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CINEMA
"Olga" inaugura hoje a 32ª edição do festival gaúcho
Gramado apresenta filmes e rostos da TV
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em sua 32ª edição, que começa
hoje com a exibição "hors concours" do filme "Olga", de Jayme
Monjardim, o Festival de Gramado do Cinema Brasileiro e Latino
continuará tentando se equilibrar
entre dois pólos, o cinema "sério"
e o "star system" tupiniquim
(leia-se estrelas da Globo).
No pólo do prestígio cultural, há
uma forte presença da literatura
entre os filmes concorrentes. Na
competição brasileira, dois dos
cinco longas são baseados em
obras literárias: "O Quinze", de
Jurandir Oliveira, e "Vida de Menina", de Helena Solberg.
O primeiro é uma adaptação do
romance homônimo de Rachel de
Queiroz. Publicado em 1930, esse
clássico da literatura regionalista
trata da seca que assolou o Ceará
em 1915.
Pré-adolescência
O longa de Helena Solberg, por
sua vez, baseia-se no livro "Minha
Vida de Menina" (1952), em que a
escritora mineira Helena Morley
reconstitui sua pré-adolescência
em Diamantina (MG) nos anos
que se seguiram à abolição da escravidão e à Proclamação da República. No filme, a protagonista é
interpretada por Ludmila Dayer.
Entre os longas estrangeiros
-que participam de uma competição separada, embora o júri
seja o mesmo-, a literatura também dá as caras no argentino "Vereda Tropical", de Javier Torre,
que narra o exílio carioca do escritor Manuel Puig (autor de "O Beijo da Mulher-Aranha").
Há outro concorrente da faixa
"latina" que tem um pé no Brasil
(e na literatura): o português "O
Fascínio", de José Fonseca e Costa, cujo roteiro é do escritor gaúcho Tabajara Ruas.
Para o diretor do festival, Enoir
Zorzanello, não há disputa ou
contradição entre o lado sério e o
lado mundano do evento.
Defendendo-se da acusação de
que Gramado está virando cada
vez mais um desfile de celebridades televisivas, Zorzanello disse à
Folha que a direção do evento
"nunca descuidou da parte técnica, que são os bons filmes, os debates, as oficinas, os encontros de
profissionais do setor".
Segundo ele, os convites a atores
que estão em evidência nas telenovelas "são importantes para
deixar o público aquecido, e também o patrocinador".
Faz sentido. O Festival de Gramado, que neste ano está custando R$ 2,8 milhões (contra os R$
2,3 milhões da edição passada), é
mantido pelo patrocínio de grandes empresas como Petrobras,
Eletrobrás, Vivo, Nestlé e RGE,
via leis de incentivo.
Convidados
De acordo com Zorzanello, vão
à Gramado na época do festival
por volta de 120 mil pessoas. Desse total, mais de 15 mil são convidados credenciados.
Outro equilíbrio difícil buscado
pelo festival é entre os filmes brasileiros e estrangeiros. Festival exclusivamente nacional em suas
origens, Gramado recorreu a filmes latino-americanos durante a
paralisia do cinema brasileiro, no
início dos anos 90. Depois o evento se abriu também aos países europeus de língua latina.
Hoje há quem diga que o festival
deve voltar a ser só brasileiro. Outros opinam que filmes nacionais
e estrangeiros devem concorrer
aos mesmos prêmios.
"Há controvérsias, mas fizemos
uma pesquisa e concluímos que o
formato atual -competições separadas- é o preferido pela
maioria", diz Zorzanello.
Três longas completam a competição brasileira. "Procuradas",
de José Frazão e Zeca Pires, é um
policial ambientado em Florianópolis. Trata do desaparecimento
de duas garotas de programa.
"Araguaya - Conspiração do Silêncio", de Ronaldo Duque, reconstitui a guerrilha do Araguaia.
E "Filhas do Vento", de Joel Zito
Araújo, é a saga das mulheres de
uma família negra numa cidade
do interior.
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