São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Crítica/"Carrie, a Estranha"

De Palma faz mistura de sexo e terror

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Já faz agora mais de 30 anos que "Carrie, a Estranha" (TC Cult, 22h) entrou no mundo do cinema, pelas mãos de Brian De Palma, renovando o conceito de filme de terror, retirando-o do mundo sobrenatural, explicitando-lhe o caráter sexual.
Sim, porque não há em "Carrie" terror que não passe pela sexualidade. Existe, para começar, o sangue menstrual que jorra de uma jovem como se atravessada por um punhal. A descoberta da feminilidade equivale, aqui, a um crime. Há também as garotas do colégio: delinqüentes às voltas com uma erotização a que não conseguem dar saída, exceto pela agressividade.
Existe, em oposição a esse mundo erotizado, a permanência de um puritanismo radical, em que todo o mal passa pelo corpo: somos filhos do pecado original, sujos por natureza.
Isso estourou num momento em que a sexualidade era tida como natural. Brian De Palma, misógino por excelência, ia na contracorrente desse ideário simplificador. Estava mais próximo de Antonin Artaud, para quem o sexo era sombrio.
O fato é que cada cena parece tocada por um vermelho infernal, por uma intensidade quase abusiva que banha esses personagens. Talvez por isso fosse mesmo necessário que, ao final, "Carrie" desse um salto do terror natural ao sobrenatural. Não apenas um susto derradeiro, e sim uma maneira de lembrar que o "além túmulo" é logo ali, a sete palmos, e um produto de nossas fantasias.


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