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CINEMA/ESTRÉIAS
"VOU PARA CASA"
Aos 93 anos, cineasta português já preparou, depois desta que chega hoje ao Brasil, duas outras fitas
Manoel de Oliveira faz elogio ao recomeço
DA REPORTAGEM LOCAL
A olhos apressados, "Vou para
Casa", que estréia hoje no Brasil,
pode parecer um filme sobre a desistência. Mas se trata muito mais
de um elogio ao recomeço o longa
do incansável cineasta português
Manoel de Oliveira, 93.
É pelo personagem de um ator
(Gilbert Valence, interpretado
brilhantemente por Michel Piccoli) que Oliveira faz sua metáfora
da representação da vida e de seus
ciclos de princípio e fim.
"Não escolho atores por acaso.
Quando escolho o ator, é já o primeiro movimento do ato da encarnação do personagem. Pois é
ele, o ator, que dá corpo, expressão e voz ao personagem. Ao diretor cabe meter o ator nas calhas
do personagem, e ao ator cabe entregar-se totalmente à personagem", diz, em entrevista por e-mail à Folha.
Eterno iniciante -concluiu este ano outro longa, "O Princípio
da Incerteza", que estreou no Festival de Cannes e tem exibição
prevista no Brasil para outubro,
na Mostra BR de Cinema de São
Paulo-, Manoel de Oliveira diz
que sempre foi um "amador de cinema, em qualquer época dessa já
longa atividade, desde o primeiro
filme, "Douro, Faina, Fluvial"
(1931)".
Nada de definitivo
Se o amor à sua arte segue igual, o resto é impermanência: "Nem eu, nem o cinema, nem o mundo foram sempre a mesma coisa, não obstante cada um ser o que é a cada momento", diz, ao explicar o que o move a fazer filmes (à média de um por ano) e do que prescinde nesse trabalho.
"Nunca apresentei um filme com outra intenção além de que fosse visto e apreciado. Nunca me moveu a idéia de receber qualquer prêmio. E quando apresento, em Cannes ou em qualquer
outro festival, um filme em concurso, é por insistência do produtor, que me pede que o faça, por
colher daí maiores vantagens na
comercialização dos filmes", afirma Oliveira.
Sobre o fato de o cinema ser
considerado por muitos que vivem dele como uma atividade em
crise permanente, diz: "Não acredito em nada de definitivo no
mundo material. Tudo é transitório no cosmos, na Terra, nas sociedades e nas artes". (SILVANA ARANTES)
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