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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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TELEVISÃO

Com atores amadores, o cineasta Jorge Furtado mistura obras de literatura a documentário, em nova série da Globo

"Cena Aberta" tenta levar ficção à vida real

Divulgação
Militares investigam nave alienígena em cena da série "Taken", produzida por Steven Spielberg


CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO

Para conseguir o papel de Macabéa, a protagonista do conto "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, duas atrizes amadoras disputaram a personagem com duas faxineiras e três donas-de-casa, todas nordestinas. No final, a história foi contada com as sete Macabéas: os diálogos encenados nos testes para o papel entraram na edição da peça, que vai ao ar nesta terça-feira na Globo, após o "Casseta & Planeta".
"Nosso objetivo é devolver a história ao seu contato da vida real que a originou. Para "A Hora da Estrela", pegamos meninas que de alguma maneira têm histórias parecidas com a da Macabéa original", explica o cineasta Jorge Furtado, um dos realizadores de "Cena Aberta", especial da Globo em cinco episódios que tem início nesta semana.
"Cena" é produzido em parceria com a Casa de Cinema de Porto Alegre, da qual Furtado é um dos sócios. A idéia é encenar textos de grandes autores e, numa mistura de ficção com documentário, mostrar como é a produção dessas histórias para a televisão, a escolha dos atores, os ensaios, a direção etc.
"Queríamos contar a história e documentar a maneira como se faz, todo o trabalho que fica escondido na hora de ir ao ar. Porque às vezes é tão ou mais interessante do que a própria história", explica Furtado, que assina o programa com Guel Arraes, diretor de núcleo da Globo, e Regina Casé, que faz as vezes de atriz, diretora e apresentadora.
"Mas não é um making of. O documentário só entra quando ele serve para a realização da ficção", afirma Furtado, que se diz satisfeito com o novo trabalho na televisão. "Acho que a TV sempre precisa de coisas diferentes, ela pode ter projetos de qualidade. Eu gosto muito de fazer televisão", diz o cineasta, que recentemente fez o longa "O Homem que Copiava". "São 150 milhões de brasileiros que vêem TV, a maioria não vai ao cinema. É elitista eu só querer produzir para os meus amigos, para a minha classe."
Para filmar as cinco histórias -há ainda "Negro Bonifácio", de Simões Lopes Neto, "As Três Palavras Divinas", de Leon Tolstói, "Pigmalião", de Bernard Shaw, e "Folhetim", baseado em "A Ópera de Sabão", de Marcos Rey, a equipe escolheu locações com as mesmas características das descritas nas histórias e ainda "atores" cujas histórias pessoais tivessem ligação com as da ficção.
O conto de Tolstói, por exemplo, foi filmado em uma comunidade católica no Rio Grande do Sul. Com exceção de Regina Casé e Luiz Carlos Vasconcelos, todos os outros participantes eram moradores da cidade.
"Houve atores que já estavam contratados para certo papel, e a gente ligou de lá avisando que não precisava mais ir", conta Guel Arraes. Furtado explica: "Quando entraram as pessoas de verdade, mudamos tudo. Porque vimos que não dava para escolher alguém que não tivesse a ver com a história".


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