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Peça retrata indivíduo em conflito com valores
Samir Yazbek evoca heterônimos de Pessoa ao narrar passagem à idade adulta
Direção abusa da repetição para jogar com o tempo das cenas; peça tem cenários e figurinos com elementos cubistas e simbolistas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O metateatro é recurso comum nas peças de Samir Yazbek, 40. A premiada "O Fingidor" (1999), por exemplo, encontrou terreno fértil ao lidar
com Fernando Pessoa, o poeta
dos heterônimos.
No drama "Diálogo das Sombras", o autor paulista pretende
radicalizar o que entende como
contradições dos papéis que o
indivíduo representa diante do
outro nas relações pessoais e
sociais.
A obra vem a público hoje, no
Sesc Paulista, sob encenação de
Maucir Campanholi.
Pai, mãe, tio, namorado e
amiga, todos dão "sermões" sobre os rumos de uma jovem estudante (interpretada por Rubia Reame), em crise no rito de
passagem para a vida adulta,
pressionada a trabalhar e corresponder às expectativas daqueles que a cercam.
Yazbek fala em "reencenação
da vida" a que todos os envolvidos na história são submetidos.
Cabe ao tio (Hélio Cícero), um
homem de negócios, capitanear um misterioso ritual em
que as máscaras incitariam cada um a encontrar suas "pequenas verdades", não raro em tom
moralista.
"Com essa peça, talvez pela
primeira vez, consegui fazer
uma ponte entre o individual e
o social. Tento compreender
como essa jovem foi formada,
que valores determinaram o
seu caráter; o que fizeram dela
e o que ela está fazendo consigo
mesma", diz Yazbek.
Num exercício que pretende
ser polifônico, o autor rebate a
crítica recorrente ao comportamento individualista na sociedade contemporânea.
O diretor Campanholi diz jogar com os tempos das cenas,
pela fragmentação e pela repetição de trechos. As opções funcionam como eco dos acontecimentos ou como memória.
Recorre a projeções de imagens cubistas dos locais em que
a ação transcorre, reforçando o
espaço cenográfico que co-assina com Isabelle Bittencourt.
São dela os figurinos com elementos realistas e simbolistas.
Também atuam em "Diálogo
das Sombras" Eduardo Semerjian (pai), Maristela Chelala
(mãe), Duda Mattos (namorado) e Júlia Corrêa (amiga).
Com essa montagem, o trio
Yazbek, Cícero e Campanholi
consolida a Companhia Teatral
Arnesto nos Convidou, homenagem ao universo do compositor Adoniran Barbosa.
DIÁLOGO DAS SOMBRAS
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista,
119, tel. 3179-3700)
Quando: estréia hoje, às 19h30; sex.
a dom., às 19h30; até 16/12
Quanto: de R$ 5,50 a R$ 20
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