São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Tóquio à moda americana

Bairro hype de Shibuya reúne multidões de adolescentes fascinadas pelo look de celebridades dos Estados Unidos; galeria 109 é templo de consumo fashion da região

Elas vão chegando aos poucos, em grupos falantes e animados. No início da tarde, já podem ser vistas por toda parte, circulando pelas lojas do distrito de Shibuya, região jovem e hype de Tóquio e templo de consumo da nova geração das chamadas kogyaru (ou kogals, termo que pode ser traduzido como "garotas colegiais").
Ao contrário das meninas que se reúnem nas praças de Harajuku, aquelas supercoloridas e ultramontadas, que viraram elas mesmas um "ponto turístico" da cidade, as garotas de Shibuya não querem ser "exóticas", muito menos japonesas. Desejam parecer californianas bronzeadas ou fashionistas de Nova York, e para isso investem muito dinheiro em roupas, acessórios, cabeleireiro e tratamentos de beleza.
Na 109, uma galeria de dez andares e meca dessas jovens consumidoras, o movimento é intenso no dia da visita da reportagem. Parece feriado de Natal em São Paulo, mas é apenas uma quinta-feira comum.
O sucesso da galeria fez com que, em 2006, os donos da 109 abrissem a 109-2, num prédio vizinho. Um dos pisos é dedicado a roupas masculinas.

Princesinhas e black divas
As novas garotas de Shibuya se dividem em dois grandes e influentes grupos. As que seguem a linha Califórnia, adoram divas do hip hop como Beyoncé, fazem bronzeamento artificial, usam saltos de acrílico, microshorts e bonés.
Já as "princesinhas herdeiras" seguem a linha de Paris Hilton e Nicole Richie. Azul e rosa-bebê, amarelinhos, saias de frufrus e meias longas compõem o figurino. As novas coleções de verão unem o boho ao romântico adocicado. Grifes como Esperanza, Titty & Co., Alba Rosa e a gigante Cocolulu estão, segundo os administradores, entre as marcas mais procuradas na 109.
A maioria das compradoras é japonesa, até porque as estrangeiras têm dificuldades de encontrar tamanhos adequados: a modelagem é sempre micro, bem ao estilo das japas mignon. Em algumas lojas de sapatos, o maior número disponível equivale ao 36 no Brasil.
A vida de uma kogal moderna é cara. A maioria não trabalha, e nem sempre a família pode ou quer pagar pelas maratonas de compras. É onde entra o "enjo-kosai", o "namoro" de adolescentes com homens na casa dos 50 anos. Eles pagam pelas extravagâncias fashion e por outros luxos das meninas.
No Japão, como em outras partes do mundo, discute-se se a prática pode ser igualada à prostituição. Há um certo consenso, porém, de que a situação é reflexo de uma cultura de consumo cruel e de uma crise de identidade e de valores. É o lado mais obscuro da moda mais colorida do mundo.


A repórter VIVIAN WHITEMAN viajou a Tóquio a convite da BPI

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