São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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CRÍTICA

Um dos melhores filmes do ano, ponto

DE NOVA YORK

O que chama mais atenção em "Insônia", que estréia hoje nas salas de cinemas de São Paulo, não é o fato de ser uma das melhores obras do ano, refeita a partir de um igualmente excelente filme, o norueguês homônimo de 1997, e direcionada para uma platéia que tenha mais de dois neurônios.
Não é também por ser o primeiro longa hollywoodiano do brilhante anglo-americano Christopher Nolan, que desestruturando o roteiro ajudou a reinventar o thriller com seu "Amnésia/Memento" (2000). Ou por se tratar de um noir que se passa o tempo todo às claras, uma ironia genial.
Nem mesmo por conseguir arrancar de Al Pacino seu melhor desempenho da última década, revelar que Hilary Swank pode ir além de sua atuação (e seu Oscar) em "Boys Don't Cry" e transformar o chato Robin Williams num dos mais assustadores personagens dos últimos tempos.
O que chama mais atenção em "Insônia" é o cansaço quase insuportável que você, na platéia, vai sentindo ao acompanhar a trajetória do personagem interpretado por Pacino conforme ele não vai conseguindo dormir e suas olheiras vão crescendo.
O diretor Nolan leva um cinema inteiro a bocejar, não de tédio, como a maioria dos filmes deste ano, mas de desespero.
E o detetive Will Dormer (Pacino) tem bons motivos para sofrer da doença do título. Primeiro, porque ele veio de Los Angeles chamado por um velho amigo para ajudar a resolver um crime violento na cidade de Nightmute, no Alasca, no período do ano em que o sol nunca se põe.
Segundo, porque ele acidentalmente mata seu parceiro (Martin Donovan), que ameaçava confessar à Corregedoria que Dormer havia forjado uma das provas que levou um pedófilo confesso à cadeia, o que poderia soltar não só este como diversos criminosos presos pelo detetive veterano.
Terceiro, porque ele é obrigado a fazer um acordo secreto com o escritor (Robin Williams) que cometeu o assassinato que o detetive veio investigar, acordo que vai fugindo de controle e que leva a assistente local da polícia (Hilary Swank) a sutilmente começar a desconfiar da trama toda.
Por fim, por causa da janela de seu quarto, a maldita janela que Will Dormer leva no sobrenome (a tradução literal do inglês para o nome do personagem é uma das "inside jokes" de Christopher Nolan, ironia que se repete no nome da cidade e dos outros personagens principais) e que não o deixa dormir, por mais que ele tente tapar a luz que entra.
A janela é a metáfora para a sua consciência, mas isso você só vai perceber depois de quase duas horas de sofrimento.
(SÉRGIO DÁVILA)


Insônia
Insomnia     
Produção: EUA, 2002
Direção: Christopher Nolan
Com: Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Eldorado 2, Lumière 1 e circuito



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