|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POESIA/"COMO NO CÉU / LIVRO DE VISITAS"
Carpinejar perde-se com "filosofia"
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O que sempre chamou a atenção na poesia do gaúcho Fabrício Carpinejar foi sua inventividade narrativa. A maioria de
seus livros conta com uma moldura ficcional como a de "Biografia de uma Árvore" (2002), no
qual há personagens, como Ossian, e um tempo imaginário (a
referência é ao ano de 2045).
Quando o escritor enfraquece os
elementos da fábula, entregando-se ao lirismo, seu texto desanda
em uma desgastada "filosofia".
Se isso já era observado na antologia "Caixa de Sapatos" (2003),
fica patente no novo volume, que
traz dois títulos encadeados: "Como no Céu" e "Livro de Visitas".
A combinação no avesso -os livros começam em faces opostas e
se encontram no centro- traduz
a atmosfera das duas partes.
Em resumo: os versos de "Como no Céu" registram as sensações de uma vida conjugal, suas
delícias e agruras, enquanto o "eu
lírico" do "Livro de Visitas" tem
os olhos voltados para si mesmo
tentando encontrar-se.
Assim como não há referências
que justifiquem esses poemas como autobiográficos, não há elementos suficientes para delimitar
um contexto fabular. As belas
imagens deixam de fazer parte de
um universo determinado para se
constituírem como expressão da
lírica amorosa.
Versos como "É necessário suportar a tristeza / para merecer a
esperança", sem as balizas da narrativa, enfraquecem-se, lembrando mais os livros de auto-ajuda.
Essa forma imperativa dos versos
de Carpinejar, que se querem instrumentos de veiculação de sabedoria e reflexão, é apenas uma das
características que podem ser
identificadas na poesia contemporânea brasileira. No avesso,
produzem-se poemas cujo objetivo está além das palavras escritas,
como em "Visibilia", do paranaense Rodrigo Garcia Lopes, publicado agora em reedição ampliada (Travessa dos Editores, R$
22; 94 págs.) do volume de 1997.
Enquanto conjunto de visualidades, os poemas adensam-se para registrar em imagens o impalpável. Entre o discurso que quer
ensinar e aquele que age sobre a
sensibilidade através da sugestão
de imagens do irretratável, impossível estabelecer o mais poético, salvo pelo gosto do leitor. Nos
vários caminhos da poesia de hoje, a única certeza é o medo. Medo
de enfrentar com versos reflexivos o mercado e os paradoxos do
país, variáveis que não cabem nas
páginas que se desejam tecnicamente perfeitas, lacradas ao risco.
Rogério Eduardo Alves é mestrando
em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
USP
Como no Céu/Livro de Visitas
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Autor: Fabrício Carpinejar
Editora: Bertrand
Quanto: R$ 29 (224 págs.)
Texto Anterior: Autora disse que escreveu a obra "por amor" Próximo Texto: Vitrine Brasileira Índice
|