MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Depois de realizar com sensibilidade um filme de temática gay ("Filadélfia") e um excelente thriller meio feminista (O "Silêncio dos Inocentes"), o diretor Jonathan Demme envereda por mais uma experiência cinematográfica de tema alternativo. "Bem Amada" é seu filme racial.
Mas "Bem Amada" é fraco. O problema não está na direção, mas na concepção. Tanto é que Oprah Winfrey -apresentadora de talk-show da TV americana- está notável no papel principal.
Baseado no romance homônimo ("Beloved", 1987) da escritora Toni Morrison, "Bem Amada" é um amontoado de flashbacks confusos sobre a vida de uma escrava negra tentando se inserir no novo estado de coisas que precede a libertação dos escravos dos EUA. A história se passa em 1873.
Sethe (Oprah Winfrey) vive para eliminar de sua memória as dolorosas lembranças de sua vida passada, entre as quais está o suposto assassinato do marido e o possível fato de Sethe ter preferido matar alguns de seus filhos a entregá-los a um sanguinário patrão branco.
A única filha que aparentemente lhe sobrou é Denver (Kimberly Elise), jovem adolescente que se debate para sair do isolamento e da atmosfera de insanidade estabelecida pela mãe para suas vidas. As duas vivem sozinhas numa casa assombrada por fantasmas.
A novidade a cruzar tanta solidão é a chegada de Paul D. (Danny Glover), um velho amigo que vai virar amante de Sethe sem conseguir, porém, tirar dela o peso psicológico da herança de escravidão.
Quando um dos fantasmas que assombram a casa se torna real, Sethe entra em processo de delírio acelerado. O fantasma é Beloved (Thandie Newton), jovem adolescente que seria um dos filhos que Sethe teria tentado matar no passado, mas que teria sobrevivido.
Personagem meio escatológica (baba e vomita o tempo todo), meio retardada mental, meio espírito do demônio, Beloved é uma espécie de encarnação da dor física e psicológica da escravidão.
A narrativa confusa e aborrecida não permite distinguir o que é ou foi real do que é loucura. Winfrey, milionária que comprou os direitos de filmagem do livro logo quando de sua publicação, amadureceu o projeto por quase uma década. Tempo perdido.

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