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ERUDITO/CRÍTICA
Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf, encenou obra de Stravinsky no Municipal
As frustrações de um "Édipo Rei" arrojado
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Um não é pouco; dois, nesse
caso, infelizmente, foi demais. Ou de menos, para ser justo
com a memória da música. Em
abril, a Osesp apresentou uma
versão de concerto de "Édipo-Rei", a ópera-oratório de Stravinsky (1882-1971); a cidade agora
entra para algum livro dos recordes com a segunda encenação da
mesma peça, na versão da Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf.
O Municipal estava cheio na estréia, sexta passada, e a expectativa era alta. Não só pelos solistas
-benquista prata da casa: Fernando Portari no papel principal,
Céline Imbert de Jocasta, mais Pepes do Valle, José Gallisa e Luciano Botelho, e Celso Frateschi como narrador -mas também pela
participação do Balé da Cidade
(Cia. 2), em coreografia de Mara
Borba, que também assina a direção cênica e de arte.
Composta em 1926, com libreto
de Jean Cocteau (traduzido para o
latim), "Édipo Rei" tem a estrutura de uma pequena ópera, com
coros, recitativos e árias, mas se
resguarda do teatro ao assumir
caráter de oratório, com a ação
narrada por um recitante. O registro neoclássico da partitura redobra-se, dessa forma, na dimensão
hierática, para não dizer estática,
da cena.
Foi para resolver o problema
que Mara Borba trouxe a dança
para o palco. Os cantores seguem
mais ou menos imóveis, uma vez
destacados nalgum ponto do cenário; o coro divide-se em grupos,
nas laterais; no centro, contra o
vermelhão do fundo, os oito bailarinos vão alegorizando o teatro
íntimo, dando forma e movimento às comoções do rei patricida de
Tebas e sua rainha-mãe.
Forma: estilizada, geométrica,
"grega". Movimento: espástico e
repetitivo, "simbólico". Assim como o cenário, assume explicitamente a inspiração em Bob Wilson. Perguntas: será que a dança
acrescenta alguma coisa à ópera?
Será que escapa do ilustrativo? Do
ornamental? Será que não vira só
um dispersivo clip "ao vivo" para
as vastidões abstratas da música e
do texto?
Constrangidos pela encenação,
e pelo figurino helenopunk, os
cantores sustentaram a dignidade. Frateschi tem ótima projeção
e narra com segurança. A OER
não chega a tanto, mas é valente.
As últimas duas produções do
maestro Maluf ("João e Maria",
"O Chapéu de Palha de Florença") marcaram época. Com "Édipo Rei", a aposta foi mais arrojada; e o engano, proporcional. Em
novembro, tem "Contos de Hoffmann".
Avaliação:
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