São Paulo, Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999


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O VÍDEO - "WESTWAY TO THE WORLD"
Banda senta no sofá

ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha


"Westway to the World", o documentário sobre o grupo The Clash que chegou às TVs cortado, mas vai ter versão integral em vídeo a ser lançado, é um tremendo balde de água fria. O filme sofre de um mal que nunca afligiu a banda: tem muito papo e pouca ação.
O diretor, Don Letts, conhece como poucos o Clash: nos idos de 76, ele discotecava nos principais clubes punks de Londres. Letts ensinou o baixista Paul Simonon a gostar de reggae e virou amigo de Mick Jones e Joe Strummer.
Durante anos ele acompanhou o Clash pelo mundo, câmera super-8 em punho, documentando a banda que muitos consideram a maior de todos os tempos.
Letts tornou-se cineasta, fez vários filmes sobre o movimento punk e acabou parceiro de Mick Jones no Big Audio Dynamite.
Um currículo e tanto. Mas em "Westway to the World" ele errou a mão. O documentário é verborrágico, chato e arrastado, adjetivos nunca associados ao Clash.
Todo roqueiro que se preza sabe que, em cima de um palco, ninguém chegava perto do Clash. Seus shows, mistura de comício político e festa punk, eram incendiários e terminavam invariavelmente com a banda prostrada no chão do camarim, exausta, respirando por balões de oxigênio.
O Clash tinha uma missão: fazer do rock um veículo de transformação da sociedade, escrever música para as massas e sobre as massas. Utópico, sem dúvida.
Mas, durante seis anos, o Clash viveu essa utopia como se realmente pudesse mudar o mundo. Ou como disse um velho jornalista inglês: "O Clash era a única banda capaz de convencer um garoto a largar sua vidinha burguesa e juntar-se aos sandinistas".
O filme é careta como o grupo nunca foi. Em vez de mostrar a banda no palco, Letts pôs os sujeitos num estúdio, sentados, divagando sobre a história da banda.
Ora, essa é a banda que lançou seis discos em seis anos, incluindo um disco duplo e um triplo; que fez 16 shows seguidos no mesmo clube em Nova York para satisfazer os fãs que não haviam conseguido ingressos para os sete shows previstos originalmente; a banda que injetou reggae e ska na monolítica música punk.
O Clash nunca ficou parado. Quando pararam um pouco para descansar, acabaram por tédio.
Tudo que Joe Strummer, Mick Jones e Paul Simonon tinham de interessante para dizer, disseram num disco ou em cima de um palco e não sentados num sofá.
Um filme sobre o Clash, portanto, precisa mostrar a banda tocando ao vivo. E "Westway to the World" tem muito pouco disso. As raras cenas de shows, embora fantásticas, são curtas, e deixam o espectador frustrado.
Há imagens impressionantes, como as do famoso show antinazista no Victoria Park, mas duram apenas o suficiente para deixar você com água na boca. Segundos depois, Letts corta para alguma entrevista em que os quatro contam pela enésima vez alguma história batida. Didatismo nunca combinou com punk rock.
Nada é melhor do que ver o Clash no palco: Topper Headon no fundo, espancando a bateria como se o mundo estivesse prestes a acabar; Paul Simonon na direita, apontando o baixo para o público tal qual uma metralhadora; Mick Jones na esquerda, imitando os movimentos de Jimmy Page e Keith Richards; e, no centro, Joe Strummer, o general, convocando suas tropas para mudar o mundo.


Avaliação:   

Vídeo: Westway to the World Banda: The Clash Diretor: Don Letts Lançamento: CBS Quando: a versão integral já saiu na Europa; uma versão editada poderá ser exibida pelo canal Film & Arts, da TVA/ DirecTV, nos dias 29 (23h) e 30 de dezembro (7h e 15h)


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