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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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MÔNICA BERGAMO

Uma caixinha de surpresas

Junte os jogadores mais talentosos, caros e assediados do planeta -Ronaldo, Rivaldo, Kaká e afins- a uma torcida de meninas eufóricas e a desocupados dos mais variados tipos. Acrescente jornalistas dos quatro cantos do mundo, amigos de infância dos jogadores, um assessor de imprensa bonitão e com ares de pop star. Tudo isso no mesmo lugar: a granja Comary, em Teresópolis.
 
Eis o cenário, os protagonistas e coadjuvantes da concentração da seleção brasileira -que passou três dias reunida na cidade serrana se preparando para o jogo de hoje contra a seleção do Peru.
 
É noite de terça-feira. No dia anterior, jornais cariocas publicaram uma foto de Milene Domingues saindo de um restaurante com outro jogador -supostamente um novo affair da até então, ao menos oficialmente, mulher do craque. Futebol? Que futebol? O assunto na granja foi somente um: a separação de Ronaldo, que naquele dia não se apresentou para treinar (ele só chegou na quarta-feira).
 
"Ronaldo está se separando? Por que ele ainda não se apresentou?", pergunta o radialista Wellington Santos, da rádio Itatiaia, a Rodrigo Paiva, o assessor de imprensa galã da CBF e de Ronaldo. "A ausência dele nada tem a ver com as fotos divulgadas. A gente sempre tratou desse assunto com a maior clareza. O casamento dos dois está desgastado", responde Paiva.
Dois minutos depois, é a vez de o radialista Sérgio Guimarães, da rádio Gaúcha, repetir a pergunta. "A ausência dele nada tem a ver com as fotos divulgadas. A gente sempre tratou desse assunto com a maior clareza...". Até o final da noite, 11 jornalistas fazem a mesma pergunta. "A ausência dele nada tem a ver com as fotos divulgadas...", repete Paiva, sem mudar vírgula, tantas vezes quantas forem necessárias.
 
"Abafou bem", cumprimenta Santos, da rádio Itatiaia. À essa hora, quase 22h30, o clima na sala de imprensa geral e na da Rede Globo -sim, a Globo, e só a Globo, tem uma sala exclusiva- é de ansiedade. Paiva tranquiliza: "Podem ir embora. Ele só vem amanhã".
 
No dia seguinte, o primeiro treino está marcado para as 9h30. Ronaldo não chega a tempo. "Voltamos à era dos privilégios. Isso aqui tá virando a casa da mãe Joana!", brada o jornalista-espetáculo Jorge Kajuru, da Band. Na ausência do craque, Kajuru foi a "celebridade" mais assediada do dia. Incansável, foi à lateral do campo dar autógrafos, mandou beijinhos... "Na falta do Ronaldo vai eu mesmo", diz o jornalista, que, vaidoso, trocou de camisa três vezes durante o dia. Kiyomi Nakamura, jornalista da produtora japonesa Express, é vítima dos repórteres brasileiros. Eles ensinaram a ela que "boiola" (que é sinônimo de homossexual) quer dizer "bonito", e Kiyomi repete: "Boiola, boiola".
 
Os jogadores vão chegando para o treino e dão uma paradinha na chamada "zona mista", onde profissionais da imprensa têm acesso aos boleiros. "Como o Peru vai entrar nesse jogo?", indaga um radialista. "O Peru é duro?", lasca outro. Custa um pouco, mas depois de muitas risadinhas o lateral esquerdo Junior percebe o duplo sentido da pergunta. "É um adversário duro, temos que respeitá-lo. Mas vamos fazer de tudo para sair com um resultado positivo."
 
Os jogadores entram em campo em duplas ou em grupinhos de três ou quatro. "Alex, cabeção!", grita um torcedor do alambrado. O jogador balança a cabeça, não gostou do "elogio". "Diego, manda um beijinho para mim!", grita a menina de uns 15 anos. Ele manda. Bola rolando, os fotógrafos procuram os melhores ângulos -com um olho no campo e outro no portão de entrada para a granja, à espera de Ronaldo.
 
A BMW prateada do Fenômeno cruza os portões às 14h20, uma hora antes do treino.

VEM PARA MIM
O carro passa batido para o casarão no alto de um morro onde estão os aposentos dos jogadores (ficam dois em cada quarto, de decoração simples, com TV, DVD e, em alguns, videogame de última geração). A presença da imprensa lá é proibida -ou quase: a coluna entrou e fotografou tudo.
 
Ronaldo trouxe o amigo de infância Aloísio Ferreira, o Borracha, com quem começou a jogar futebol, em Bento Ribeiro. "Eu jogava e ele me copiava", diz o modesto Borracha (veja entrevista no quadro). Três e meia da tarde. Os jogadores se apresentam ao técnico Parreira à beira do campo. Quem já está lá, à espera de seu ídolo, Kaká, é Barbara do Vale, 13. Ela diz que passou a seguir a religião evangélica por causa do jogador. "Minha mãe só me deixou faltar à escola hoje porque é um motivo nobre", diz a menina, entremeando as frases com "ai, ele é muito lindo".
 
Depois de uma entrevista para a TV, Kaká passa ao lado da fã. Ela segura o craque pelo braço e cochicha em seu ouvido: "Larga a Carol e vem para mim". Caroline Celico, filha de Rozângela Lyra, diretora da Dior no Brasil, é namorada de Kaká. A quem interessar possa: a grande novidade no treino desse dia é que o meia atacante jogou entre os titulares na posição que é de Ronaldinho Gaúcho.
 
Fim de tarde, o sol se põe em Teresópolis. Os jogadores seguem de van para seus aposentos -poderiam ir de escada, mas, como são muitos degraus, um carro faz o percurso, poupando-os do esforço. No cronograma ainda estavam previstos jantar, reunião às 20h e lanche às 22h30. O toque de recolher é sempre às 23h. No dia seguinte começa tudo de novo. Dessa vez, com Ronaldo presente já no café da manhã.

bergamo@folhasp.com.br

COM CLEO GUIMARÃES (reportagem), ALVARO LEME E LUCRECIA ZAPPI



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