São Paulo, Quinta-feira, 16 de Setembro de 1999
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MUNICIPAL, SP, 13/9

Van Dam é artesão refinado


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Impecável não chegou a ser, mas o recital do baixo-barítono belga José van Dam, 59, segunda-feira à noite, na série do Mozarteum Brasileiro, foi certamente um dos mais sofisticados espetáculos musicais da temporada paulistana de 99.
Van Dam deixou de lado malabarismos vocais da ópera para brindar o público com 22 canções: 11 de autores alemães e 11 de franceses. Seria redutor, contudo, ver diferenças de caracterização de Van Dam apenas em função do idioma empregado nas obras; ou entre cada compositor (ele cantou Brahms, Richard Strauss, Fauré, Duparc e Ravel); ou mesmo ainda de canção para canção.
Na verdade, para dar a noção exata da caleidoscópica riqueza da meticulosa interpretação do cantor seria preciso analisar cada linha de cada obra, e mostrar como as maduras escolhas de fraseado de Van Dam sempre variam em função da intenção do texto, dos intervalos melódicos e das progressões harmônicas.
Com um trabalho de artesão, o belga utilizou com maestria sutis efeitos como a "mezza voce" para tingir as obras das mais diversas colorações.
Isso não seria possível sem uma técnica impecável. Clara, a dicção permitiria que se anotasse cada linha dos textos; a emissão jamais caiu na monotonia; e o apoio, sólido, permitia sustentar pianíssimos longos.
Houve alguns poucos problemas, mas seria mesquinho, contudo, pretender que tais pecadilhos pudessem ter comprometido decisivamente uma apresentação na qual os erros foram a exceção, e, o refinamento, a regra.


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