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MÚSICA
Jerry Lee Lewis, 73, põe fogo no piano em SP
Chamas serão metafóricas, já que músico não quer conhecer uma "prisão brasileira"
Compositor de "Great Balls of Fire", que canta na cidade na sexta, conta como foi expulso da universidade por tocar piano nos anos 50
IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
O matador, a fera do
rock, o homem que coloca (literalmente) fogo no
piano toca nesta sexta em
São Paulo. Aos 73 anos,
Jerry Lee Lewis está renovado pelas críticas positivas a seu
último disco, "Last Man Standing" (2006).
O título se refere ao Million
Dollar Quartet, como ficou conhecida a reunião, em 1956, de
Elvis Presley, Carl Perkins,
Johnny Cash e Lewis, este o último homem ainda de pé (last
man standing).
Lewis volta ao Brasil após 16
anos. "Lembro que as pessoas
eram calorosas e amigáveis. Oh,
e as mulheres são lindas", diz à
Folha o homem que se casou
seis vezes, uma delas com a prima de 13 anos (ele tinha 23).
O autor de clássicos como
"Great Balls of Fire", "Whole
Lotta Shakin" Goin" On" (ambas de 1957) e "Breathless"
(1958) não se recorda muito
mais do Brasil. "O ano de 1993
foi duro para mim. Estou bem
mais feliz agora." Abaixo, a entrevista, concedida por e-mail.
FOLHA - Indo direto ao assunto, o
senhor pretende incendiar o piano
em SP, como fazia nos anos 50?
JERRY LEE LEWIS - Não, não quero
ver como é uma prisão brasileira por dentro [risos]. Eu toquei
muito com Chuck Berry e virou
uma disputa entre nós ver
quem era o mais doido [risos].
E quando eu colocava fogo no
piano, era impossível que ele
revidasse à altura [risos]. Ninguém sacaneia The Killer [O
Matador, apelido carinhoso de
Jerry Lee Lewis].
FOLHA - Existe toda uma geração
que conhece o senhor apenas pelo
filme "A Fera do Rock" ["Great Balls
of Fire", 1989]. Uma vez que a produção foi baseada na autobiografia
de Myra Gale Lewis, a prima com
quem o senhor se casou quando ela
tinha 13 anos, a pergunta é: o filme
é fiel aos fatos?
LEWIS - Vejo o filme hoje um
pouco melhor do que na época.
Há partes boas, que me fizeram
rir, mas não acho que o verdadeiro Jerry Lee Lewis está ali.
Myra e eu somos amigos e temos uma linda filha. Tivemos
também um filho, que morreu.
Myra escreveu a verdade dela e
muito daquilo é minha verdade
também. Posso não concordar
com algumas coisas, mas Myra
não estava tentando ferir ninguém. Mas não vou mentir, tivemos alguns desentendimentos por causa do filme.
FOLHA - E o que o senhor diz da interpretação de Dennis Quaid como
Jerry Lee Lewis?
LEWIS - Ele é um cara ótimo e o
considero um amigo. Ninguém
vai se ver sendo interpretado e
achar que está certinho. Ele fez
o melhor, mas em algumas cenas usaram imagens das minhas mãos no teclado (risos).
FOLHA - O escândalo do casamento com sua prima afundou sua carreira em 1958. Algum arrependimento do que fez?
LEWIS - Nenhum. Estava apenas vivendo minha vida.
FOLHA - O senhor está casado?
Quantas mulheres teve?
LEWIS - Sou solteiro! Acho que
fui casado seis vezes (risos).
FOLHA - É verdade que o senhor teve apenas uma aula de piano?
LEWIS - É, sim. O professor não
gostou do meu jeito e eu decidi
que aquilo não era pra mim. Peguei algumas dicas com meu
primo mais velho, Carl McVoy.
Ele era pianista e me explicou
segredos do estilo boogie-woogie que tocava no rádio. Misturei aquilo com gospel e country
e fui criando um estilo.
FOLHA - E quanto a ser expulso da
universidade por tocar piano?
LEWIS - Eu frequentava a Universidade Assembleia de Deus
do Sudoeste em Waxahachie,
Texas. Minha mãe estava certa
de que, a partir de então, eu me
dedicaria exclusivamente a
canções louvando o Senhor.
Mas ousei tocar "My God Is
Real" [meu Deus é real] em ritmo de boogie-woogie, e eles me
mandaram pra casa na mesma
noite (risos). Eu só estava tentando deixar os rapazes mais
envolvidos com o gospel...
FOLHA - É o senhor mesmo que está teclando essas respostas, como
faz com o piano?
LEWIS - Estou falando, mas não
teclando. Nunca aprendi a datilografar, só a tocar piano. É a
única coisa em que coloco os
dedos, além de mulher bonita.
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