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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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ANÁLISE

Rainha da televenda não fica só no papo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A rainha do Shoptime é assim. Qualquer coisa que ela anuncie, sai. Os produtos campeões de venda do canal aparecem em suas mãos. Alguém sabe o nome dela? Estatura e peso medianos, é um tipo comum. Loirinha simpática, risonha, pragmática, desenvolta, é dona de retórica convincente.
O "programa" é um exercício aeróbico. Durante uma hora ela fala sem parar, o que, aliás é a técnica preferida dos televendedores. Funcionários e funcionárias engravatados em outros segmentos da programação ininterrupta do canal tagarelam sem parar com o pessoal dos estabelecimentos anunciantes.
A regra é preencher todo o espaço sonoro, realizar ao pé da letra a vocação radiofônica da TV. Mas ela é imbatível. Além de falar muito, fala rápido. E profere um discurso adequado.
Suas receitas são saudáveis e práticas. Os aparelhos eletrodomésticos anunciados economizam espaço, gordura ou acumulam dois ou três em um. São fáceis de manusear e de limpar.
Coerente, ela aproveita uma receita para vender acessórios. Copos, pratos, recipientes especiais a preços promocionais, pagamento em várias vezes.
O diferencial dela é a performance. Ela demonstra a utilidade dos aparelhos domésticos em pauta. Seu palco é uma cozinha. Geladeira ao fundo, como nos anúncios desde os primórdios da TV, ela experimenta receitas simples e práticas em que o ingrediente principal é o aparelho.
Além de mostrar como cada um funciona, ela oferece quitutes fresquinhos aos colegas de estúdio. Assim, além de se dirigir ao telespectador, como todos os outros, envolve também a equipe.
Ela divide sua atenção de maneira ágil. Desempenha aquela rotina fragmentada -que inclui eventuais acidentes- com desenvoltura.
A máquina de fazer waffles, o tradicional lanche americano, pode ser usada também para o preparo do mais chegado e popular tostex. O cinegrafista está de dieta, mas acaba aceitando o produto de bom grado.
A máquina de fazer sucos respinga. O inesperado é facilmente incorporado com um zoom no rosto surpreso dela ou o foco no leite derramado. Ela não se abala. Aproveita para anunciar as taças nas quais o refresco é oferecido.
Ela não fica só no papo. Articula ingredientes e eletrônicos. Contracena com uma misteriosa voz-papagaio em off que produz interjeições. Pessoas à sua volta eventualmente participam dos exercícios culinários. De sua cozinha, coração do lar, ela bombeia energia. E vende de tudo.
Alguém sabe o nome dela? É Viviane Romanelli, a rainha do Shoptime.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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