São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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CINEMA/ESTRÉIAS

"VOU PARA CASA"

Aos 93 anos, cineasta português já preparou, depois desta que chega hoje ao Brasil, duas outras fitas

Manoel de Oliveira faz elogio ao recomeço

DA REPORTAGEM LOCAL

A olhos apressados, "Vou para Casa", que estréia hoje no Brasil, pode parecer um filme sobre a desistência. Mas se trata muito mais de um elogio ao recomeço o longa do incansável cineasta português Manoel de Oliveira, 93.
É pelo personagem de um ator (Gilbert Valence, interpretado brilhantemente por Michel Piccoli) que Oliveira faz sua metáfora da representação da vida e de seus ciclos de princípio e fim.
"Não escolho atores por acaso. Quando escolho o ator, é já o primeiro movimento do ato da encarnação do personagem. Pois é ele, o ator, que dá corpo, expressão e voz ao personagem. Ao diretor cabe meter o ator nas calhas do personagem, e ao ator cabe entregar-se totalmente à personagem", diz, em entrevista por e-mail à Folha.
Eterno iniciante -concluiu este ano outro longa, "O Princípio da Incerteza", que estreou no Festival de Cannes e tem exibição prevista no Brasil para outubro, na Mostra BR de Cinema de São Paulo-, Manoel de Oliveira diz que sempre foi um "amador de cinema, em qualquer época dessa já longa atividade, desde o primeiro filme, "Douro, Faina, Fluvial" (1931)".

Nada de definitivo
Se o amor à sua arte segue igual, o resto é impermanência: "Nem eu, nem o cinema, nem o mundo foram sempre a mesma coisa, não obstante cada um ser o que é a cada momento", diz, ao explicar o que o move a fazer filmes (à média de um por ano) e do que prescinde nesse trabalho.
"Nunca apresentei um filme com outra intenção além de que fosse visto e apreciado. Nunca me moveu a idéia de receber qualquer prêmio. E quando apresento, em Cannes ou em qualquer outro festival, um filme em concurso, é por insistência do produtor, que me pede que o faça, por colher daí maiores vantagens na comercialização dos filmes", afirma Oliveira.
Sobre o fato de o cinema ser considerado por muitos que vivem dele como uma atividade em crise permanente, diz: "Não acredito em nada de definitivo no mundo material. Tudo é transitório no cosmos, na Terra, nas sociedades e nas artes".
(SILVANA ARANTES)


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