São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999
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VÍDEO - LANÇAMENTOS
Esses diretores Malucos (Dalton TruMbo e Terrence Malick) e seus filmes Maravilhosos

FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

"Um homem só pode fazer uma coisa. Encontrar algo que é dele e fazer uma ilha para si mesmo". A frase é de um dos soldados de "Além da Linha Vermelha", que tenta preservar a consciência em meio ao terror da batalha de Guadalcanal, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial, reconstituída pelo diretor Terrence Malick no filme, indicado a sete Oscars, vencedor do festival de Berlim e que já está nas locadoras.
Mas a frase bem pode ser aplicada ao próprio Malick (leia quadro à dir.), cineasta bissexto com apenas três filmes em sua carreira. Dele, sabe-se que é roteirista e diretor, ou seja, cinema é "algo que é dele". Revelou talentos como Sissy Spacek, Richard Gere e Nestor Almendros e foi professor de filosofia. Mais informações, estão cuidadosamente guardadas na "ilha" em que ele vive.
Mas há situações em que, mesmo sem desejar, um homem é forçado a viver em uma ilha. Pode-se dizer que foi o que aconteceu com Dalton Trumbo (leia quadro à esq.), diretor de um único filme, "Johnny Vai à Guerra", em setembro nas locadoras.
Perseguido pelo macarthismo -o movimento de caça às bruxas empreendido por Hollywood nas décadas de 40 e 50 para identificar os colaboradores da indústria do cinema filiados ao comunismo-, Trumbo, escritor e roteirista, precisou usar pseudônimos para continuar trabalhando em algo que era dele, o cinema.
Ilhados por opção pessoal ou não, Malick e Trumbo compartilham o mesmo feito: deram ao cinema uma versão muito pessoal de um filme de guerra. Em "Além da Linha Vermelha" -adaptado do romance de James Jones- e "Johnny Vai à Guerra", o que menos se vê são canhões, tiros e a rivalidade entre nações, que, afinal, é o que dá sentido a uma guerra.
Ambos deslocam o foco narrativo do conflito político para o embate interior daqueles que encenam, em última análise, a guerra: os soldados nas trincheiras. "Johnny Vai à Guerra", premiado no festival de Cannes, que foi adaptado pelo próprio Trumbo de seu livro "Uma Arma para Johnny", concentra-se nas memórias de Joe (Timothy Bottoms), soldado ferido no último dia da Primeira Guerra Mundial.
Reduzido a um tronco e à parte anterior da cabeça, ele é deixado numa cama de hospital para ser exibido, posteriormente, como exemplo dos horrores da guerra. Mas desafia todas as leis conhecidas pela medicina da época, porque, ainda assim, pensa e sente.
Suas memórias, de antes da guerra e da própria, filmadas em cores e preto-e-branco, movem a narrativa. Trumbo dá ao personagem de Joe, imobilizado mas consciente, o peso de uma desesperadora metáfora do papel dos homens que fazem uma guerra e da guerra. Nem tão conscientes.
Muda o cenário, para a Segunda Guerra, mas o tom é o mesmo. Malick preenche o espaço paradisíaco das ilhas asiáticas, onde situa-se Guadalcanal, com o pensamento dos soldados, fantoches nas mãos de superiores desumanos, que tentam preservar a sua humanidade em meio à batalha.
Na sequência inicial, Witt (James Caviezel) pergunta por que a natureza luta com ela mesma e diz já ter ouvido falar de imortalidade, mas que nunca a viu. Malick e Trumbo fizeram de seus filmes de guerra um lírico protesto pela humanidade. E ganharam um pedacinho da imortalidade com isso.


Título: Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line) Diretor: Terrence Malick Produção: EUA, 1998, 170 min. Com: James Caviezel, Sean Penn, Ben Chaplin


Avaliação:     


Título: Johnny Vai à Guerra (Johnny Got His Gun) Diretor: Dalton Trumbo Produção: EUA, 1968, 111 min. Com: Timothy Bottoms, Don "Red" Barry, Kathy Fields

Avaliação:     


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