São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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comentário

Genivaldo troca MST pelo "tucanato"

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Imagine um ex-líder dos sem-terra, daqueles bem raivosos, desiludido com MST e PT. Um ex-linha de frente de saques, confrontos com a polícia e invasões de terra agora de conchavo com o tucanato.
Esse é Genivaldo da Silva, trabalhador rural de Inhapi (AL) e personagem-tema do documentário "O Tempo e o Lugar", de Eduardo Escorel, nos cinemas a partir de hoje.
Em pouco mais de uma hora e meia, Genivaldo parece mais do que um simples desiludido. Na ânsia de atacar o movimento sem-terra, mostra-se muitas vezes confuso.
Genivaldo cita uma tal reunião do MST organizada na "divisa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com a Bolívia [sic]", na qual diz ter assistido a uma palestra de integrantes do peruano Sendero Luminoso.
Ele detona a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e fala como se tivesse sido forçado ou manipulado pela Igreja Católica e por freiras e líderes do MST para invadir terras e pressionar governos pela reforma agrária.
Mais tarde, o ex-líder do MST troca tapinhas e tenta demonstrar intimidade com o governador alagoano Teotonio Vilela Filho (PSDB).
"Trabalheira da desgraça pra lhe eleger, [a gente] não pode deixar você só, não", disse Genivaldo ao tucano, numa audiência cheia de trabalhadores rurais no palácio do governo.
Assim como o presidente Lula, ele possui ainda uns surtos de esquerda. Diz ter "orgulho" de os filhos nunca terem trabalhado para usineiros e latifundiários.
Sobre o MST, primeiro diz ter perdido cinco anos da vida. "Nesse movimento, foi o diabo." Depois afirma: "O que aprendi muito foi com eles, agradeço isso. Minha formação veio do MST".
O documentário segue todo em banho-maria. As histórias saborosas (não são muitas) surgem após seqüências de imagens com o clima local. Trilhas de terra, vilas pacatas, trabalho na roça e descanso na rede.
Lia, mulher de Genivaldo, tem pouco destaque, mas nas entrelinhas surge como uma guerreira: tem sido mãe e pai de seis filhos, enquanto o marido gasta seu tempo em movimentos sociais, sindicatos, associações e partidos políticos.


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