|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO/ESTRÉIA
"O BEIJO DA MULHER ARANHA"
Musical ganha montagem correta, sem ousadias
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
P oderia ser visto como ousadia montar o musical "O Beijo da Mulher Aranha". Afinal o
texto trata da história do homossexual Molina (Miguel Falabella),
preso por "corrupção de menores" na mesma cela em que o terrorista Valentim (Tuca Andrada),
e os dois acabam desenvolvendo
uma relação que termina em sexo,
embalado pelas fantasias de Molina com seu mito cinematográfico,
a atriz Aurora (Claudia Raia).
Mas a ousadia é diluída, pois, especialmente no Brasil, gays são
sempre retratados no teatro como
travestis.
Há momentos fortes e emocionantes no espetáculo, como uma
citação aos 18 presos mortos por
asfixia no 42º DP, no parque São
Lucas, em 89, quando 50 detentos
foram amontoados dentro de
uma cela pequena e pouco ventilada. Outro momento dramático
ocorre com imagens de presos
políticos desaparecidos durante o
regime militar.
Claro que, ao transformar a história, do excelente livro de Manuel Puig, em um musical, esses
temas acabam sendo dispersos
em nome do entretenimento. Difícil não se lembrar da bela adaptação para o cinema feita por Hector Babenco, há 15 anos. Mas o
contexto polêmico está lá, e a
anunciada chegada da réplica de
uma grande produção da Broadway vem com um forte toque político. Ótimo.
O que mais dizer? O espetáculo
é cópia fiel do original norte-americano, o que significa uma montagem dinâmica, com várias mudanças cenográficas. A representação ocorre em uma cela, que se
transforma inúmeras vezes, com
gigantes grades de alumínio, e
que, por meio de projeções -a
última mania na Broadway-, ganha contornos oníricos para os
devaneios de Molina. Tudo funcionando perfeitamente, como na
matriz.
As atuações do trio principal
são corretas, apesar do visível esforço que os três aparentam em
cantar. Há pouca tradição de musicais no Brasil, e as representações refletem essa tendência.
Mesmo assim, Claudia Raia, com
carisma e talento, se sai bem como a estrela da peça.
O destaque fica com Andrada,
que, com presença marcante e interpretação rica em nuanças, faz
um guerrilheiro que se transforma ao longo da peça. Já Falabella
representa de maneira mais óbvia: ao interpretar um gay, apela
para uma atuação caricata, que
poderia ser menos previsível.
E as músicas? Bem, elas não são
de fato o que há de melhor. Há
poucos bons momentos de conjunto, e é visível que os atores poderiam obter melhor desempenho se as canções fossem mais cativantes.
Dividida em dois atos, a peça
tem mais consistência no primeiro. Especialmente porque o fim, o
sempre esperado momento apoteótico, é fraco, uma tentativa de
dar um final feliz, em uma história
sem "happy end".
O Beijo da Mulher Aranha
Texto: Manuel Puig
Libreto: Terrence McNally
Música: John Kander
Letra: Fred Ebb
Direção: Wolf Maya
Com: Claudia Raia, Miguel Falabella,
Tuca Andrada e outros
Quando: qui., às 21h; sex., às 21h30;
sáb., às 19h e 22h30; dom., às 19h
Onde: teatro Jardel Filho (av. Brigadeiro
Luís Antônio, 884, Bela Vista, tel. 0/xx/
11/3105-8433)
Quanto: de R$ 25 a R$ 80
Texto Anterior: Itaú Cultural lança livros hoje Próximo Texto: Diretor Wolf Maya é especialista no gênero Índice
|