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COMENTÁRIO
Garotas que sabem o que lhes cai bem
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Morenas lúbricas, voluptuosas, lascivas,
matreiras, sorridentes e tristes. "Meninas do Brasil", ode
escancarada à mestiçagem
que pigmentou vossas peles
e dotou de cadência musicada vossos quadris.
Meninas periféricas que
vivem à margem por saber
que o centro não as traduz,
não as seduz. Cachorras sem
dono que saem na noite com
auto-confiança tão colada ao
corpo quanto suas miniblusas, seus tops, seus tomaras-que-caia que envolvem,
apertam e revelam parcialmente as suculentas promessas de tantas alegrias.
Meninas do funk, do forró,
do samba. Dançarinas extravagantes, diletantes de ritmos que enlouquecem machos babões e os fazem sucumbir em vertigens nos salões, nos bares, nas ruas,
atrás do balcão da lojinha da
prima da amiga do cunhado
onde elas fazem um bico
sem registro, sem férias, sem
fim de semana e sem FGTS,
para ganhar um troco.
Meninas fashion que sabem como ninguém o que
lhes cai bem. Cobrem-se de
lycra, de grifes autenticamente falsas. Besuntam os
lábios com brilho sabor morango, chocolate e framboesa. Um pouco de cada e está
feita a salada de frutas que
espera o ensejo, o sorriso
alheio, o beijo no escuro.
Calça-pele feita para delinear e projetar ancas, cadeiras, nádegas, coxas, virilhas,
joelhos. Oito, dez, 12 centímetros de salto na sandália
de tirinhas, dedos de fora,
esmalte vermelho.
Meninas impositivas, fêmeas resolvidas sem não-sei-se-devo, sem analista,
sem medo da vida, quase
sem estudo, sem condições e
esperando até as 5h, sorrindo, pela condução, pelo marido, pelos filhos.
Meninas de família. Evangélicas, católicas, macumbeiras, crentes. Santo forte,
fé na vida, promessa para
que tudo melhore. Reza todos os nomes da família antes de dormir.
"Meninas do Brasil". Nossas mais belas faces. Sorriam. Dancem. Não parem
nunca, "Meninas do Brasil".
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