Jards Macalé, Dona Ivone Lara e Turibio Santos abrem série "Álbum de Retratos"

Idealizador do projeto, Moacyr Luz escolheu os autores dos textos que acompanham imagens pela afinidade com os retratados

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 11 anos, Jards Macalé se vestiu todo de branco -inclusive luvas- e fez a sua primeira comunhão. A imagem não combina muito com o músico, mas está na página 26 do volume dedicado a ele da série "Álbum de Retratos", que tem como charme mostrar lados pouco ou nada conhecidos dos personagens selecionados.
Os três primeiros títulos da coleção serão lançados hoje, às 20h, na Casa França-Brasil (tel. 0/xx/21/2253-5366), no Rio.
Além das fotos de Macalé, que ganharam legendas do jornalista João Pimentel, chegam às livrarias as da sambista Dona Ivone Lara, com textos da cantora Zélia Duncan, e as do violonista Turibio Santos, perfilado pelo poeta Herminio Bello de Carvalho. Os livros podem ser comprados separadamente ou numa caixa.
O cantor e compositor Moacyr Luz idealizou o projeto a partir da própria experiência de se deliciar com encartes de fotos em livros. "Eu ficava imaginando o que se passava, naqueles momentos, na cabeça de pessoas que depois virariam artistas, referências", conta.
As fotos pré-profissionais, de infância e adolescência, são curiosas, mas não predominam. O que há mais são imagens diferentes, de acervo pessoal, dos tempos de artista.
"Qualidade duvidosa"
No caso de Jards Macalé, há fotos dele tocando violão com Maria Bethânia, compondo com Vinicius de Moraes, carregando flores com Waly Salomão e muitas outras, nem todas com boa nitidez.
"Essas fotos de qualidade duvidosa eram as de que eu mais gostava na hora de selecionar", diz Luz, ressaltando o conceito de álbum pessoal.
No livro dedicado a Dona Ivone Lara, não há fotos muito antigas, pois elas foram perdidas numa mudança de casa.
O volume tem dois registros de Yvonne (grafia original) como assistente social, função que a levou a trabalhar com Nise da Silveira, pioneira no uso da arte em tratamentos psiquiátricos.
E o resto é música, com fotos suas cantando num trem, desfilando de baiana pelo Império Serrano e ao lado de colegas como Clementina de Jesus, Gal Costa e Maria Bethânia.
"Queria muito fazer um trabalho com Dona Ivone. E fiquei encantado com o disco da Zélia Duncan cantando samba, "Eu me Transformo em Outras". Acho que o encontro das duas teve tudo a ver", diz Luz.
Essa afinidade entre autores de textos e personagens das fotos foi buscada nos outros livros também. Pimentel está fazendo um documentário sobre Macalé, de quem é amigo; e Herminio foi um grande incentivador da carreira de Turibio, com quem convive há quatro décadas.
Outros volumes
Nas obras que sairão até o fim do ano, há casos similares.
Exemplos: o cartunista Lan ganhou textos do ator e amigo Antonio Pedro, e Nelson Sargento criou versos para legendar as fotos do cineasta Cacá Diegues, cuja casa foi pintada pelo sambista quando este ainda não imaginava que viraria pintor profissional -sua segunda carreira.
Os outros volumes são sobre Walter Firmo (textos de Cora Rónai), Zezé Motta (Walter Carvalho), Bete Mendes (Fatima Guedes), Ruth de Souza (Haroldo Costa), Ferreira Gullar (Geraldo Carneiro), Ruy Castro (Heloisa Seixas, sua mulher) e Drauzio Varella (Regina Braga, idem).