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"EMBRIAGADO DE AMOR"
Em longa do diretor de "Boogie Nights", vendedor de desentupidores tem problemas de relacionamento
Música, paixão e ousadia ocupam Anderson
TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se há uma alma original na nova
geração de Hollywood hoje, atende pelo nome de Paul Thomas Anderson. O cineasta californiano de
33 anos já havia mostrado toda
sua (longa e ruidosa) inquietação
em seus dois principais longas anteriores, "Boogie Nights" e "Magnólia", e agora volta suas lentes para o amor.
Mais especificamente, para o
amor de Barry Egan, interpretado
por Adam Sandler, que está "Embriagado de Amor", como quer o
título brasileiro (ou "Punch-Drunk Love", como dizia o original).
P.T. Anderson, como é conhecido, falou à Folha no último Festival de Cinema de Nova York, onde
seu filme foi exibido pela primeira
vez. "Na verdade, comecei a pensar neste filme pelo terno azul do
personagem de Adam", disse Anderson.
É que, em "Embriagado...",
Barry Egan é um neurótico vendedor de desentupidores submisso
às suas sete irmãs que tem problemas de relacionamento. "Sempre
fui fascinado pelo tecnicolor dos
anos 50 e eles tinham essa fixação
pelo terno azul, a MGM devia ter
quilômetros deste tecido."
Antes disso, porém, o diretor havia tirado seu ponto inicial para o
roteiro de uma reportagem que
leu na revista semanal "Time", de
um norte-americano que ficou conhecido pelas companhias aéreas
como "Sr. Pudim" por ter comprado dezenas de milhares de uma
sobremesa que dava milhas de viagem em sua embalagem.
Assim que o elenco do filme foi
anunciado, há dois anos, o diretor
disse que podia ver o rosto das
pessoas se retorcendo à menção
do nome de Adam Sandler, mais
conhecido do grande público por
suas comédias ligeiras e de humor
ginasiano.
"Mas escolher um ator para trabalhar é como se apaixonar, vocês
vão conviver juntos por dois anos,
e eu realmente me apaixonei por
Sandler", disse ele.
Outro aspecto presente na trilogia recente de Anderson é a trilha
sonora. O próprio Adam Sandler
já disse que o diretor filma como
quem grava um CD para um amigo.
"Ele tem razão", diz, "eu escolho
faixa por faixa e filmo muitas cenas em função da música que pré-determinei. Nesse sentido, "Embriagado de Amor" é quase um
musical".
No filme, Sandler se apaixona
pela personagem interpretada
com muita graça por Emily Watson ao som de "He Needs Me",
clássico brega-romântico na voz
de Shelley Duvall. Tudo ganha
uma graça extra quando se lembra
que Duvall foi Olívia Palito no
"Popeye" de Altman e a mulher
perseguida por Jack Nicholson no
hotel mal-assombrado de "O Iluminado", de Kubrick.
Agora, o californiano se prepara
para rodar a sequência de "Boogie
Nights", drama de 1997 que usava
elementos da biografia do astro
pornô John Holmes (1944-1988)
para traçar um panorama do submundo do cinema erótico na Califórnia dos anos 70 e 80. "Boogie
Nights 2" ainda está em fase de
pré-produção.
Já se sabe, porém, que a atriz
Heather Graham repetirá o papel
da sexy Rollergirl, desta vez como
protagonista da trama -no filme
original, Dirk Diggler (Mark
Wahlberg, o tal inspirado em Holmes) era o astro e em torno dele girava toda a história. Wahlberg não
aceitou voltar a interpretar o personagem.
No mês passado, Paul Thomas
Anderson recebeu do Instituto
Sundance, de Robert Redford, o
Prêmio Ousadia nas Artes, merecidamente. Mas não é só nesta
área que o diretor arrisca.
Há algumas semanas, ele foi expulso de um evento beneficente
em Nova York ao brigar com um
técnico de som. "Não ligo muito
para o que pensam de mim", disse
ele na época do lançamento de
"Embriagado de Amor" sobre a
sua fama.
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