São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2001

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ERIKA PALOMINO

UNDERGROUND AJUDA A DEFINIR SP PÓS-MODERNA

Aos poucos, em meio ao caos e à barbárie diária, São Paulo vai definindo a sua cara como megalópole de Terceiro Mundo no terceiro milênio, e o universo do underground é característica da gente daqui. A noite é parte integrante do frankenstein pós-moderno que é a cidade, a grande boca de mil dentes, como diria o inventor da paulicéia, Mário de Andrade. Somos hoje um somatório de identidades, de gostos e preferências, e alguns eventos e personagens ajudam a desenhar essa nova identidade.
Uma rave reúne 10 mil pessoas no interior do Estado; fashionistas se juntam sob o eterno signo do colunismo social; academias de ginástica lotam esperando o verão; 2.500 homens musculosos dançam numa boate da Barra Funda; nos clubes chiques se toma champanhe; workaholics pensam em revolucionar a internet. Tudo quase ao mesmo tempo. Mesmo.
Então temos o festival Mix Brasil, mais que um evento de cinema, uma manifestação de comportamento, aglutinando pessoas e relaxando fronteiras e preconceitos, reforçando orgulhos. São Paulo avança contra seus tabus.
É tempo de diversão, é assim que sabemos fazer. Enquanto pensamos, nos divertimos. Aqui é a casa do hedonismo.
Veja o caso de Alexandre Herchcovitch, um dos mais importantes estilistas brasileiros, que não tem medo de brincar e se transforma num absurdo super-herói camp no curta "As Aventuras dos Super Poderosos", dos jovens diretores Júlia Jordão e Lico Queiroz. Besteirol sem culpa, o filme ganha na segunda-feira uma festa na boate Salvation que promete um tipo de modernidade pansexual e misturada.
Melhor que "Priscilla", o filme "Hedwig" entra em cartaz no grande circuito em São Paulo, mas nós temos as nossas Hedwigs, verdadeiras. É só ver as divas Marcelona e Léia Bastos, em carne e osso. Marcelona aparece no filme de Herchcovitch, enquanto Léia ganha sua própria biografia fílmica, o curta low-tech "Indivídua", de Rick Castro, com a auto-ironia e a poesia que esse universo traz. Quem preferir vê-las ao vivo, elas estão aos sábados na porta da Level, sempre absurdas e sempre barulhentas...
Com duração de emblemáticos cinco minutos, "Um Domingo Qualquer" retrata as manhãs de domingo do fechado grupo que vive sob os ideais do Hell's Club, o after-hours extinto em 98. É o mundo maravilhoso do chill-out, seus personagens e brincadeiras, e a frase que aparece no vídeo, "Don't Say a Word" (não diga nada), ilustra bem essa cultura. Para fazer o filme, o videomaker Daniel Zanardi condensou 160 horas de gravação: "É um álbum de família em vídeo", diz.
Tem mais para a cidade. Tem a Semana Jovem da Prefeitura de São Paulo, que abre dia 25 com a Parada da Paz, Carnaval eletrônico nas ruas da cidade. Quem sabe agora vai. Vai ser bom também se a polícia souber apenas acompanhar o exército jovem, em lugar de encher, como em anos anteriores... Vamos ver.


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

COUTURE À CARIOCA É O PRATO DO DIA
Talvez você saiba que o carioca Carlos Ferreirinha é o homem por trás do sucesso do projeto Louis Vuitton no Brasil -um dos principais cases do Planeta Fashion nos últimos tempos. Pois depois de seis anos no conglomerado de luxo LVMH, ele decidiu ficar mais por aqui. Misturando lazer com trabalho, ele agora é um dos sócios do Tostex, a sanduicheria hype que é sensação na Bahia e que vai trazer em breve para a Haddock Lobo. Mas Ferreirinha vai se dedicar ao que sabe fazer de melhor e virou o manager (esse é o nome da função) do estilista carioca Carlos Tuvfesson. "Vou ser seu Pierre Berger."
A idéia é a construção de um grande nome para a moda brasileira e para o mundo. Filho da estilista Glorinha Pires Rebello, Tuvfesson é darling no Rio, onde veste socialites. Sua roupa é de festa, seus mestres são do passado, sua vocação é o estrelato -na esteira dos famosos costureiros que o Brasil já teve. O desafio é vestir Tuvfesson de uma roupagem contemporânea, executando um reposicionamento de imagem e tornando o garoto capaz de encarar, talvez em 2004, por que não?, até mesmo uma maison internacional. Tuvfesson abre agora um showroom em São Paulo. Em janeiro, um minidesfile antes da São Paulo Fashion Week e somente em julho a entrada no evento. Por trás de toda essa operação, não poderiam faltar investidores, e eles vêm também de fora da indústria têxtil (telefonia, cartão de crédito...).

