|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Diretor estréia hoje em BH
Thomas se aventura pela dança
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Com o espetáculo "A Breve Interrupção do Fim", que o grupo
mineiro Primeiro Ato estréia hoje
em Belo Horizonte, o diretor teatral Gerald Thomas marca sua primeira parceria com a dança.
Nessa obra em que as mulheres
ridicularizam os mitos masculinos
do poder, Thomas assina a criação, direção, cenografia e trilha sonora. A coreografia foi feita por
Suely Machado, que fundou o Primeiro Ato dez anos atrás.
A seguir, trechos da entrevista de
Thomas à Folha por telefone, de
Belo Horizonte.
Folha - Por que você resolveu
trabalhar com dança e aceitar o
convite do grupo Primeiro Ato?
Gerald Thomas -Aceito qualquer oportunidade que me permita me exercitar nessa expressão
que observo avidamente há tanto
tempo. Minhas peças são coreografadas. A expressão física e a
movimentação dos atores sempre
foram tão ou mais importantes do
que o texto, a iluminação.
Não gosto de assistir a peças de
teatro, mas a espetáculos de dança
eu sempre vou com o maior prazer
e curiosidade. Interessei-me muito
cedo por Merce Cunningham, Alvin Nikolais, até que surgiu Pina
Bausch. Aí me apaixonei de vez,
percebi que a dança possuía uma
enorme vantagem sobre o teatro,
que já estava chato.
Folha - Ano passado você tentou
realizar um espetáculo de dança
com Ismael Ivo, na Alemanha. Por
que não deu certo?
Thomas -Acho que foi por insegurança dele. Confesso que não sabia quem era Ismael Ivo antes de
receber o seu convite. No decorrer
do trabalho, o que ele me apresentava como coreografia do que eu
havia proposto dramaturgicamente no dia anterior nada mais
era do que uma má Pina Bausch.
Era uma "pinice" aguda, sendo
que Ismael, no palco, continuava
aquele mesmo canibal selvagem e
primitivo que sempre foi. Quando
o clima já estava meio ruim entre a
gente, eu fui explicar um pouco
sobre Marcel Duchamp e o Ismael
se precipitou e disse que Duchamp
era um escritor. Diante disso, resolvi abandonar o barco.
Folha - E com a Suely Machado, a
integração foi fácil?
Thomas -Tivemos uma integração absoluta e total, como aliás eu
não previa. Eu pressentia complicações, porque nunca tive parcerias assim. A Daniela Thomas fez
meus cenários durante muito tempo, Bete Coelho foi minha parceira
como atriz, mas nunca tive uma
parceira de criação.
Porém, desde o primeiro dia foi
uma harmonia total. Eu desenho
uma cena para a Suely, coloco os
atores, explico dramaturgicamente, falo, demonstro, dou a ela a trilha sonora e ela transforma tudo
numa dança fascinante. A cada dia
tenho novas surpresas.
É fascinante, agora, ver meu projeto dar certo. Não é só teatro-dança no sentido de os intérpretes terem uma expressão dramática,
mas um teatro de situação, uma
dança de situação que estamos
criando. Teatro-dança já é um termo esgotado. O que estamos fazendo talvez possa ser chamado de
"action and situation dance".
Folha - Existe um roteiro que se
construiu no decorrer do processo
criativo?
Thomas -Existe uma narrativa
tão fragmentada como em qualquer outro espetáculo meu. Prefiro dizer que o espetáculo se compõe de fragmentos engraçados,
uma espécie de túnel do tempo,
em que Elvis Presley se encontra
com Gandhi, Hitler, Jesus Cristo e
também Leonardo da Vinci, num
lugar que não é a Terra.
"A Breve Interrupção do Fim"
é, talvez, o prosseguimento da última cena de "2.001 - Uma Odisséia no Espaço", do Kubrick, em
que o embrião que viveu tudo
aquilo está pronto para nascer e
criar uma nova humanidade.
Folha - Há um tema central?
Thomas -Falo dos fracassos entre essa coisa chamada mulher e
essa coisa chamada homem, que
não há jeito, mesmo porque a
competitividade jamais deixaria
de existir e, infelizmente, o domínio do macho é quase inevitável.
Se o mundo fosse dominado pelas
mulheres, seria certamente um lugar mais interessante de se viver.
Folha - Hoje a dança o estimula
mais do que o teatro?
Thomas -Por mais careta que
seja, uma companhia de dança
tem algo mais jovial do que uma
companhia de atores joviais. De
vez em quando, ministro workshops de teatro e me impressiono
com o baixo nível. Se você fala de
Goethe, já não sabem muito bem o
que é. Como a dança moderna, essa coisa de Martha Graham, é desse século, você não tem que ter 550
anos de cultura, está restrito a 80
anos. É mais recente. A dança é
uma flor que ainda cheira bem, ao
contrário dessa planta morta, dessa folha de outono que é o teatro.
Espetáculo: A Breve Interrupção do Fim
Quando:
Onde: Teatro Sesiminas (
Quanto:
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|