Fotos Julia Moraes/Folha Imagem

Estatísticas oficiais revelam que 502 pessoas foram mortas pela polícia do Rio de Janeiro nos quatro primeiros meses do ano. A elas se somam a morte do garoto João Roberto, de 3 anos, e do administrador Luiz Carlos Soares da Costa, ontem.
A quase totalidade das mortes é registrada em "autos de resistência", como resultado de um confronto com a polícia. O governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), do Rio, recebeu a coluna para um almoço no Palácio Guanabara, antes ainda da morte do administrador. Foram servidos salada, carne, suco de melancia e cajú. O governador conversou sobre possíveis excessos da polícia. E disse que sua política de segurança não vai mudar:

 

FOLHA - O senhor está seguro em relação à política de segurança?
A morte do João Roberto muda alguma coisa? SERGIO CABRAL - Absolutamente seguro. Absolutamente seguro.
O caminho de nossa política tem três frentes: desenvolvimento econômico; investimentos sociais e de infra-estrutura; e política de segurança com determinação de enfrentar o crime organizado, que se instalou no Rio com tráfico de drogas, milícias. Em algumas regiões, o número de homicídios caiu 50% [depois da política de enfrentamento].

FOLHA - Os críticos dessa política dizem que a conduta dos policiais no caso João Roberto não pode ser isolada de um contexto em que a polícia se sentiria com carta branca para arbitrariedades.
CABRAL - Fazer uma ilação entre a estupidez de dois policiais e a minha ação de confronto é uma canalhice, uma cretinice.
Qualquer pessoa de boa fé tem certeza de que eu não mandaria metralhar daquele jeito. Mesmo que fossem bandidos. A não ser que eles reagissem.

FOLHA - O que se questiona é se, em nome da segurança, não se deu um cheque em branco para a polícia.
CABRAL - Não tem cheque em branco para matar, nem inocente nem bandido.

FOLHA - E por que a polícia do Rio mata tanto?
CABRAL - O que aumentou foi o número de autos de resistência. A polícia nunca subiu tanto nos morros. Nunca prendeu tanta maconha e tanta cocaína, muitas vezes sem dar um tiro. A polícia vai cumprir um mandado de busca e apreensão de um sujeito. Se não tem reação, ela prende. Se tem, ela enfrenta. É uma ação legítima para garantir a paz nas comunidades.
Quem faz o confronto é o bandido. Começamos um treinamento de polícia comunitária para 500 PMs. Leio que SP expulsou 69 policiais em seis meses. Nós expulsamos 350 em 18 meses. Agora, veja o caso da polícia de Londres, extremamente preparada e bem paga. Olha a barbaridade que fizeram com o brasileiro [Jean Charles]. Isso justifica as barbaridades daqui?
Não. Mas elas acontecem em todos os lugares. Viu o que aconteceu no Paraná [a PM matou uma jovem que bateu numa viatura]? Só que daí sai só uma "tripinha" no jornal...

FOLHA - Não há possibilidade de recuar nessa política? CABRAL - Nenhuma. Porque aí sim, seria dramático.

OURO NEGRO
O presidente Lula e o governador Sérgio Cabral começaram a negociar diretamente solução para a disputa do Rio com a Petrobras em torno da participação do Estado no lucro do campo de petróleo de Merlin. O governo do Rio cobra cerca de R$ 1,2 bilhão da época do governo de Rosinha Matheus (PMDB-RJ). A pendência foi parar na Justiça -que, há duas semanas, decidiu que a quantia deve ser paga pela estatal.

OURO NEGRO 2
Pelas negociações, o governo do Rio desiste de juros e correção monetária e a estatal não recorre a outras instâncias da Justiça. Com isso, o valor a ser pago pela empresa cairia para cerca de R$ 400 milhões. Cabral tem um trunfo: pode inscrever a empresa na dívida ativa do Estado caso a Petrobras se negue a qualquer tipo de conversa.

GRAMPOLÂNDIA
Não são apenas os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que desconfiam de grampos em seus telefones.

 

 

 

O cineasta Breno Silveira tem as mãos enterradas nos bolsos. "Estou nervoso! É a primeira pré-estréia em SP, com meu maior público." Na noite de segunda-feira, ele espera a saída dos espectadores de seu segundo filme, "Era Uma Vez...", na porta da sala de um cinema, em Pinheiros. "Acho que o pessoal tá saindo meio emocionado demais. Bom, quem se emocionou com "Dois Filhos de Francisco" [seu primeiro longa, sobre a vida de Zezé Di Camargo & Luciano] também vai se emocionar agora."