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"O ESPÍRITO DE NOSSA ÉPOCA"
Mostra oferece oportunidade para diferentes propostas
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
Paradoxalmente , uma das
virtudes da exposição "O Espírito de Nossa Época" é ir na
contramão das aspirações sintéticas e definitivas de seu nome
cheio de pompa.
Parece claro que a seleção de artistas aqui feita não tenta, como é
frequente em coletivas com este
grau de diversidade, homogeneizar obras e artistas diferentes, sob
a rubrica de um conceito abstrato.
Felizmente, a curadoria não chega
nem a provocar uma certa orquestração dos trabalhos, para
lhes atribuir um sentido comum.
Formada a partir da coleção
particular de João Carlos Figueiredo Ferraz, a exposição cobre
parte significativa, embora repleta de lacunas, da produção que
circulou no mercado de arte paulistano no período entre a década
de 80 e o ano 2000.
Trata-se de um período de consolidação, do ponto de vista institucional e artístico. Dos anos 80
para cá, a presença de exposições
internacionais e a força de algumas instituições, bem ou mal, já
está consolidada, indicando a
continuidade de um processo que
se iniciou há 50 anos. O circuito
comercial, dentro dos seus limites, parece ter absorvido parte
desse processo.
Por outro lado, a partir dos anos
80, torna-se mais evidente a continuidade de uma rigorosa tradição
moderna que assimilou tais questões com espírito crítico, desenvolvendo obras singulares longe
dos vícios, seja das adesões fáceis
a qualquer moda internacional,
seja dos formalismos provincianos e castradores.
A obra de artistas como Amilcar
de Castro, Eduardo Sued, Mira
Schendel e Iberê Camargo, não
por acaso presentes nesta coletiva
do MAM, indicam um maior
amadurecimento da arte de matriz moderna no Brasil.
Por outra via, esse amadurecimento também pode ser visto na
fluidez e liberdade com que Jorge
Guinle mobiliza a história da arte
para constituir uma iconografia
pessoal e solar. Ele se vale da tradição menos para marcar posições culturais intransponíveis do
que para encontrar um gosto pelo
ato pictórico.
Longe do que existe de mais
chato nesses pós-modernismos
auto-referentes, a pintura se refere à tradição não como um valor
em si, mas buscando o exercício
de um novo prazer.
Descobrimos ainda essa liberdade aqui referida na procura paciente da cor e de sua fruição em
trabalhos tão distintos quanto a
série de fotos avermelhadas de
Miguel Rio Branco e a pintura de
Paulo Pasta. Se o primeiro revela
seu gosto em algo fortuito, o segundo tenta eternizar sua emanação. A relação cromática é lenta e
se propaga com tal concentração
que solidifica um espaço intenso
que, no entanto, parece destinado
a se fixar como passageiro. Essa
harmonia instável talvez esteja no
centro das questões de um artista
como Nelson Felix.
Mais do que encontrar a revelação de um distante espírito de
nossa época, temos a oportunidade de estabelecer diferentes relações entre algumas propostas estéticas que não perderam o gosto
pela singularidade da experiência
estética.
O Espírito de Nossa Época
Onde: MAM - Museu de Arte Moderna de
São Paulo (parque Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quando: ter., qua. e sex., das 12h às 18h;
qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h
às 18h
Quanto: R$ 5
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