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NETVOX
Taxar e-mail não é solução
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
O novo relatório de desenvolvimento humano da ONU, publicado esta semana, faz um perfil do
usuário típico da Internet no
mundo inteiro: ele tem menos de
35 anos, diploma universitário,
mora num centro urbano e fala
inglês. Estão nos EUA 26% dos
usuários da Internet.
A leitura do relatório deixa a
impressão de um enredo velho,
com novos personagens: onde se
lia ouro, terra, opressão, agora se
lê telecomunicações, conhecimento, patentes, exclusão. As riquezas
mudaram de lugar, as fronteiras
também, mas o dinheiro continua
a fluir na mesma direção por um
funil cada vez mais estreito.
As notícias que se seguem são as
piores: o mundo está cada vez
mais integrado -mas também
cada vez mais clara e agudamente dividido. O custo de uma ligação telefônica de três minutos entre Londres e Nova York caiu de
US$ 245 em 1930 para US$ 0,35
em 1998. Só que esses benefícios
da economia de escala não atingem os mais pobres. Em muitos
países da África, o custo médio de
uma conexão à Internet é US$
100, comparado com US$ 20 nos
EUA.
Se a Internet tornou possível
uma infinita conversa global, os
que não têm acesso a ela estão
mais silenciosos que nunca, pelo
que se pode deduzir do relatório.
Segundo ele, 88% dos usuários
da Internet -que seriam 143 milhões em 98-estão em países ricos e industrializados, e 80% dos
sites estão em inglês, embora somente uma a cada dez pessoas no
mundo fale essa língua.
Um relatório divulgado também nesta semana, nos EUA, tem
resultados semelhantes: o número
de pessoas conectadas à Internet
está crescendo mais rápido entre
brancos, com diploma universitário e renda anual acima de US$
75 mil. Mesmo nos EUA, aumenta
o fosso entre os poucos conectados
e a maioria desconectada.
Mas o remédio proposto pelos
autores do relatório da ONU não
podia ser pior: eles imaginam um
imposto mundial sobre envio de
e-mails. Embora a chance dessa
fantasia virar realidade seja quase nula, vale o exercício de discuti-la, porque ela mostra como
nossa capacidade de lidar com os
novos problemas que estão surgindo precisa de ajustes.
A maior vantagem da comunicação por e-mail é justamente o
fato de que ela tem custo fixo. Você paga uma taxa pelo acesso e
manda quantos quiser ou puder,
independente da distância. Um e-mail para a Vila Madalena ou
para o Japão custa a mesma coisa, ou seja, nada (claro que há o
custo do equipamento e da linha
telefônica, mas o importante aqui
é que ele não é proporcional ao
número de mensagens).
É bem verdade que a taxa proposta é mínima -US$ 0,1 por cada 100 e-mails. Um imposto sobre
cada mensagem, sob o pretexto de
estender o uso da Internet aos
menos privilegiados, acabaria
por tornar o uso do correio eletrônico menos viável, já que os usuários de baixa renda estariam
também submetidos a ele e teriam muito mais dificuldade para pagá-lo.
Imagine o pesadelo administrativo de cobrar um imposto mundial sobre e-mails de determinado tamanho e depois transformar
esse dinheiro em benefícios para
quem realmente precisa deles. Seria uma burocracia sem fim. E
nada mais injusto que cobrar um
imposto em dólar no mundo inteiro. Nos países onde a moeda é
mais desvalorizada, ele seria bem
mais caro.
A proposta reflete os dilemas da
própria ONU: realiza um trabalho importante, alimenta a mídia
e instituições regularmente com
relatórios e dados conscienciosamente preparados, mas enfrenta
dificuldades em dar conta de problemas sociais cada vez mais
complexos.
Não estamos precisando de um
novo imposto, administrado por
uma entidade mundial. Seria
muito mais produtivo criar incentivos fiscais para que empresas invistam nos países em desenvolvimento, por exemplo.
Mesmo assim, para quem se interessa pelo assunto, vale a pena
ler o capítulo 2 do estudo no endereço do relatório da ONU:
www.undp.org/hdro/99.htm.
Site mostra o tabuleiro de Carmen Miranda
Esgote o assunto
Carmen Miranda
no site que estréia
hoje, assinado pela
produtora carioca
Estação Web. Além
das canções da
cantora, há
"Carmens" de
outros intérpretes,
como Caetano, Ney
Matogrosso e Paula
Toller
(www.uol.com.br/carmen)
NOTAS
Design em movimento
O Instituto Cultural Itaú promove no próximo dia 21 o seminário "O Design Gráfico e a Imagem em Movimento", com Rico
Lins e Jimmy Leroy, às 21h.
Lins é ilustrador e designer gráfico, com mestrado no Royal College (Londres). Trabalhou em
Paris e em Nova York, onde foi diretor de arte da CBS Records.
Jimmy Leroy é gerente do departamento de promos e gráficos
da MTV Brasil. O seminário vai
discutir o uso de elementos gráficos em vídeo, cinema, CD-ROM e
Internet.
Mais informações pelo telefone
0/xx/ 11/210-3057 ou no site
www.itaucultural.org.br
Propaganda contra a fome
The Hunger Site (www.thehungersite.com/index.html) é uma
nova e criativa forma de anunciar
na Internet: um mapa do mundo
mostra a probabilidade estatística
de alguém estar morrendo de fome neste momento.
Quem quiser clica num botão
onde se lê "Doe comida de graça".
Ao clicar, vê o anúncio de um patrocinador, que pagará por uma
porção de arroz, milho ou trigo
em algum país distante. Cada visitante pode fazer uma doação por
dia -pouco mais de 400 mil pessoas já o fizeram, até hoje.
Quarto das meninas
É possível que questões de zoneamento encerrem a carreira do
site "Voyeur Dorm" -seis garotas que vivem numa casa equipada com 34 câmeras que registram
toda a sua vida, em Tampa (Flórida, EUA).
Um órgão de zoneamento afirma que "diversão adulta" é proibida na zona residencial em que
elas moram. As moças alegam
que todos os seus negócios (cobram uma assinatura de US$ 35
dos visitantes) são conduzidos
pela Internet e que nenhum cliente visita a casa (www.voyeurdorm.com/).
E-mail: ercilia@uol.com.br
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