VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma "rave" grega, como quer Giulia Gam, encontra no teatro Oficina terreno propício para uma encenação que traz Eurípides para o século 21 ao som de sucata e música eletrônica.
A banda carioca Harpax faz a percussão ao vivo do espetáculo "As Fenícias", que estréia temporada paulistana amanhã, à meia-noite, na sede do Oficina Uzyna Uzona, o grupo do diretor José Celso Martinez Corrêa.
Giulia Gam, 35, volta ao teatro em que atuou em São Paulo pela última vez, há cerca de quatro anos, como uma das Cacildas de Zé Celso.
Ela interpreta Jocasta na peça do poeta grego. À sinopse: Édipo (Edi Botelho), o marido, mata o pai, pune-se furando os próprios olhos, amaldiçoa os filhos que o prendem e estes, Etéocles (Luisa Friese) e Polinices (Rafael Aragon), duelam até a morte, para desespero de Jocasta.
No Rio, a peça foi montada no Museu da República, onde o diretor Caco Coelho desejava que os espectadores contracenassem na cena da batalha como se fossem "pulmões do coro". A depender da singular arquitetura vertical do Oficina e de seu palco-corredor, a cumplicidade do público será ainda mais concreta.
"O Oficina já é, por natureza, um microscópio. Apesar de ser um espaço grande, que remete aos deuses do teatro, ao mesmo tempo a platéia vê os atores de perto e aumenta tudo dentro da cena", afirma Gam.
Coelho, que nos últimos anos se converteu em pesquisador contumaz da obra de Nelson Rodrigues, concebe "As Fenícias" como um discurso sobre a justiça e a busca de igualdade para a humanidade. "A peça mostra o que acontece a quem recorre às armas para a luta", diz.
A montagem é um projeto da Cia. Circo de Estudos Dramáticos, criada em 98 por ocasião do centenário de Brecht. Desde então, caracteriza-se pela reflexão multidisciplinar (teatro, dança, circo) e encenação de clássicos em espaços não-convencionais, como o foyer do Centro Cultural Banco do Brasil ("A Tempestade", de Shakespeare), o pátio do Paço Imperial ("Drama de Estações", espetáculo expressionista), o pátio do Paço Imperial e o pátio do Museu da República, todos no Rio de Janeiro.