São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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Raoul Vaneigem devolve a política à vida cotidiana

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O único momento em que nos entregamos completamente é o orgasmo. Assim escreveu Raoul Vaneigem em 1967; assim completou em 1991: a "história desumana" está prestes a se converter em "realização da humanidade".
"A Arte de Viver para as Novas Gerações", principal manifesto das idéias do pensador belga, que, ao lado de "Sociedade do Espetáculo", de Guy Debord, antecipava em palavras as revoltas de maio de 68, na França, chega enfim ao país num volume de 296 páginas aparentemente muito pouco amareladas.
A obra jamais havia sido editada no Brasil, sendo que a única versão em português fora publicada em 74, em Portugal .
Espécie de tratado sobre a realidade vivida em oposição à experiência mediada ou mediatizada, o texto ataca as ideologias prontas -"os analistas estão nas ruas", "existem cem maneiras de estar ao lado do poder"-, os estereótipos e contratos sociais, o trabalho e a arte. Para Raoul Vaneigem, só há um caminho para a felicidade: a refeitura do mundo.
Tentativa de reoxigenação do marxismo, então engessado pelas políticas de partido, a obra, escrita em primeira pessoa em 1967, transmite a angústia e o inconformismo do autor diante daquilo que resolveu chamar de sociedade do espetáculo, na qual o indivíduo recusa a espontaneidade da vida em favor de um jogo de cartas marcadas, concretizado por meio do consumo.

"Sonhos em um vestiário"
Seu chamado revolucionário ou "revolução sem nome" não parte, portanto, de uma organização sindical ou do desempenho de papéis pré-definidos dentro da sociedade. A munição revolucionária, defende o autor, é a criatividade; a poesia, sua arma -a mensagem parece ter sido percebida, anos depois, quando manifestantes antiglobalização saíram às ruas de Praga para barrar uma reunião do Banco Mundial vestindo roupas de natação e bóias de borracha.
Nascido em 1934, na pequena Lessines, na Bélgica, e conterrâneo de surrealistas como Magritte, Vaneigem foi um dos principais nomes por trás do (anti)movimento conhecido como Internacional Situacionista.
A paixão pela política e pela vida -"não tenho como deixar guardados meus sonhos em um vestiário"- fizeram com que Vaneigem e Guy Debord, que se suicidou em 94, tomassem rumos distintos logo no início dos anos 70.



A ARTE DE VIVER PARA AS NOVAS GERAÇÕES. Autor: Raoul Vaneigem. Lançamento: Conrad Editora. Preço: R$ 35 (296 págs.).


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