São Paulo, quinta, 16 de outubro de 1997.




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CINEMA
Atriz de "Boogie Nights" interpreta Rollergirl, personagem que só fica nua dos tornozelos para cima
Heather Graham rouba a cena com patins

da enviada especial a Los Angeles

A atriz Heather Graham tinha tudo para ser um bom exemplo de moça católica.
Criada nos subúrbios de Los Angeles, ela deixou os pais religiosos e superprotetores determinarem cada etapa de sua carreira até os 18 anos, fazendo apenas fracas séries e melosos filmes para televisão.
Com a emancipação legal, no entanto, passou a trabalhar com diretores banidos em lares virtuosos.
O primeiro a reconhecer a sensualidade natural da loira de cabelos encaracolados foi o diretor Gus Van Sant, que a transformou numa sexy viciada em drogas em "Drugstore Cowboy".
Em seguida, David Lynch a escolheu para fazer uma espevitada adolescente em "Twin Peaks".
Mas foi o iniciante Paul Thomas Anderson quem a convenceu a ficar nua em "Boogie Nights".
Aliás, nua dos tornozelos para cima, pois sua personagem Rollergirl, faz carreira na indústria de filmes pornô, se recusando a tirar os patins.
Ela acaba de voltar da Inglaterra onde passou seis meses filmando "Perdidos no Espaço" ao lado de William Hurt e Gary Oldman.
Graham recebeu a Folha, em Los Angeles. (AG)

Folha - Há uma cena bastante violenta em "Boogie Nights" na qual sua personagem pisoteia o rosto de um desafeto. Foi difícil filmá-la?
Heather Graham -
Foi meio legal de uma certa maneira. Há tantos filmes em que a violência acontece contra as mulheres. É interessante reverter aquele padrão de perseguição e ameaça. Não há muitas oportunidades de mulheres agirem assim.
Folha - A crescente violência no cinema não a incomoda?
Graham -
Pessoalmente não gosto de assistir violência. Mas gostei de mostrar bravura naquela situação.
Folha - O que mudou em sua carreira desde a sua adolescência?
Graham -
Estou tentando me divertir sendo uma atriz e desfrutar do processo ao invés de apenas querer ver o resultado.
Folha - Qual o segredo do sucesso no cinema nos anos 90?
Graham -
Acho que você precisa ter uma boa auto-estima e não perder a confiança quando não consegue trabalhos que quer. Tem que tentar se sentir bem consigo mesma, sem que lhe digam o tempo todo que você é a maior.
Folha - O que a atraiu em "Boogie Nights"?
Graham -
É algo novo e diferente numa época de tantas refilmagens.
Folha - A possibilidade de ficar nua não a assustou?
Graham -
Li o roteiro junto com meu namorado e ele chamou minha atenção para o fato de que há mais cenas de sexo num filme comum. Só apareço nua numa cena de 20 segundos e pelo menos é feita de maneira artística e criativa. Acho que é uma escolha pessoal.
Folha - Logo após ficar nua, você se joga em cima de Mark Wahlberg. O que seu namorado achou?
Graham -
Ele se divertiu, achou engraçado. Acho que qualquer um acha estranho ver a pessoa que ama beijando outra pessoa, mas é meu trabalho e acho que ele entende, pois é um diretor.
Folha - Você não pensa que no filme as mulheres são mostradas como objetos?
Graham -
Os homens também são mostrados como objetos, afinal são duas pessoas tendo sexo. Na indústria pornô, por sinal, as mulheres são mais poderosas. Recebem cachês mais altos e escolhem os homens com quem vão ter sexo. Acho que o personagem de Mark Wahlberg, ele sim, é apenas um cara com um pênis grande. Não acho que só as mulheres são vítimas.
Folha - É verdade que sua família não aprovou sua participação em "Boogie Nights"?
Graham -
O que você pode fazer? Sou uma pessoa adulta e tomo minhas próprias decisões. Se eles acharem difícil assistir o filme, então acho que não têm que ir.







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