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Livros
Crítica/romance
Pop e poesia movem "Sayonara, Gangsters"
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
A afirmação veemente
em cada um dos parágrafos de "Sayonara,
Gangsters" é a de que, sim, tanto a poesia como a "tal" literatura experimental podem ser
divertidas. É o que mostra esse
primeiro romance do escritor
japonês Genichiro Takahashi
lançado no Brasil, e não só isso,
pois outros adjetivos surgirão
conforme a leitura avançar: podem ser comoventes, excêntricas e também muito inusitadas.
Igualmente imprevisto é o
fato de a edição brasileira ser a
segunda tradução do livro, publicado em 1982 no Japão, ora
vertido para o português por
Jefferson J. Teixeira. E que não
deve nada à primeira, traduzida
por Michael Emmerich para o
inglês em 2004, notadamente
pela manutenção do humor
trocadilhesco, além das corretas remissões a aspectos dos
entrechos reverentes à cultura
pop norte-americana, e ainda
-e quase à beira da exaustão-
à história da literatura. Sem
nunca deixar de ser engraçado.
Não sobrevivendo apenas de
referências, a história, ou melhor dizendo, as histórias, também primam pelo transbordamento imaginativo: num futuro onde pessoas são nomeadas
pelos amantes e não por seus
parentes, o protagonista Sayonara, Gangsters (assim batizado por sua namorada Song
Book de Miyuki Nakajima) dá
aulas numa escola de poesia
onde ninguém faz atividade alguma, a não ser conversar: "Eu
não faço praticamente nada
aqui. Podemos dizer que minha
função é a de um controlador
de tráfego", explica o professor.
Os alunos são tão engraçados
quanto a idéia (acertada, diga-se) de a poesia como prática vã
de estetização de uma realidade em constante transformação. Entre eles há uma "Coisa
Incompreensível" que emite
ruídos estranhos e muda de
cor, um rapaz que paga o curso
com picolés de baunilha, o poeta latino Virgílio metamorfoseado numa geladeira (os bacanais entre os poetas clássicos
por ele narrados são hilários) e,
claro, há os "gangsters".
Os "gangsters" Calado, Baixinho, Gorducho e Bonitão são
um bando de terroristas que
apavora o mundo e que têm por
hábito assassinar programaticamente presidentes norte-americanos. O 66º deles, John
Smith Jr., é morto no início do
livro, com a cabeça explodida
ao mascar um chiclete-bomba.
Chega um dia em que os
"gangsters" decidem ter aulas
de poesia. O que os leva a tal extremismo não deve ser revelado aqui, com sérios riscos de
desmanchar o prazer do leitor.
E a resenha poderia seguir
assim, enumerando linhas narrativas presentes no romance
de Takahashi, e não dizer o que
nunca se evidencia, o fato de
que o termo "experimental" é
sempre usado pelos críticos como sinônimo de "chato". É fácil
constatar como essa imposição
soaria limitada diante de "Sayonara, Gangsters", cujo parentesco é mais devedor do surrealismo irônico de Richard Brautigan e Kurt Vonnegut do que
de toda a ficção japonesa.
"Ah, como a realidade pode
ser chata diante da literatura",
Takahashi parece dizer. E diz.
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de
"Hotel Hell" (Livros do Mal), entre outros.
SAYONARA, GANGSTERS
Autor: Genichiro Takahashi
Tradução: Jefferson José Teixeira
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 39,90 (296 págs.)
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