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Tóquio à moda americana
Bairro hype de Shibuya reúne multidões de adolescentes fascinadas pelo look de celebridades dos Estados Unidos; galeria 109 é templo de consumo fashion da região
Elas vão chegando aos poucos, em grupos falantes e animados. No início da tarde, já
podem ser vistas por toda parte, circulando pelas lojas do distrito de Shibuya, região jovem e
hype de Tóquio e templo de
consumo da nova geração das
chamadas kogyaru (ou kogals,
termo que pode ser traduzido
como "garotas colegiais").
Ao contrário das meninas
que se reúnem nas praças de
Harajuku, aquelas supercoloridas e ultramontadas, que viraram elas mesmas um "ponto
turístico" da cidade, as garotas
de Shibuya não querem ser
"exóticas", muito menos japonesas. Desejam parecer californianas bronzeadas ou fashionistas de Nova York, e para isso
investem muito dinheiro em
roupas, acessórios, cabeleireiro
e tratamentos de beleza.
Na 109, uma galeria de dez
andares e meca dessas jovens
consumidoras, o movimento é
intenso no dia da visita da reportagem. Parece feriado de
Natal em São Paulo, mas é apenas uma quinta-feira comum.
O sucesso da galeria fez com
que, em 2006, os donos da 109
abrissem a 109-2, num prédio
vizinho. Um dos pisos é dedicado a roupas masculinas.
Princesinhas e black divas
As novas garotas de Shibuya
se dividem em dois grandes e
influentes grupos. As que seguem a linha Califórnia, adoram divas do hip hop como Beyoncé, fazem bronzeamento artificial, usam saltos de acrílico, microshorts e bonés.
Já as "princesinhas herdeiras" seguem a linha de Paris
Hilton e Nicole Richie. Azul e
rosa-bebê, amarelinhos, saias
de frufrus e meias longas compõem o figurino. As novas coleções de verão unem o boho ao
romântico adocicado.
Grifes como Esperanza, Titty
& Co., Alba Rosa e a gigante Cocolulu estão, segundo os administradores, entre as marcas
mais procuradas na 109.
A maioria das compradoras é
japonesa, até porque as estrangeiras têm dificuldades de encontrar tamanhos adequados: a
modelagem é sempre micro,
bem ao estilo das japas mignon.
Em algumas lojas de sapatos, o
maior número disponível equivale ao 36 no Brasil.
A vida de uma kogal moderna
é cara. A maioria não trabalha, e
nem sempre a família pode ou
quer pagar pelas maratonas de
compras. É onde entra o "enjo-kosai", o "namoro" de adolescentes com homens na casa dos
50 anos. Eles pagam pelas extravagâncias fashion e por outros luxos das meninas.
No Japão, como em outras
partes do mundo, discute-se se
a prática pode ser igualada à
prostituição. Há um certo consenso, porém, de que a situação
é reflexo de uma cultura de
consumo cruel e de uma crise
de identidade e de valores. É o
lado mais obscuro da moda
mais colorida do mundo.
A repórter VIVIAN WHITEMAN viajou a Tóquio
a convite da BPI
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