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NOITE
Love Story, "a casa de todas as casas", faz dez anos
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Esta é uma daquelas pautas
que justificam a concorrência
brava que existe em vestibulares
de jornalismo. É, papito, eventualmente a profissão tem o seu
glamour. A boate Love Story, citada pela "Vanity Fair" como um
dos pontos altos da noite paulistana, comemorou dez anos na última terça-feira com uma grande
festa, e a Folha estava lá.
"A casa de todas as casas", segundo inscrição da camiseta comemorativa, localizada na zona
central paulistana, ferve de segunda a segunda, a partir da 1h da
matina. O bicho pega mesmo às
4h, e as portas se fecham às 9h. Virou há tempos o point lascivo da
madrugada. Sim, a casa abre no
Natal, Réveillon e feriados santos.
Sua frequência não é de gente
muito beata. É para aonde se encaminham muitas garotas de programa em final de expediente. Há
também alta concentração de estudantes, turistas, tiras, advogados criminalistas, boêmios em geral e coleguinhas de profissão.
A libido é contaminante. O som
é o bate-estaca. Também se fazem
negócios pecaminosos que saciam (será?) os prazeres da carne.
Mas a maioria quer apenas se divertir depois de mais um dia de
trabalho suado.
Na festa de dez anos, havia balões, cartazes e serpentinas pela
casa. A entrada estava entre R$ 50
(homens) e R$ 15 (mulheres).
Mas o valor flutuava. Se tem poucas mulheres, barram-se os homens, e liberam a entrada delas.
Se tem poucos homens, o preço
do ingresso cai. É o tio João, gerente da casa, quem controla rigorosamente este fluxo de gênero.
Mas uma coisa não flutuava, o
preço da cerveja e dos refrigerantes: R$ 15. Fazer o quê?
Alex Ni, diretamente da Alemanha, "um dos dez melhores do
mundo", segundo anunciaram,
foi um dos DJs que tocaram. Eu
nunca tinha estado lá. Juro. Bem,
ninguém acredita mesmo...
O clima até que é leve. Vêem-se
alguns amassos pelos cantos. Nada que assuste um cidadão de
moral rígida como eu. Conversar
é impossível: o diálogo se resume
a falas curtas e muitos gestos. Trocam-se números de telefones.
Diana e Sabrina dançavam juntas. Me paqueraram. Me lançaram um torpedo com o telefone
de uma delas. Informaram que só
fazem programas em dupla. Acho
admirável a tara que alguns têm
em sair com duas mulheres. Já é
tão difícil agradar uma. Se bem
que, neste negócio, o sujeito não
esquenta com isso, só quer agradar a si próprio.
Encontrei um colega paraplégico. Foi indicando o banheiro
adaptado especialmente para deficientes. Já na entrada havia uma
rampa de acesso. São corretos.
Servem de exemplo a muitos restaurantes dos Jardins, que não
cumprem as exigências da lei.
Um advogado criminalista me
deu o seu cartão. Guardei-o. Sou
de uma geração que anda com
muitos cartões de advogados criminalistas no bolso do colete. O
mundo é perigoso. Vai saber
quando precisaremos de um...
"Love Story é uma porrada!",
dizia no microfone uma espécie
de animador que saudava os "advogados da FEI", o pessoal da Vila
Carrão, a "galera da Unip" e os
"médicos da Faculdade de Santo
Amaro", informando que se alguém passasse mal, havia profissionais de saúde presentes.
As galeras saudavam de volta.
Bom ver que estudantes brasileiros, em meado de novembro,
época de provas e trabalhos de
conclusão, encontram-se ativos
fazendo pesquisas de campo em
postos avançados.
"Cadê a mulherada virgem? São
virgens ou são mentirosas?" Como naqueles programas de auditório, em que um apresentador
saúda as caravanas, na LS também se perguntava quem era são-paulino, palmeirense e corintiano. "Didiana, seu pai te aguarda
na porta. Xiii...", anunciou o animador. Será uma piada? Fiquei
preocupado com a pobre Didiana. "Love Story, dez anos balançando o Brasil." "Love Story, o
mais tradicional fim de noite de
São Paulo." Sugiro mais um: "Love Story, a casa com mais slogans
da cidade".
Bem, saí de lá às 5h, sozinho. Para escrever este texto, mané. Você
só pensa em sacanagem...
LOVE STORY - Onde: r. Araújo, 232, São
Paulo, tel. 0/xx/11/231-3101. Quando:
de seg. a seg., de 1h às 9h
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