São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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BIA ABRAMO

O desafio de um mundo pouco fantástico


Será que a queda de ibope do "Fantástico" não se explica por um desgaste da fórmula?


QUAL É o problema do "Fantástico"? A Globo vem tentando de tudo, há tempos, para reverter uma queda constante e significativa de audiência de um dos programas mais longevos da televisão brasileira, mas algo parece não encaixar mais.
As tentativas foram para todos os lados. Voltou-se a investir em jornalismo (de certa maneira); iniciou-se uma série de quadros, digamos, paradidáticos sobre filosofia, problemas variados de saúde, economia e, agora, história do Brasil; botaram repórteres, apresentadores e atores para viajar o mundo em busca de paisagens exóticas; ampliou-se e diversificou-se a oferta de matérias de serviços...
Os números amealhados por essa coletânea de programetes na qual acabou se transformando o "Fantástico", entretanto, não sobem e continuam em patamares considerados insatisfatórios. Deve haver uma soma de fatores influenciando esse relativo desinteresse do público, mas será que para isso também não concorre simplesmente um envelhecimento fatal da fórmula?
Quando o "Fantástico" estreou, lá naqueles longínquos anos 70, a oferta de imagens, para ficar numa coisa bem básica, era muito mais modesta. A idéia de tratar informação como entretenimento não era exatamente inédita -as revistas ilustradas, as magazines, precederam a televisão-, mas era certamente mais escassa.
O jornalismo transformado em show, as versões televisivas dos velhos formatos teatrais e do mundo dos espetáculos, a tecnologia de satélite que trazia imagens raras de todos os cantos do globo formavam um cardápio de novidades que eram capazes de maravilhar.
O espectador contemporâneo, criado nessa dieta hipercalórica de imagens inventada pela televisão e, por extensão, pela própria Globo, de alguma forma perdeu a capacidade de se maravilhar -o que seria ótimo, se essa tivesse sido substituída pela reflexão, mas sabemos que não é bem isso. É um sujeito entediado, mas pouco criterioso; difícil de contentar, não porque saiba muito, mas por já não querer saber de nada.

 


Essa coluna já falou muitas vezes de "Paraíso Tropical", por diferentes razões jornalísticas e também porque gosta da novela. Mas a "participação especial" de Ivete Sangalo, num merchandising escancarado, completamente deslocado de qualquer contexto da trama, não deu para engolir. E isso justamente no capítulo em que, numa cena caliente e emocionante, Bebel e Olavo finalmente fizeram as pazes... Ivete balançando o cabelão e fazendo propaganda de tintura estragou tudo.


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