São Paulo, sábado, 16 de junho de 2001

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"O ESPÍRITO DE NOSSA ÉPOCA"

Mostra oferece oportunidade para diferentes propostas

TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

Paradoxalmente , uma das virtudes da exposição "O Espírito de Nossa Época" é ir na contramão das aspirações sintéticas e definitivas de seu nome cheio de pompa.
Parece claro que a seleção de artistas aqui feita não tenta, como é frequente em coletivas com este grau de diversidade, homogeneizar obras e artistas diferentes, sob a rubrica de um conceito abstrato. Felizmente, a curadoria não chega nem a provocar uma certa orquestração dos trabalhos, para lhes atribuir um sentido comum.
Formada a partir da coleção particular de João Carlos Figueiredo Ferraz, a exposição cobre parte significativa, embora repleta de lacunas, da produção que circulou no mercado de arte paulistano no período entre a década de 80 e o ano 2000.
Trata-se de um período de consolidação, do ponto de vista institucional e artístico. Dos anos 80 para cá, a presença de exposições internacionais e a força de algumas instituições, bem ou mal, já está consolidada, indicando a continuidade de um processo que se iniciou há 50 anos. O circuito comercial, dentro dos seus limites, parece ter absorvido parte desse processo.
Por outro lado, a partir dos anos 80, torna-se mais evidente a continuidade de uma rigorosa tradição moderna que assimilou tais questões com espírito crítico, desenvolvendo obras singulares longe dos vícios, seja das adesões fáceis a qualquer moda internacional, seja dos formalismos provincianos e castradores.
A obra de artistas como Amilcar de Castro, Eduardo Sued, Mira Schendel e Iberê Camargo, não por acaso presentes nesta coletiva do MAM, indicam um maior amadurecimento da arte de matriz moderna no Brasil.
Por outra via, esse amadurecimento também pode ser visto na fluidez e liberdade com que Jorge Guinle mobiliza a história da arte para constituir uma iconografia pessoal e solar. Ele se vale da tradição menos para marcar posições culturais intransponíveis do que para encontrar um gosto pelo ato pictórico.
Longe do que existe de mais chato nesses pós-modernismos auto-referentes, a pintura se refere à tradição não como um valor em si, mas buscando o exercício de um novo prazer.
Descobrimos ainda essa liberdade aqui referida na procura paciente da cor e de sua fruição em trabalhos tão distintos quanto a série de fotos avermelhadas de Miguel Rio Branco e a pintura de Paulo Pasta. Se o primeiro revela seu gosto em algo fortuito, o segundo tenta eternizar sua emanação. A relação cromática é lenta e se propaga com tal concentração que solidifica um espaço intenso que, no entanto, parece destinado a se fixar como passageiro. Essa harmonia instável talvez esteja no centro das questões de um artista como Nelson Felix.
Mais do que encontrar a revelação de um distante espírito de nossa época, temos a oportunidade de estabelecer diferentes relações entre algumas propostas estéticas que não perderam o gosto pela singularidade da experiência estética.


O Espírito de Nossa Época
   
Onde: MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quando: ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h
Quanto: R$ 5




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