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ANÁLISE
Rainha da televenda não fica só no papo
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A rainha do Shoptime é assim. Qualquer coisa que ela
anuncie, sai. Os produtos campeões de venda do canal aparecem em suas mãos. Alguém sabe
o nome dela? Estatura e peso medianos, é um tipo comum. Loirinha simpática, risonha, pragmática, desenvolta, é dona de retórica
convincente.
O "programa" é um exercício
aeróbico. Durante uma hora ela
fala sem parar, o que, aliás é a técnica preferida dos televendedores. Funcionários e funcionárias
engravatados em outros segmentos da programação ininterrupta
do canal tagarelam sem parar
com o pessoal dos estabelecimentos anunciantes.
A regra é preencher todo o espaço sonoro, realizar ao pé da letra a
vocação radiofônica da TV. Mas
ela é imbatível. Além de falar muito, fala rápido. E profere um discurso adequado.
Suas receitas são saudáveis e
práticas. Os aparelhos eletrodomésticos anunciados economizam espaço, gordura ou acumulam dois ou três em um. São fáceis
de manusear e de limpar.
Coerente, ela aproveita uma receita para vender acessórios. Copos, pratos, recipientes especiais a
preços promocionais, pagamento
em várias vezes.
O diferencial dela é a performance. Ela demonstra a utilidade
dos aparelhos domésticos em
pauta. Seu palco é uma cozinha.
Geladeira ao fundo, como nos
anúncios desde os primórdios da
TV, ela experimenta receitas simples e práticas em que o ingrediente principal é o aparelho.
Além de mostrar como cada um
funciona, ela oferece quitutes
fresquinhos aos colegas de estúdio. Assim, além de se dirigir ao
telespectador, como todos os outros, envolve também a equipe.
Ela divide sua atenção de maneira ágil. Desempenha aquela
rotina fragmentada -que inclui
eventuais acidentes- com desenvoltura.
A máquina de fazer waffles, o
tradicional lanche americano, pode ser usada também para o preparo do mais chegado e popular
tostex. O cinegrafista está de dieta,
mas acaba aceitando o produto de
bom grado.
A máquina de fazer sucos respinga. O inesperado é facilmente
incorporado com um zoom no
rosto surpreso dela ou o foco no
leite derramado. Ela não se abala.
Aproveita para anunciar as taças
nas quais o refresco é oferecido.
Ela não fica só no papo. Articula
ingredientes e eletrônicos. Contracena com uma misteriosa voz-papagaio em off que produz interjeições. Pessoas à sua volta eventualmente participam dos exercícios culinários. De sua cozinha,
coração do lar, ela bombeia energia. E vende de tudo.
Alguém sabe o nome dela? É Viviane Romanelli, a rainha do
Shoptime.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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