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ANÁLISE
A revanche do cinema de autor
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Num mercado crescentemente
dominado pelo cinemão pasteurizado de Hollywood, o Festival
do Rio, assim como a tradicional
Mostra de Cinema de São Paulo,
assume o sentido de uma efêmera, mas intensa, revanche do cinema de autor.
Beneficiado por uma boa safra
internacional, o evento carioca
traz em primeira mão as novas
obras de praticamente todos os
grandes autores em atividade, de
Robert Altman a Pedro Almodóvar, de Manoel de Oliveira a Shohei Imamura, de David Cronenberg a Takeshi Kitano.
O festival é também uma ótima
oportunidade para separar o trigo
do joio, permitindo verificar
quais, entre os cineastas célebres
da atualidade, ainda têm o que dizer e quais se escondem atrás das
grifes que criaram.
O britânico Mike Figgis, com o
maneirista e publicitário "A Perda da Inocência Sexual", está no
segundo caso, assim como o espanhol Carlos Saura e seu "Tango",
no qual imagens deslumbrantes
encobrem um vazio de idéias
constrangedor.
No extremo oposto está, por
exemplo, o perturbador "eXistenZ", criado por David Cronenberg, um dos grandes cineastas de
nossa época.
Nesse seu novo pesadelo, que já
foi definido como "o "Matrix" do
público adulto", o diretor canadense aprisiona o espectador
num perverso e sangrento jogo
virtual.
Numa linha de abordagem totalmente distinta -a do mais
brutal realismo social-, dois filmes europeus deverão causar
muito impacto: "Começa Hoje",
de Bertrand Tavernier, e "Meu
Nome É Joe", de Ken Loach.
O primeiro é protagonizado pelo diretor da pré-escola pública de
um lugarejo do norte da França.
O segundo por um ex-jogador de
futebol que se recupera do alcoolismo, no interior da Escócia.
Ambos mostram o fundo do
poço a que foram lançados os excluídos da "modernização liberal" da Europa.
O cinema norte-americano
não-lobotomizado marca presença com pelo menos dois grandes
títulos: "A Fortuna de Cookie", de
Robert Altman, e "O Cadete
Winslow", de David Mamet.
O filme de Altman aproxima-se,
no espírito e na forma, de seu
"Kansas City".
É uma deliciosa comédia de
costumes com andamento musical (aqui, marcada pelo blues),
entrelaçando as histórias de vários personagens e retratando cada um deles com um misto de humor e afeto.
"O Cadete Winslow" mostra a
habilidade de Mamet para trabalhar a concentração dramática em
temas aparentemente infilmáveis.
Aqui, ele transforma em intenso
drama moral a história de um
menino acusado de roubar um
vale postal, numa escola militar
da Inglaterra de 1914.
Além desses grandes nomes, o
festival traz os novos filmes de autores importantes ainda pouco
conhecidos no Brasil, como o italiano Gianni Amelio ("Cosi Ridevano"), o português João César
Monteiro ("As Bodas de Deus") e
o norte-americano Neil La Butte
("Seus Amigos, Seus Vizinhos").
Enfim, cinema de verdade, com
inúmeras caras.
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