UOL


São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"EMBRIAGADO DE AMOR"

Em longa do diretor de "Boogie Nights", vendedor de desentupidores tem problemas de relacionamento

Música, paixão e ousadia ocupam Anderson

TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se há uma alma original na nova geração de Hollywood hoje, atende pelo nome de Paul Thomas Anderson. O cineasta californiano de 33 anos já havia mostrado toda sua (longa e ruidosa) inquietação em seus dois principais longas anteriores, "Boogie Nights" e "Magnólia", e agora volta suas lentes para o amor.
Mais especificamente, para o amor de Barry Egan, interpretado por Adam Sandler, que está "Embriagado de Amor", como quer o título brasileiro (ou "Punch-Drunk Love", como dizia o original).
P.T. Anderson, como é conhecido, falou à Folha no último Festival de Cinema de Nova York, onde seu filme foi exibido pela primeira vez. "Na verdade, comecei a pensar neste filme pelo terno azul do personagem de Adam", disse Anderson.
É que, em "Embriagado...", Barry Egan é um neurótico vendedor de desentupidores submisso às suas sete irmãs que tem problemas de relacionamento. "Sempre fui fascinado pelo tecnicolor dos anos 50 e eles tinham essa fixação pelo terno azul, a MGM devia ter quilômetros deste tecido."
Antes disso, porém, o diretor havia tirado seu ponto inicial para o roteiro de uma reportagem que leu na revista semanal "Time", de um norte-americano que ficou conhecido pelas companhias aéreas como "Sr. Pudim" por ter comprado dezenas de milhares de uma sobremesa que dava milhas de viagem em sua embalagem.
Assim que o elenco do filme foi anunciado, há dois anos, o diretor disse que podia ver o rosto das pessoas se retorcendo à menção do nome de Adam Sandler, mais conhecido do grande público por suas comédias ligeiras e de humor ginasiano.
"Mas escolher um ator para trabalhar é como se apaixonar, vocês vão conviver juntos por dois anos, e eu realmente me apaixonei por Sandler", disse ele.
Outro aspecto presente na trilogia recente de Anderson é a trilha sonora. O próprio Adam Sandler já disse que o diretor filma como quem grava um CD para um amigo.
"Ele tem razão", diz, "eu escolho faixa por faixa e filmo muitas cenas em função da música que pré-determinei. Nesse sentido, "Embriagado de Amor" é quase um musical".
No filme, Sandler se apaixona pela personagem interpretada com muita graça por Emily Watson ao som de "He Needs Me", clássico brega-romântico na voz de Shelley Duvall. Tudo ganha uma graça extra quando se lembra que Duvall foi Olívia Palito no "Popeye" de Altman e a mulher perseguida por Jack Nicholson no hotel mal-assombrado de "O Iluminado", de Kubrick.
Agora, o californiano se prepara para rodar a sequência de "Boogie Nights", drama de 1997 que usava elementos da biografia do astro pornô John Holmes (1944-1988) para traçar um panorama do submundo do cinema erótico na Califórnia dos anos 70 e 80. "Boogie Nights 2" ainda está em fase de pré-produção.
Já se sabe, porém, que a atriz Heather Graham repetirá o papel da sexy Rollergirl, desta vez como protagonista da trama -no filme original, Dirk Diggler (Mark Wahlberg, o tal inspirado em Holmes) era o astro e em torno dele girava toda a história. Wahlberg não aceitou voltar a interpretar o personagem.
No mês passado, Paul Thomas Anderson recebeu do Instituto Sundance, de Robert Redford, o Prêmio Ousadia nas Artes, merecidamente. Mas não é só nesta área que o diretor arrisca.
Há algumas semanas, ele foi expulso de um evento beneficente em Nova York ao brigar com um técnico de som. "Não ligo muito para o que pensam de mim", disse ele na época do lançamento de "Embriagado de Amor" sobre a sua fama.


Texto Anterior: "Nunca aos Domingos": Filme envelheceu e ficou datado
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.