São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999
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TELEVISÃO
Dona Marta Suplicy e as paternidades

TELMO MARTINO
Colunista da Folha


Marta Suplicy está, outra vez, com programa de TV. Chama-se "Jogo Aberto" e é muita falação para as noites de sábado da Band. Ela veste um terninho preto e um pulôver bege bem quentinho. Com todas as DST que estão proliferando por aí, ela quer mudar de assunto. Quer falar da paternidade nos dias de hoje.
Com um círculo mais povoado do que as sessões no Congresso, dona Marta estabeleceu a confusão. Quem tinha história interessante para contar era interrompido para que todo mundo pudesse falar. Imagine o arrependimento de quem foi interrompido para que a Mara (née Maravilha) pudesse falar. Até a história dela era gorda. Tinha dois pais. Odiava o verdadeiro e amava o padrasto. Com seu kit de primeiros socorros, a Marta chegou rápido, dizendo que a mãe destrói a imagem do pai.
Marta Suplicy deu preferência a nomes conhecidos. Tinha, por exemplo, a moça que o pai não quis aceitar a conclusão do DNA. Era a filha do Pelé, "uma referência muito bonita". Depois dela foi a vez do médico Adib Jatene. Mesmo com o brilho da CPMF no olhar, foi envolvente o doutor Jatene contar que perdeu o pai, médico, aos 2 anos, mas, influenciado pela imagem que a mãe preservou, tornou-se médico e tem três filhos médicos.
Com aquele círculo superpovoado, a dona Marta tinha que ser ríspida em suas interrupções. A psicanalista Ana Verônica Mautner foi uma vítima contente. Apesar do seu ar alegre e aconchegante, era despachada, deixando sensação de perda. Até o Leão Lobo estava lá. Ele é pai, "mas não de produção". Os parênteses não foram suficientes. Quando ele voltou a falar, a dona Marta fez questão de chamar a atenção para sua condição de "ho-mos-se-xu-al"". "Mas a mãe da menina mora comigo". Dona Marta não sabia o que fazer com tanta gente. E aquele homossexual querendo falar duas vezes.
Até o filho do Roberto Carlos foi. Dona Marta vai acabar editando "Caras", já que seus dias de "Bundas" ela tem pânico de que sejam reativados. O rapazinho disse que a mãe mantém muito positiva a imagem do pai.
Outra história emocionante foi a de um pai de cavanhaque que ficou com três filhos pequenos com a morte da mulher. Mas a dona da arena achou que não rendia polêmica. Guilherme Arantes, o músico, disse que tinha um filho em cada canto, com afeto para todos. Também não era bem isso. Tentou-se o filho da mãe de gravata. Ele disse, bonitinho, que os pais se separaram, mas a família é perene. O padre Júlio Lancellotti, o pai dos aidéticos, foi respeitado. Ele é uma contribuição para o final.
Toda a falação era para provar que a família se transforma e um novo caminho se delineia. É o que Marta Suplicy quer, e está certa. Só porque, é claro, ela é a dona do programa. Não é à toa que os filhos dela não falam. Cantam. Um exemplo de família muito bem delineada.


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