São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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TEATRO/ESTRÉIA

"O BEIJO DA MULHER ARANHA"
Musical ganha montagem correta, sem ousadias

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

P oderia ser visto como ousadia montar o musical "O Beijo da Mulher Aranha". Afinal o texto trata da história do homossexual Molina (Miguel Falabella), preso por "corrupção de menores" na mesma cela em que o terrorista Valentim (Tuca Andrada), e os dois acabam desenvolvendo uma relação que termina em sexo, embalado pelas fantasias de Molina com seu mito cinematográfico, a atriz Aurora (Claudia Raia).
Mas a ousadia é diluída, pois, especialmente no Brasil, gays são sempre retratados no teatro como travestis.
Há momentos fortes e emocionantes no espetáculo, como uma citação aos 18 presos mortos por asfixia no 42º DP, no parque São Lucas, em 89, quando 50 detentos foram amontoados dentro de uma cela pequena e pouco ventilada. Outro momento dramático ocorre com imagens de presos políticos desaparecidos durante o regime militar.
Claro que, ao transformar a história, do excelente livro de Manuel Puig, em um musical, esses temas acabam sendo dispersos em nome do entretenimento. Difícil não se lembrar da bela adaptação para o cinema feita por Hector Babenco, há 15 anos. Mas o contexto polêmico está lá, e a anunciada chegada da réplica de uma grande produção da Broadway vem com um forte toque político. Ótimo.
O que mais dizer? O espetáculo é cópia fiel do original norte-americano, o que significa uma montagem dinâmica, com várias mudanças cenográficas. A representação ocorre em uma cela, que se transforma inúmeras vezes, com gigantes grades de alumínio, e que, por meio de projeções -a última mania na Broadway-, ganha contornos oníricos para os devaneios de Molina. Tudo funcionando perfeitamente, como na matriz.
As atuações do trio principal são corretas, apesar do visível esforço que os três aparentam em cantar. Há pouca tradição de musicais no Brasil, e as representações refletem essa tendência. Mesmo assim, Claudia Raia, com carisma e talento, se sai bem como a estrela da peça.
O destaque fica com Andrada, que, com presença marcante e interpretação rica em nuanças, faz um guerrilheiro que se transforma ao longo da peça. Já Falabella representa de maneira mais óbvia: ao interpretar um gay, apela para uma atuação caricata, que poderia ser menos previsível.
E as músicas? Bem, elas não são de fato o que há de melhor. Há poucos bons momentos de conjunto, e é visível que os atores poderiam obter melhor desempenho se as canções fossem mais cativantes.
Dividida em dois atos, a peça tem mais consistência no primeiro. Especialmente porque o fim, o sempre esperado momento apoteótico, é fraco, uma tentativa de dar um final feliz, em uma história sem "happy end".


O Beijo da Mulher Aranha
    Texto: Manuel Puig Libreto: Terrence McNally Música: John Kander Letra: Fred Ebb Direção: Wolf Maya Com: Claudia Raia, Miguel Falabella, Tuca Andrada e outros Quando: qui., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 19h e 22h30; dom., às 19h Onde: teatro Jardel Filho (av. Brigadeiro Luís Antônio, 884, Bela Vista, tel. 0/xx/ 11/3105-8433) Quanto: de R$ 25 a R$ 80




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