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CINEMA - ESTRÉIA
Autor se diverte com "Irresistível Paixão'
da Reportagem Local
Para o escritor norte-americano
Elmore Leonard, qualquer um pode conversar horas com um criminoso num bar e não desconfiar de
nada sobre a vida dele.
É provável, especialmente quando o criminoso em questão tem,
como ajuda extra, o rosto de George Clooney, caso de "Irresistível
Paixão", filme de Steven Soderbergh, baseado no livro "Out of
Sight", de Leonard, que estréia hoje em São Paulo.
Autor de 35 livros (de mistério e
histórias de faroeste), entre eles
"Ponche de Rum", que deu origem
a "Jackie Brown", de Quentin Tarantino, e "Get Shorty", transformado em "O Nome do Jogo" por
Barry Sonnenfeld, Leonard foi
considerado pela revista "New
Yorker" o maior escritor popular
de todos os tempos.
Uma coisa é certa: sua obra figura como uma das preferidas para
adaptações cinematográficas entre
diretores oriundos do circuito independente norte-americano.
A chave estaria em três características: a qualidade de seus diálogos, o humor irônico e a moral dos
personagens.
Atualmente, por exemplo, os irmãos Joel e Ethan Cohen (de "Fargo" e "Barton Fink") trabalham
num roteiro baseado em "Cuba Libre", para satisfação do escritor.
"Acho que nós (Leonard e os irmãos Cohen) temos a mesma sensibilidade, vemos as coisas da mesma forma, assim como Tarantino e
eu. Tarantino inclusive diz ter sido
influenciado pelos meus livros
quando adolescente", afirmou
Leonard em entrevista à Folha,
por telefone, de sua casa em Detroit (Estados Unidos).
Essa "visão de mundo compartilhada" está, segundo Leonard,
concentrada na forma irônica de
abordar os acontecimentos. "É um
tipo de humor sempre baseado na
ironia. Os personagens estão sendo engraçados, mas não o sabem",
afirmou o autor.
E esses diretores não são os únicos. "Barry Sonnenfeld, por sua
vez, foi diretor de fotografia de vários filmes dos irmãos Cohen. E
agora trabalho com Steven Soderbergh, que também dirigiu "sexo,
mentiras e videotape'. Tenho sorte", disse o escritor.
A "Irresistível Paixão" de Soderbergh, no entanto, corre sério risco
de ficar entre as versões menores
para a obra de Leonard, pelo menos na comparação.
"Jackie Brown" seria "a adaptação mais fiel", na opinião do autor,
enquanto "O Nome do Jogo" é
classificada por ele como "a mais
engraçada".
"O Nome do Jogo' realmente
funcionou. E Barry Sonnenfeld sabia o que fazer. Disse-me que o livro parece uma comédia -e eu
não escrevo comédia. Todos os
diálogos foram transpostos como
estão no livro. A partir daí, o resto
das pessoas percebeu como adaptar meu trabalho para o cinema, ou
seja, procurar o humor."
Isso, deve-se dizer, Soderbergh
tentou. No filme, Clooney (do seriado de televisão "Plantão Médico" e também o mais recente dos
"Batman" no cinema) faz o veterano ladrão de bancos Jack Foley.
Quando foge da cadeia para tentar o último golpe antes da aposentadoria, acaba dentro do mesmo
porta-malas que a policial federal
pouco convencional no amor Karen Sisco (interpretada por Jennifer Lopez).
"Comecei o livro quando vi no
jornal a foto de uma policial federal em frente a um tribunal em
Miami com uma arma no quadril.
Daí pensei num ladrão de banco
com quem fosse possível simpatizar e como colocar os dois juntos,
atraídos um pelo outro, de maneira crível", disse o escritor.
Segundo Leonard, no livro, Sisco
é a protagonista principal. Já no cinema, o Foley de Clooney tomou o
lugar de "carro-chefe" -com uma
boa dose de interferência dos produtores-, apesar de ser mais novo que o personagem original. "O
livro é dela, mas o filme, dele."
Inicialmente, ele queria Jack Nicholson ("Seria perfeito", diz), ou
mesmo Sean Connery, mas acabou
contente com a atuação de Clooney. "Eu me diverti", sentenciou.
(PATRICIA DECIA)
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