|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Raoul Vaneigem devolve a política à vida cotidiana
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O único momento em que nos
entregamos completamente é o
orgasmo. Assim escreveu Raoul
Vaneigem em 1967; assim completou em 1991: a "história desumana" está prestes a se converter
em "realização da humanidade".
"A Arte de Viver para as Novas
Gerações", principal manifesto
das idéias do pensador belga, que,
ao lado de "Sociedade do Espetáculo", de Guy Debord, antecipava
em palavras as revoltas de maio
de 68, na França, chega enfim ao
país num volume de 296 páginas
aparentemente muito pouco
amareladas.
A obra jamais havia sido editada
no Brasil, sendo que a única versão em português fora publicada
em 74, em Portugal .
Espécie de tratado sobre a realidade vivida em oposição à experiência mediada ou mediatizada,
o texto ataca as ideologias prontas
-"os analistas estão nas ruas",
"existem cem maneiras de estar
ao lado do poder"-, os estereótipos e contratos sociais, o trabalho
e a arte. Para Raoul Vaneigem, só
há um caminho para a felicidade:
a refeitura do mundo.
Tentativa de reoxigenação do
marxismo, então engessado pelas
políticas de partido, a obra, escrita
em primeira pessoa em 1967,
transmite a angústia e o inconformismo do autor diante daquilo
que resolveu chamar de sociedade do espetáculo, na qual o indivíduo recusa a espontaneidade da
vida em favor de um jogo de cartas marcadas, concretizado por
meio do consumo.
"Sonhos em um vestiário"
Seu chamado revolucionário ou
"revolução sem nome" não parte,
portanto, de uma organização
sindical ou do desempenho de papéis pré-definidos dentro da sociedade. A munição revolucionária, defende o autor, é a criatividade; a poesia, sua arma -a mensagem parece ter sido percebida,
anos depois, quando manifestantes antiglobalização saíram às
ruas de Praga para barrar uma
reunião do Banco Mundial vestindo roupas de natação e bóias
de borracha.
Nascido em 1934, na pequena
Lessines, na Bélgica, e conterrâneo de surrealistas como Magritte, Vaneigem foi um dos principais nomes por trás do (anti)movimento conhecido como Internacional Situacionista.
A paixão pela política e pela vida
-"não tenho como deixar guardados meus sonhos em um vestiário"- fizeram com que Vaneigem e Guy Debord, que se suicidou em 94, tomassem rumos distintos logo no início dos anos 70.
A ARTE DE VIVER PARA AS NOVAS
GERAÇÕES. Autor: Raoul Vaneigem.
Lançamento: Conrad Editora. Preço: R$
35 (296 págs.).
Texto Anterior: Seminário reúne sociólogos franceses hoje Próximo Texto: Análise: Autor atualiza idéias Índice
|