São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2001

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NOITE

Love Story, "a casa de todas as casas", faz dez anos

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

Esta é uma daquelas pautas que justificam a concorrência brava que existe em vestibulares de jornalismo. É, papito, eventualmente a profissão tem o seu glamour. A boate Love Story, citada pela "Vanity Fair" como um dos pontos altos da noite paulistana, comemorou dez anos na última terça-feira com uma grande festa, e a Folha estava lá.
"A casa de todas as casas", segundo inscrição da camiseta comemorativa, localizada na zona central paulistana, ferve de segunda a segunda, a partir da 1h da matina. O bicho pega mesmo às 4h, e as portas se fecham às 9h. Virou há tempos o point lascivo da madrugada. Sim, a casa abre no Natal, Réveillon e feriados santos.
Sua frequência não é de gente muito beata. É para aonde se encaminham muitas garotas de programa em final de expediente. Há também alta concentração de estudantes, turistas, tiras, advogados criminalistas, boêmios em geral e coleguinhas de profissão.
A libido é contaminante. O som é o bate-estaca. Também se fazem negócios pecaminosos que saciam (será?) os prazeres da carne. Mas a maioria quer apenas se divertir depois de mais um dia de trabalho suado.
Na festa de dez anos, havia balões, cartazes e serpentinas pela casa. A entrada estava entre R$ 50 (homens) e R$ 15 (mulheres). Mas o valor flutuava. Se tem poucas mulheres, barram-se os homens, e liberam a entrada delas. Se tem poucos homens, o preço do ingresso cai. É o tio João, gerente da casa, quem controla rigorosamente este fluxo de gênero. Mas uma coisa não flutuava, o preço da cerveja e dos refrigerantes: R$ 15. Fazer o quê?
Alex Ni, diretamente da Alemanha, "um dos dez melhores do mundo", segundo anunciaram, foi um dos DJs que tocaram. Eu nunca tinha estado lá. Juro. Bem, ninguém acredita mesmo...
O clima até que é leve. Vêem-se alguns amassos pelos cantos. Nada que assuste um cidadão de moral rígida como eu. Conversar é impossível: o diálogo se resume a falas curtas e muitos gestos. Trocam-se números de telefones.
Diana e Sabrina dançavam juntas. Me paqueraram. Me lançaram um torpedo com o telefone de uma delas. Informaram que só fazem programas em dupla. Acho admirável a tara que alguns têm em sair com duas mulheres. Já é tão difícil agradar uma. Se bem que, neste negócio, o sujeito não esquenta com isso, só quer agradar a si próprio.
Encontrei um colega paraplégico. Foi indicando o banheiro adaptado especialmente para deficientes. Já na entrada havia uma rampa de acesso. São corretos. Servem de exemplo a muitos restaurantes dos Jardins, que não cumprem as exigências da lei.
Um advogado criminalista me deu o seu cartão. Guardei-o. Sou de uma geração que anda com muitos cartões de advogados criminalistas no bolso do colete. O mundo é perigoso. Vai saber quando precisaremos de um...
"Love Story é uma porrada!", dizia no microfone uma espécie de animador que saudava os "advogados da FEI", o pessoal da Vila Carrão, a "galera da Unip" e os "médicos da Faculdade de Santo Amaro", informando que se alguém passasse mal, havia profissionais de saúde presentes.
As galeras saudavam de volta. Bom ver que estudantes brasileiros, em meado de novembro, época de provas e trabalhos de conclusão, encontram-se ativos fazendo pesquisas de campo em postos avançados.
"Cadê a mulherada virgem? São virgens ou são mentirosas?" Como naqueles programas de auditório, em que um apresentador saúda as caravanas, na LS também se perguntava quem era são-paulino, palmeirense e corintiano. "Didiana, seu pai te aguarda na porta. Xiii...", anunciou o animador. Será uma piada? Fiquei preocupado com a pobre Didiana. "Love Story, dez anos balançando o Brasil." "Love Story, o mais tradicional fim de noite de São Paulo." Sugiro mais um: "Love Story, a casa com mais slogans da cidade".
Bem, saí de lá às 5h, sozinho. Para escrever este texto, mané. Você só pensa em sacanagem...


LOVE STORY - Onde: r. Araújo, 232, São Paulo, tel. 0/xx/11/231-3101. Quando: de seg. a seg., de 1h às 9h


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