São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

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Filme reproduz dia em que Bobby Kennedy morreu

Com cenas de ficção e imagens de arquivo, "Bobby" tem direção de Emilio Estevez e nomes como Anthony Hopkins e Sharon Stone

EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A TORONTO

Quando Emilio Estevez começou a escrever "Bobby", em 2000, não imaginava que sua segunda experiência na direção de um longa-metragem teria tantos pontos de interseção com o momento político atual.
Estevez reúne 22 personagens fictícios que espelham o estado de espírito político e social dos Estados Unidos no dia do assassinato do então candidato democrata à Presidência, o senador Robert F. Kennedy.
Havia a malsucedida guerra contra o Vietnã, como há hoje a desastrosa campanha americana no Iraque. E havia conflitos étnicos (Martin Luther King tinha sido morto apenas dois meses antes).
"Comecei a escrever o roteiro um ano antes de os ataques do 11 de Setembro virarem o mundo de cabeça para baixo.
Infelizmente, o filme se tornou mais atual com o governo Bush", disse Estevez em entrevista coletiva concedida em Toronto. "Estamos num momento crítico na civilização, e o filme nos relembra a mensagem de Bobby, de que todos somos irmãos e que nosso futuro depende de nós."

Da recepção ao filme
Estevez chorou ao se lembrar do bloqueio e conseqüente crise pessoal que teve quando, ainda em 2000, empacou na 30ª página do roteiro. Havia dez anos que ele estava sem atuar, esquecido no que chamou de "prisão do cinema". Foi quando viajou para um pequeno hotel no norte dos Estados Unidos, e a recepcionista do estabelecimento acabou virando personagem.
"Ela estava no hotel Ambassador quando Bobby foi assassinado e havia casado com dois garotos para livrá-los do serviço no Vietnã", contou Estevez, que criou um personagem inspirado na recepcionista, vivido pela atriz Lindsay Lohan. "Depois que ela me disse que a morte de Bobby havia puxado o tapete da sua geração, consegui voltar a escrever, e as 30 páginas logo viraram 160."
Misturando ficção e imagens de arquivo, "Bobby" se passa no dia 5 de junho de 1968, dia em que Bobby foi assassinado pelo jovem de origem palestina Sirhan B. Sirhan, personagem cujas razões não são descritas no filme ("Ele não merecia aparecer; o que fez foi um insulto à nossa comunidade", disse Estevez). O pano de fundo é o Hotel Ambassador, em Los Angeles, onde Bobby fez seu último discurso e local onde o crime aconteceu.
Estevez reuniu um elenco estelar para seu filme: Anthony Hopkins (como um veterano porteiro do hotel), William H. Macy (no papel do gerente), Sharon Stone (dona do salão de beleza do lugar), Demi Moore (uma cantora alcoólatra) etc.
Os personagens espelham os Estados Unidos do fim dos anos 60. Mas o engajamento político dos atores soa bem atual. "Matar o mensageiro foi possível. Mas seu sonho de paz continua", disse Stone. "O que acho incrível é que o filme retoma um sentimento de esperança num momento tão desesperançoso", completou Moore.


O repórter EDUARDO SIMÕES viajou a convite do consulado do Canadá em São Paulo

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