Navio do Destino", primeiro livro da autora publicado no Brasil.
A família da amiga morava no sul do Brasil e viajou do Rio de Janeiro para Lisboa a bordo de um navio luso chamado Serpa Pinto. A embarcação comandada pelo comandante português Américo dos Santos levou à Europa a família da amiga -à época com dois anos- e mais de 600 outros alemães e teuto-brasileiros.
A amiga de Rosine é filha de Gustav Buchholtz, imigrante chegado ao Brasil no começo do século 20, um ativo integrante do partido nazista em Paranaguá, cidade do litoral paranaense. Ele e os outros adultos tinham um objetivo em comum: ajudar Adolf Hitler a vencer os Aliados na guerra.
Segundo o livro, estima-se que 4.500 alemães do Reich (arianos "puros") integraram o partido no Brasil. Mas historiadores estimam que 80% da população do sul do país simpatizava com a ideologia nazista, apesar de nem todos concordarem com a conduta dos comandados de Hitler.
Muitas comunidades se reuniam para ouvir os discursos do Führer pelo rádio e realizavam passeatas entoando o hino do Terceiro Reich e exibindo bandeiras com a suástica.
Mesmo sem querer divulgar o envolvimento do pai, a amiga entregou a Rosine parte dos diários de Gustav. A autora leu o material e resolveu devolvê-lo à amiga para não dar fim à amizade.
Mas "Buchholtz dava detalhes da viagem a bordo do Serpa Pinto. Eu sou jornalista, você é jornalista. Nós sabemos como um repórter fica empolgado quando encontra uma boa história".

CESSÃO À HISTÓRIA
Para saber quem estava a bordo do navio em 1942, a escritora consultou os arquivos digitais do porto de Ellis Island, em Nova York. Obviamente, encontrou os nomes dos alemães que voltaram à Europa, mas deparou também com o nome de outras duas pessoas: ambas de origem judaica.
A embarcação capitaneada por Américo dos Santos, que levou alemães do Brasil à Europa para lutar pelas forças de Hitler, fez sua viagem de volta ao continente americano dez dias depois dando a 677 judeus a chance de sobreviver ao Holocausto.
Ao conseguir contatar dois envolvidos na história interessados em contá-la, Rosine já podia começar a escrever o livro. Quando soube, a amiga da autora cedeu todas as memórias e anotações do pai, Gustav Buchholtz, para que Rosine pudesse dar continuidade à obra e publicá-la três anos depois.


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