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Crítica/"Páginas da Vida"
Novela impõe "moral da história"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Páginas da Vida", a
nova novela das oito da
Globo, pessoas "reais"
comentam todos os dias um tema apresentado no capítulo.
Uma mulher contou ter descoberto que o marido transava
com a empregada e encorajou
telespectadoras traídas "a virar
a página da vida" no encerramento do episódio no qual Helena (Regina Duarte) descobre
a traição de Greg (José Mayer).
Com a inovação, o autor, Manoel Carlos, leva ao limite sua
estratégia de atrair a audiência
por meio da identificação do
público com suas histórias. Se,
por si só, o telespectador não
for capaz de relacionar a sua vida com a de Helena e cia., lá está
alguém para realçar todas as
possíveis conexões entre ficção
e realidade. Está escancarado o
estilo manoel-carliano de abordar o cotidiano (do Leblon) e
criar gente como a gente (rica).
O título "Páginas da Vida",
aliás, já deixa claro. O autor
promete aprofundar a experiência de "Mulheres Apaixonadas" (2003), sua trama anterior, que não tinha história ou
tinha várias. Versava sobre o
quê? Vêm à lembrança uma
confusão com mocinhas lésbicas, Christiane Torloni como
Helena, o homem que batia na
mulher com raquete de tênis.
Em "Páginas da Vida", Helena adotará uma criança com
síndrome de Down, mas essa
será uma dentre várias histórias, mais uma página, para
aderir a esse trocadilho do qual
a Globo já abusou e abusará pelos próximos nove meses.
Se toda novela é uma obra
aberta aos humores da audiência, a de Manoel Carlos é perfeita para tomar diferentes rumos
de acordo com o anseio do público. A arte imita a vida e corre
para onde o ibope mandar.
Até aí, tudo faz parte do jogo.
O problema de "Páginas da Vida" são justamente os tais depoimentos reais que encerram
os capítulos. Com eles, Manoel
Carlos tira do telespectador o
direito de ler as histórias com
seus próprios olhos. Em vez da
sutileza das entrelinhas, a novela impõe uma bandeira a cada dia, vende lições de moral
como fábulas infantis. Acaba
com a possibilidade de ver novela sem refletir, formar opinião, discutir a relação, julgar.
Se "Páginas da Vida" tivesse
uma vilã e se fosse Bia Falcão,
talvez não tivéssemos o livre
arbítrio para condenar ou comemorar o fato de ela ter se safado e ainda terminado aos beijos com um michê de 20 anos.
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