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CINEMA
"Il Dolce Cinema", do diretor norte-americano, encerrou a edição deste ano do festival italiano
Veneza acaba com Scorsese inacabado
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Martin Scorsese encerrou o festival de Veneza com a primeira
exibição pública de "Il Dolce Cinema". Logo na primeira cena,
deixa claro ser um título provisório para uma versão de trabalho.
Exibido aqui com 90 minutos,
metade da duração planejada para o projeto acabado, "Il Dolce Cinema" é uma história sentimental
de seu cinema italiano. Os primeiros 30 minutos são dedicados às
origens familiares da descoberta
daqueles filmes.
Os avós do cineasta, tanto do lado paterno quanto materno, trocaram a Sicília italiana pela Nova
York do início do século. Aos sábados à noite, já no pós-guerra,
assistiam com os filhos, netos e
amigos às sessões de cinema italiano na nascente TV americana.
"Pela primeira vez descobri de
onde eu vinha", diz o cineasta.
"Paisà" (1946), de Rossellini, introduziu o garoto Martin, aos seis
anos, ao que mais tarde descobriria se tratar do neo-realismo. "Para mim", confessa Scorsese, "o
neo-realismo é o mais precioso
momento da história do cinema".
O diretor lembra com nostalgia
o contraste entre o escapismo dos
faroestes americanos das sessões
de cinema e o choque de realidade
daqueles filmes na TV aos fins-de-semana. Além do neo-realismo, Scorsese descobriu na sala de
seus pais também o cinema épico
feito na Itália.
Uma das delícias do documentário é uma sucessão de desenhos
feitos por Scorsese quando garoto, à moda de "storyboards", daquelas produções. "The Eternal
City" ("A Cidade Eterna") intitulava-se seu épico de papel.
Nessa versão provisória, "Il Dolce Cinema" sobrevoa o cinema de
Alessandro Blasetti e apenas cita o
pioneiro "Cabiria" (1914), de Giovanni Pastrone. O coração do filme, e de Scorsese, é decididamente neo-realista.
Empenhado em apresentar esta
produção às novas gerações,
Scorsese recorre a trechos muito
mais longos de filmes do que os
que utilizara no similar "Uma
Viagem Pessoal Pelo Cinema
Americano" (1995). Ainda assim,
o projeto total vai apresentar imagens de 130 filmes. O foco está no
período entre a explosão neo-realista e a revelação de Scorsese como cineasta, isto é, grosso modo,
de 1945 ao início dos anos 70.
Roberto Rossellini (1906-77) é o
rei de "Il Dolce Cinema". Sua carreira é apresentada em detalhes,
dividida em três grandes fases: a
neo-realista ("Roma, Cidade
Aberta" e "Paisà", o preferido de
Scorsese), a fase modernista com
Ingrid Bergman ("Viagem à Itália" e "Stromboli") e a radicalização experimental dos últimos
anos ("A Chegada ao Poder de
Luis 14"). "Rossellini é dos poucos
cineastas a ousar mais quanto
mais envelhece", afirma Scorsese.
Michelangelo Antonioni é outra
paixão evidente. Scorsese contrapõe "A Doce Vida" (1960), de Fellini, à "A Aventura" (1959), de
Antonioni. "Gostei do primeiro,
mas fiquei chocado com o segundo", afirma. ""A Aventura" foi um
ponto de virada em minha experiência com o cinema."
O resumo se encerra com uma
homenagem às comédias de Vittorio De Sica, que já citara anteriormente na seção neo-realista
com "Ladrões de Bicicletas"
(1948). Scorsese relembra o prazer infantil de ver e rever Sophia
Loren e De Sica na comédia "O
Ouro de Nápoles" (1954).
Na conclusão, Scorsese afirmou
que vários outros cineastas estarão na versão integral, num arco
que vai da era muda de Pastrone
("Cabiria") à geração dos anos 70,
de Lina Wertmüeller e dos Taviani, passando por Rosi, Pontecorvo, Bertolucci e Leone. Recusou-se a fazer previsões de data de lançamento da versão definitiva.
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