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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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O ESTRANGEIRO

Taiwanês faz últimos painéis do Marabá

"Quem pinta sou eu, mas ninguém sabe"

DA REPORTAGEM LOCAL

Ling Hu Cheng, 53, é um estrangeiro. O fato de ter nascido em Taiwan e viver no Brasil é a porção mais óbvia dessa condição, mas não é a única nem tampouco a mais expressiva.
Seu ofício, por exemplo. Ling ganha a vida a pintar enormes painéis para o Marabá, no centro de São Paulo. O cinema é o único da região, provavelmente da cidade, que continua a anunciar os filmes em cartaz com pinturas na fachada.
Os painéis, compostos de seis telas conjugadas, medem 13 m x 3 m e levam de dois a três dias para serem pintados. Finda a tarefa, Ling só volta à ação quando o filme em cartaz está prestes a ser substituído.
Não assina a obra e recebe com desilusão o anonimato: "Quem pinta sou eu, mas ninguém sabe, ninguém conhece".
Faz isso há 38 anos. Começou aos 15, em Taiwan. Aos 18, chegou a Curitiba. Mudou-se para São Paulo em 1975. Há 35 anos no Brasil, não perdeu o forte sotaque, que cria o "Malabá".
Funcionário da Playarte, precisa de uma autorização para dar entrevistas. "Ele é uma pessoa humilde, de outra geração", tenta justificar a empresa.
Ling é alheio ao que se passa na Playarte. Não tem nem idéia do que será feito do lugar de onde tira o sustento. "Não sei o que vai acontecer. Reformar é bom, fica tudo novo. Eu gostaria", diz, sem saber que o multiplex enterrará sua função.
Budista -um pequeno altar enfeita sua oficina na avenida São João-, o artista talvez consiga assim realizar seu sonho: fazer esculturas de bambu com desenhos de dragão. (FV)

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