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O VÍDEO - "WESTWAY TO THE WORLD"
Banda senta no sofá
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
"Westway to the World", o documentário sobre o grupo The
Clash que chegou às TVs cortado,
mas vai ter versão integral em vídeo a ser lançado, é um tremendo
balde de água fria. O filme sofre de
um mal que nunca afligiu a banda: tem muito papo e pouca ação.
O diretor, Don Letts, conhece
como poucos o Clash: nos idos de
76, ele discotecava nos principais
clubes punks de Londres. Letts
ensinou o baixista Paul Simonon
a gostar de reggae e virou amigo
de Mick Jones e Joe Strummer.
Durante anos ele acompanhou
o Clash pelo mundo, câmera super-8 em punho, documentando
a banda que muitos consideram a
maior de todos os tempos.
Letts tornou-se cineasta, fez vários filmes sobre o movimento
punk e acabou parceiro de Mick
Jones no Big Audio Dynamite.
Um currículo e tanto. Mas em
"Westway to the World" ele errou
a mão. O documentário é verborrágico, chato e arrastado, adjetivos nunca associados ao Clash.
Todo roqueiro que se preza sabe que, em cima de um palco, ninguém chegava perto do Clash.
Seus shows, mistura de comício
político e festa punk, eram incendiários e terminavam invariavelmente com a banda prostrada no
chão do camarim, exausta, respirando por balões de oxigênio.
O Clash tinha uma missão: fazer
do rock um veículo de transformação da sociedade, escrever
música para as massas e sobre as
massas. Utópico, sem dúvida.
Mas, durante seis anos, o Clash
viveu essa utopia como se realmente pudesse mudar o mundo.
Ou como disse um velho jornalista inglês: "O Clash era a única
banda capaz de convencer um garoto a largar sua vidinha burguesa
e juntar-se aos sandinistas".
O filme é careta como o grupo
nunca foi. Em vez de mostrar a
banda no palco, Letts pôs os sujeitos num estúdio, sentados, divagando sobre a história da banda.
Ora, essa é a banda que lançou
seis discos em seis anos, incluindo
um disco duplo e um triplo; que
fez 16 shows seguidos no mesmo
clube em Nova York para satisfazer os fãs que não haviam conseguido ingressos para os sete
shows previstos originalmente; a
banda que injetou reggae e ska na
monolítica música punk.
O Clash nunca ficou parado.
Quando pararam um pouco para
descansar, acabaram por tédio.
Tudo que Joe Strummer, Mick
Jones e Paul Simonon tinham de
interessante para dizer, disseram
num disco ou em cima de um palco e não sentados num sofá.
Um filme sobre o Clash, portanto, precisa mostrar a banda tocando ao vivo. E "Westway to the
World" tem muito pouco disso.
As raras cenas de shows, embora
fantásticas, são curtas, e deixam o
espectador frustrado.
Há imagens impressionantes,
como as do famoso show antinazista no Victoria Park, mas duram
apenas o suficiente para deixar
você com água na boca. Segundos
depois, Letts corta para alguma
entrevista em que os quatro contam pela enésima vez alguma história batida. Didatismo nunca
combinou com punk rock.
Nada é melhor do que ver o
Clash no palco: Topper Headon
no fundo, espancando a bateria
como se o mundo estivesse prestes a acabar; Paul Simonon na direita, apontando o baixo para o
público tal qual uma metralhadora; Mick Jones na esquerda, imitando os movimentos de Jimmy
Page e Keith Richards; e, no centro, Joe Strummer, o general, convocando suas tropas para mudar
o mundo.
Avaliação:
Vídeo: Westway to the World
Banda: The Clash
Diretor: Don Letts
Lançamento: CBS
Quando: a versão integral já saiu na
Europa; uma versão editada poderá ser
exibida pelo canal Film & Arts, da TVA/
DirecTV, nos dias 29 (23h) e 30 de
dezembro (7h e 15h)
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