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"O GENERAL"
Boorman transforma ladrão em herói anarquista
da Equipe de Articulistas
Em seus melhores momentos
-"Inferno no Pacífico", "Amargo
Pesadelo"-, o cinema do inglês
John Boorman mostra personagens relativamente comuns confrontados com situações-limite.
Em seu novo filme "O General",
opera-se uma inversão: aqui, o
protagonista é um homem fora do
comum que cria sua própria circunstância e testa seus limites.
Esse protagonista é Martin Cahill
(Brendan Gleeson), assaltante verdadeiro morto em 1994, que ganhou uma dimensão legendária
nos subúrbios de Dublin (Irlanda)
por seu carisma e ousadia.
À margem da luta nacionalista
do IRA -mas servindo-se dela
sempre que lhe convém-, Cahill
monta uma estrutura criminosa
que desafia a polícia, travando
uma batalha particular contra o
inspetor-chefe local (Jon Voight).
Boorman diz que fez de tudo para não apresentar Cahill como um
herói romântico. Pode ser. Mas tudo no filme -mesmo, paradoxalmente, o sóbrio preto-e-branco
em que foi rodado- configura a
história de um homem extraordinário, uma espécie de Robin Hood
moderno, que, apesar de sua truculência e oportunismo, segue
uma ética pessoal implacável.
Não é propriamente o dinheiro o
que move Cahill, mas a vontade de
vencer a polícia e manter a ascendência sobre seus súditos.
Depois de assaltar a maior fábrica de jóias de Dublin, Cahill e seus
homens roubam quadros de uma
coleção particular, expostos na
Russborough House.
Quase sempre, seus golpes são
fruto de puro engenho, prescindindo da violência. A brutalidade
do General, quando emerge, é
exercida contra seus próprios
cúmplices, que "saíram da linha".
Os truques são simples e geniais.
Exemplo: a polícia coloca dois homens para seguir Cahill. Ele sai de
carro com um comparsa, os tiras
vão atrás. Cahill roda horas por estradas secundárias. A certa altura,
desce do carro e o reabastece com
um galão trazido no porta-malas.
Os policiais, desprevenidos, ficam
a pé no meio do nada.
A guerra surda que Cahill empreende contra a lei é, portanto, intelectual. Mas é também moral. Há
nele uma pureza que contrasta
com as ações da polícia. É a energia
do indivíduo contra a corrupção
das instituições. Nesse sentido, o
filme atualiza o anarquismo "anti-establishment" que havia em certo
cinema dos anos 60, aquela década
que ocorreu há séculos.
(JGC)
²
Filme: O General
Produção: Irlanda, 1997
Direção: John Boorman
Com: Brendan Gleeson
Quando: hoje, às 18h, na Cinemateca
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