HIPPIE, HIPPIE, HURRAH
A São Paulo Fashion Week do inverno 2002 vai refletir o clima de hippie, Biba, espírito vintage. O mood deverá aparecer na coleção de ao menos um dos mais modernos estilistas do momento que baixou no brechó Minha Avó Tinha e comprou tudo de anos 70...

TEM SEREIA NAS AREIAS DE MARESIAS...
A mais-que-linda Mariana Penteado faz aniversário no domingo e, no sábado, fecha o mezanino do Sirena de seu namorado Marcos Campos para reunir amigos e amigas dasluzetes. E, no convite, Mari mandou até areia da praia de Maresias, para inspirar... É um bom warm up para o day club na praia, ali no Bar do Meio, no melhor estilo Ibiza, com DJs internacionais e clima bem avonts. Um centro de lazer será montado na praia, com esportes e spa. Alex Atala vai cuidar das delícias, e Sig Bergamin vai conceber o ambiente. Na estação que tem start oficial em 22 de dezembro, Sander Kleinemberg e Pete Tong estão confirmados, com o residente Carlo Dallanese.

FERIADÓN BABADEX PRA QUEM FICA
Feriadón pra quem fica em São Paulo tem o DJ sueco Joel Mull na Supernova do Lov.e hoje. Ele é bem bonitinho e a mulherada já está pronta para invadir a cabine, como aconteceu com o Carola, né? Na Lôca, hoje, tocam Renato Cohen e Murphy, além de Ana e Paula. Daniel U.M. toca no Pix amanhã. Na Locurama, tem o DJ AJ Letti, indicado por Mike Parsons. Ele trabalha na Eukatech e mixou o último CD do selo. Edu Corelli toca no Lounge Sta Rita.

SE JOGA NO FESTIVAL TRANCE EM MINAS
Ainda dá tempo. Para os tranceiros que não querem ficar por aqui, melhor se jogar no 1º Brazilian Trance Festival, que começou anteontem e vai até domingo. A idéia é do bem, valorizando a preservação do meio ambiente e a união dos clãs do trance. São seis live P.A.s e 31 DJs, entre dez estrangeiros -a maioria da Alemanha. Dos brasileiros, tocam Rica, V.O.R, Feio e Matera, entre outros. O festival acontece em Minas Gerais, numa divisa do cerrado com a Mata Atlântica, em um cenário absurdo com cachoeiras e grutas. O ingresso sai por R$ 90 na porta, com camping e estacionamento. Confira no site www.erikapalomino.com.br as indicações de como chegar.

DJÉIA É NOVA ATRAÇÃO NA TELEVISÃO
Quem frequenta a badalada noite black de SP, conhece Erica Li. Ela integra o clã Soul Family, com Eugenio Lima, Thaíde e Will Robson, e toca às quintas no descolado Entreposto da Lata, na Vila Madalena, e no Urbano, aos sábados. Acaba de ser contratada para tocar no programa de Otaviano Costa. "Mudou minha rotina", diz a DJéia. Erica tomou o cuidado para que não virasse um personagem: "A condição foi que eu tivesse liberdade para tocar o que gosto, além de poder ser eu mesma". É só tombar a timidez: "Morro de vergonha da câmera...".

DIZ QUE A NOITE DE NY COMEÇA A REAGIR
E a noite em NY se recupera. Novas venues abrem e a diversão volta às pistas. As bichas voltaram até mesmo a fazer o famoso catwalk no dancefloor e a energia boa começa a reaparecer. Os DJs clássicos da house nova-iorquina estão, naturalmente, à frente. Tony Humphries às quintas no Banktun, Little Louie Vega às quartas no Centro-Fly, Ron Trent às quintas no Shine; Danny Tenaglia reina no Vinyl, que tem também a Body & Soul aos domingos (Danny Krivit lançou disco). Até Junior Vasquez está mais fofa no Earth. É o velho e bom escapismo clubber...

DJ ROGER RABBIT VOLTA MAIS PESADO
Lembra do DJ Roger Rabbit? Ele voltou depois de quase quatro anos fora da noite, quando construiu o site www.macnews. com.br. "Foi uma brincadeira que deu certo", diz Roger, mas bateu saudade da noite. Roger diz que foi ótimo dar um tempo: "Sair todas as noites não estava me rendendo muita coisa". Agora ele dá uma pesada. "Não sei o que as pessoas esperam, mas som e técnica mudaram. Estou começando do zero."

DJS IRANIANOS EM TEMPOS DE GUERRA?
E como fica a situação da dupla iraniana radicada em Washington Deep Dish? Ali Shirazinia e Sharam Tayebi acabaram de gravar sua gig russa na série Global Underground. Saiu na "DJ Magazine" uma entrevista (um leitor que deu o toque). Mas Sharam teme viajar. "Não me ofendo com medidas rígidas de segurança, só espero que não saiam caçando uma raça." Eles acabam de tocar em Israel. Ato político? Não. "A verdade é que a maioria dos clubbers não dá a mínima para política, música é universal e essa cultura é universal."



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