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Autora disse que escreveu a obra "por amor"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu não era jovem, nem bonita. Precisei achar outras armas". Foi com essas palavras
que uma senhora de 86 anos resolveu em 1994 um dos maiores mistérios literários do século 20. Pauline Réage, autora do
mais célebre livro erótico contemporâneo, era o pseudônimo de Dominique Aury, uma
pacata escritora francesa, que
confessava a verdadeira motivação da obra: escreveu o livro
por amor.
A revelação foi feita em uma
entrevista concedida por Aury
à revista "New Yorker", 50
anos depois da publicação do
original, em 1954. Ela admitiu
que escreveu o livro como um
desafio e uma "carta de amor"
a Jean Paulhan, um editor conhecido que era admirador do
Marquês de Sade. Foi ele o autor do prefácio incluído na edição original. "A aparência física
não é tudo, também podia usar
o espírito", afirmou Aury à revista norte-americana. Para ela
foi um desafio porque Paulhan,
diretor da "Nouvelle Revue
Française" (NRF), onde ela foi
secretária por mais de 40 anos,
não acreditava que Dominique
fosse capaz de escrever esse tipo de livros.
Durante muitos anos se especulou sobre o nome da verdadeira autora de "História de
O", um tratado sadomasoquista que desafiou a censura (a publicidade do livro foi proibida),
a moral dominante e as feministas. Na França, alguns chegaram a especular sobre a possível autoria de Dominique,
mesmo que ela polidamente
negasse. O editor do livro, o
francês Jean-Jacques Pauvert,
sempre se recusou a confirmar
-inclusive depois da entrevista de 1994-, afirmando que a
autora "não havia autorizado a
revelação de sua identidade".
No início, alguns suspeitaram de Dominique porque
Pauline Réage era um anagrama (à diferença de uma letra)
para "Egérie Paulhan" (a mulher que inspira Paulhan, numa
tradução livre). Jean Paulhan,
conhecido admirador do Marquês de Sade, além de ser o diretor da "NRF", também era o
autor do prefácio do livro. Na
verdade, revelou Dominique,
"Pauline" foi uma homenagem
a Pauline Borghese e a Pauline
Roland (uma feminista). "Réage" foi um nome escolhido ao
acaso. E "O" veio de Odile, nome de uma amiga dela.
As adaptações mais famosas
do livro são um telefilme kitsch
de 1975, dirigido por Just Jaeckin (o mesmo de "Emmanuelle", com roteiro de Sébastien
Japrisot), e a HQ do italiano
Guido Crepax (publicada aqui
pela L&PM, mas fora de catálogo há anos). Dominique morreu em 1998, aos 90 anos.
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