São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Jerry Lee Lewis, 73, põe fogo no piano em SP

Chamas serão metafóricas, já que músico não quer conhecer uma "prisão brasileira"

Compositor de "Great Balls of Fire", que canta na cidade na sexta, conta como foi expulso da universidade por tocar piano nos anos 50


IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

O matador, a fera do rock, o homem que coloca (literalmente) fogo no piano toca nesta sexta em São Paulo. Aos 73 anos, Jerry Lee Lewis está renovado pelas críticas positivas a seu último disco, "Last Man Standing" (2006). O título se refere ao Million Dollar Quartet, como ficou conhecida a reunião, em 1956, de Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash e Lewis, este o último homem ainda de pé (last man standing).
Lewis volta ao Brasil após 16 anos. "Lembro que as pessoas eram calorosas e amigáveis. Oh, e as mulheres são lindas", diz à Folha o homem que se casou seis vezes, uma delas com a prima de 13 anos (ele tinha 23).
O autor de clássicos como "Great Balls of Fire", "Whole Lotta Shakin" Goin" On" (ambas de 1957) e "Breathless" (1958) não se recorda muito mais do Brasil. "O ano de 1993 foi duro para mim. Estou bem mais feliz agora." Abaixo, a entrevista, concedida por e-mail.

FOLHA - Indo direto ao assunto, o senhor pretende incendiar o piano em SP, como fazia nos anos 50?
JERRY LEE LEWIS
- Não, não quero ver como é uma prisão brasileira por dentro [risos]. Eu toquei muito com Chuck Berry e virou uma disputa entre nós ver quem era o mais doido [risos]. E quando eu colocava fogo no piano, era impossível que ele revidasse à altura [risos]. Ninguém sacaneia The Killer [O Matador, apelido carinhoso de Jerry Lee Lewis].

FOLHA - Existe toda uma geração que conhece o senhor apenas pelo filme "A Fera do Rock" ["Great Balls of Fire", 1989]. Uma vez que a produção foi baseada na autobiografia de Myra Gale Lewis, a prima com quem o senhor se casou quando ela tinha 13 anos, a pergunta é: o filme é fiel aos fatos?
LEWIS
- Vejo o filme hoje um pouco melhor do que na época. Há partes boas, que me fizeram rir, mas não acho que o verdadeiro Jerry Lee Lewis está ali. Myra e eu somos amigos e temos uma linda filha. Tivemos também um filho, que morreu. Myra escreveu a verdade dela e muito daquilo é minha verdade também. Posso não concordar com algumas coisas, mas Myra não estava tentando ferir ninguém. Mas não vou mentir, tivemos alguns desentendimentos por causa do filme.

FOLHA - E o que o senhor diz da interpretação de Dennis Quaid como Jerry Lee Lewis?
LEWIS
- Ele é um cara ótimo e o considero um amigo. Ninguém vai se ver sendo interpretado e achar que está certinho. Ele fez o melhor, mas em algumas cenas usaram imagens das minhas mãos no teclado (risos).

FOLHA - O escândalo do casamento com sua prima afundou sua carreira em 1958. Algum arrependimento do que fez?
LEWIS
- Nenhum. Estava apenas vivendo minha vida.

FOLHA - O senhor está casado? Quantas mulheres teve?
LEWIS
- Sou solteiro! Acho que fui casado seis vezes (risos).

FOLHA - É verdade que o senhor teve apenas uma aula de piano?
LEWIS
- É, sim. O professor não gostou do meu jeito e eu decidi que aquilo não era pra mim. Peguei algumas dicas com meu primo mais velho, Carl McVoy. Ele era pianista e me explicou segredos do estilo boogie-woogie que tocava no rádio. Misturei aquilo com gospel e country e fui criando um estilo.

FOLHA - E quanto a ser expulso da universidade por tocar piano?
LEWIS
- Eu frequentava a Universidade Assembleia de Deus do Sudoeste em Waxahachie, Texas. Minha mãe estava certa de que, a partir de então, eu me dedicaria exclusivamente a canções louvando o Senhor. Mas ousei tocar "My God Is Real" [meu Deus é real] em ritmo de boogie-woogie, e eles me mandaram pra casa na mesma noite (risos). Eu só estava tentando deixar os rapazes mais envolvidos com o gospel...

FOLHA - É o senhor mesmo que está teclando essas respostas, como faz com o piano?
LEWIS
- Estou falando, mas não teclando. Nunca aprendi a datilografar, só a tocar piano. É a única coisa em que coloco os dedos, além de mulher bonita.


Texto Anterior: CDs
Próximo Texto: Há ingressos para SP, BH e Porto Alegre
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.